O ensino de filosofia que a gente conhece no
Brasil é muito parecido com um treinamento para estagiária de biblioteca, você
ensina as pessoas o nome dos filósofos, a época que viveram, as escolas a que
pertence - que seriam as prateleiras, no caso - e para ela ajudar a fazer a
ficha catalógraficazinha você dá a ela um ou dois conceitos, dialética de
Hegel, inconsciente de Freud e é só, esse tipo de aula eu jamais faria, vocês
pesquise, o Google está ai pra isso, eu já vou direto ao problema, certo? E mesmo
quando você aborda as filosofias de um modo incisivo, instalando no coração de
um problema filosófico tem a questão também da didática, você precisa saber até
que ponto você pode ser didático, por que, as ideias - e aqui Platão foi
perfeito quando estabeleceu isso -, elas conhecem graus de participação, elas
participam das coisas, mas não na sua integridade, as ideias elas tem - e aqui
vários filósofos vieram depois confirmar isso -, uma zona de indeterminação
(Bérgson dizia isso), elas são indiscerníveis, como Leibniz dizia,... Então as
ideias tem uma franja que só o verdadeiro proprietário das ideias é que as
possui integralmente, então quando você tenta dá aula em excesso, ser didático
demais, você acaba distorcendo as ideias por que eu mesmo como professor de
filosofia eu não tenho a propriedade absoluta das ideias, eu tenho dos
conceitos, conceitos é minha praia, mas ideias..., então eu vou tentar dá uma
aula conceitual, para ficar mais fácil do ponto de vista didático.
Entrando
em um problema qualquer que eu pensei a pouco, a princípio. Um conhecido meu
aqui, dentro de uma livraria de conquista, me abordou sobre religião e ciência,
e ele foi defender Charles Darwin e usou um argumento muito elegante, muito
profundo, que o Charles Darwin na teoria da evolução, no livro Origem das
espécies, usa: um exemplo famoso o qual eu repetirei aqui, que seria uma
eventual prova da evolução das espécies até o homem, da filiação do homem a
espécimes mais involuidas e anteriores; todo mundo conhece a tese, sobre o feto
humano conhecer em seu desenvolvimento, na sua ontogênese (ontogênese aqui,
dentro do contexto da biologia, significa a evolução do individuo, de um
espermatozoide até um homem completo). Então na ontogênese do indivíduo, o feto
vai passando por diversas fases que são extremamente semelhantes a espécimes
menos evoluídas, assim o feto tem um fase em que ele é um girino, depois um
peixe mais evoluído com o embrião grande da cauda, depois ele é um réptil,
depois tem um formato do primata e finalmente ele ganha a forma humana, e por
outro lado a história natural da evolução das espécies aponta essas diversas
fases, então ele achou e Darwin também achou e todo cientista acha isso, que
esta é uma prova contundente de que haja um paralelo, de que a ontogênese explica
a filogênese (a filogênese é a história da evolução das espécies, dos filos e a
ontogênese é a evolução do individuo), então resumindo a tese de Charles
Darwin, que eu acho uma tese capital da obra dele é, “a ontogênese imita a
filogênese”, muito bem, a questão dessa aula aqui é ver se esse pensamento é
refutável ou não.
Eu
vou começar dizendo que esse tipo de pensamento é classicamente uma analogia. A
analogia é um modo de pensamento onde você trabalha com semelhanças e a
analogia ela pode ser considerado num primeiro momento como uma inferência,
como aponta o filosofo inglês (John) Stuart Mill, que deixa claramente que a
analogia é um modo de pensamento chamado de inferência aonde através do
conhecimento de duas ou três coisas semelhantes você conhece um quarta, quinta
ou sexta pelo critério de semelhança (também é um pensamento débil, veremos
depois). Existem dois tipos de analogia, que seria a analogia de atribuição ou
proporção e a analogia de proporcionalidade, isso em São Tomás, eu estou usando
isso aqui como referencial. A analogia de atribuição é um tipo de analogia onde
você vai encontrar entre os termos comparados uma identidade essencial, que
serve de fundamento, que serve de validação da analogia, por exemplo, de modo
claro a analogia é comparada a uma relação de proporções, uma equação, ou seja,
são análogas frações cujos resultados são análogos, três está para seis assim
como quatro está para oito, então eu conhecendo os três, o seis e conhecendo
quatro, eu descubro os oito, esse é um tipo de analogia que é uma inferência e
é um tipo de conhecimento que no caso aqui é uma inferência de atribuição ou
proporção por que ela tem uma identidade, que identidade seria essa? Quando
você pega qualquer uma dessas frações quaisquer e fatora, multiplica ou divide
