segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O BANHO DE ARQUIMEDES.

Todos nós conhecemos a famosa cena em que Arquimedes descobre a densidade específica dos corpos resolvendo um régio caso policial: o rei de Siracusa havia dado um quilo de ouro 24 Kilates para um ourives fazer uma coroa e, após a entrega, suspeitava que ele, o artesão, havia substituído parte do ouro por prata; mas o trabalho era belíssimo. Como descobrir a fraude sem destruir as filigranas e arabescos tão bem esculpidos? Arquimedes foi incumbido de resolver o enigma.
Após um longo dia fervendo os miolos para descobrir, Arquimedes resolveu tomar um banho. Ao mergulhar o seu corpo na banheira, parte da água transbordou para o piso. Arquimedes percebeu na hora duas coisas: a primeira era que todo corpo mergulhado na água desloca uma quantidade desta igual ao volume mergulhado. Se mergulho um metro cúbico, deslocarei o mesmo metro cúbico; a segunda... Se partes da coroa foi substituída por prata, sendo esta mais leve, um volume de prata maior foi utilizado para manter o peso da coroa em um quilo, conforme a encomenda feita. Era só mergulhar um quilo de ouro em uma bacia cheia de água até a borda, medir a água derramada e depois fazer o mesmo com a coroa, e então, comparar os dois volumes. Se a coroa deslocar mais água, como de fato aconteceu, estava comprovado a fraude. Foi isso que fez Arquimedes sair correndo nu da casa de banhos gritando pelas ruas: EUREKA! EUREKA! Que em grego significa: Achei! Achei!

Sintomático que ele tenha descoberto isso após um dia inteiro matutando no problema, e que a solução viesse ao mergulhar na água do banho. Mantida as proporções, isso é algo muito comum a todos nós. Pensamos bastante na solução de um problema sem conseguir resolvê-lo. Então o deixamos de lado, mas uma parte do nosso espírito (ou cérebro, como queiram) prossegue perseguindo a questão como um obstinado caçador que, após o por do sol, segue os rastros de uma lebre com uma lanterna. Acontece então, ao relaxarmos a nossa atenção e afrouxar os laços sensoriais com o mundo ao nosso redor, da solução do problema aparecer como um passe de mágica em nossa surpreendida consciência. Talvez até, a nossa mente inconsciente já houvesse há muito resolvido o problema e esperava o momento certo de lha apresentar. Esse momento do relaxamento no banho de Arquimedes era algo tão essencial para a solução como os raciocínios que sua mente andara fazendo secretamente. É como se o relaxamento fosse um mergulho da mente no universo inconsciente da nossa alma e que as verdades, a sabedoria que esse plano transborda, seja proporcionais ao grau de imersão (são famosas as câmeras de isolamento absoluto onde pesquisadores colocavam voluntários sedados para dormirem lá dentro, absolutamente desligados do entourage, e o que eles relatam terem sonhado arrepiariam seus cabelos {Ken Russel chegou a rodar um filme sobre essa experiência fantástica}). Seja o inconsciente das ficções psicanalíticas, seja a memória ontológica do Bergson, seja o que eu chamo de “mundo madornal”, certo é que um oceano permeia a barca em que viajamos e essa cabeça dura que você possui, caro leitor, é o casco impermeável que impede a água penetrar e lhe mantêm frívolo, flutuando na superfície, sem saber das sereias e do seu canto de sabedoria a dormitar no pélago profundo!
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