por outro numero você vai encontrar outra fração qualquer com dois termos
idênticos, um em cada fração. Nesse exemplo que eu montei aqui eu vou
multiplicar a segunda fração (4/8) por 1,5 e terei 6/12 então passar a existir
um mesmo numero entre as duas comparações mantendo a mesma identidade entre
elas, a saber, 3/6 = 6/12. Revelado assim uma analogia contendo uma identidade,
uma igualdade entre os termos comparados (seis nas duas frações) que funciona
como um crivo de veracidade e que permite eu ter a certeza de que aquela
analogia é verdadeira, é um tipo de analogia de atribuição onde eu posso
raciocinar com essa garantia que eu tenho um chamado ‘Grande Analogon’, esse
Grande Analogon é o crivo, o critério de verdade da analogia. Paralelamente a essa
eu tenho outro tipo de analogia, que é uma analogia pautada em qualidades e em
acidentes onde a semelhança é externa e perfunctória, ela é superficial, esse
tipo de analogia ela é simplesmente metafórica, por que ela não possui o
‘Grande Analogon’, por exemplo, os clássicos exemplos da inferência que nós
conhecemos, “Eu digo o ferro tem propriedades magnéticas, ferro é metal;
alumínio tem propriedades magnéticas, alumínio é metal; cobre tem propriedades
magnéticas, cobre é metal; logo todo metal tem propriedades magnéticas”, isso é
uma má analogia porque o ouro é metal e não possui propriedades magnéticas,
tanto assim que o ouro é usado como isolante magnético nos capacitores na
eletrônica, isso significa que eu fiz a analogia baseado em acidentes e não na
essência, então nesses dois tipos de analogia uma é de natureza cientifica
rigorosa, que obedece aos rigores da lógica, as exigências da atribuição e da
essência, e outra analogia que é metafórica. Essa analogia é fonte de erros
terríveis e o grande culpado em difundi-la foi São Tomás. Vamos ver depois como
São Tomás, ao legitimar, ao dizer que o ser era análogo, trouxe para o coração
da filosofia e da ciência o conceito de analogia como recurso par excellence de
pensar, como isso permitiu que analogias de proporcionalidade, que são as
analogias delirantes da imaginação tomasse conta do mundo. Eu vi esses dias,
por exemplo, a secretaria do audiovisual do ministério da cultura Ivana Bentes,
minha amiga, fazendo reflexões sobre o Brasil moderno, sobre o ódio que
existiria pela esquerda, e ela começou a falar sobre o retorno do recalcado,
começou a usar de modo até zombeteiro, usando critérios da psicologia para
pensar o fenômeno social e isso que ela fez, está desautorizada, pois não se
pode pegar conceitos da psicologia e aplicar em fenômenos sociais, isso é uma
analogia de proporcionalidade e não é só ela que faz isso, todo mundo faz, você
veja aquele escritor famoso, Slavoj Žižek, ele adora isso, ele apanha teses de
Lacan, de Freud e sai aplicando na politica, na primavera Árabe, nas revoluções
pela história e isso não pode, não tem um GRANDE ANALOGON, não tem o critério
de identidade substancial entre um fenômeno e outro. Slavoj Žižek ao fazer esse
tipo de comparação ele peca contra um dos dogmas fundamentais da dialética, da
qual ele é herdeiro e defensor confesso, da dialética Hegeliana que é a questão
das modificações qualitativas, que é aquela velha formula, de que a quantidade
gera a mudança de qualidade, então se eu tenho indivíduos com psicologias científicas
Freudianas, Lacanianas e etc., se eu tenho indivíduos que vão juntando até
formar uma massa, necessariamente essa variação quantitativa deve gerar uma
mudança qualitativa que descaracteriza a psicologia enquanto ciência do
individuo. O que Zizek está usando, que a Ivana Bentes também no caso usou, são
critérios do individuo usados no social, inclusive, posteriormente, eu vou
explicar isso, o próprio Aristóteles desautoriza a ciência do individuo, por
que o individuo é substância primeira, ele não pode ser atribuído à outra
substância, ele não pode ser discurso, ele é a matéria primeira, isso será em
outra aula, o como e o porquê da psicologia seria uma literatura e uma
especulação e não um saber. A consciência do individuo ela é irredutível, por
que ela é substância primeira da qual você pode dizer coisas, mas você não pode
usar ela para ser dita de outra, ela não pode ser substância segunda, ela não
pode ser tema de atribuição, eu não posso dizer algo e usar você para explicar
mais nada, você é o objeto ultimo da explicação, então eu não posso através do
conhecimento empírico que eu tenho, que eu venha a ter sobre você em uma
clinica, um divã, eu não posso aplicar isso em mais ninguém, por que as
substâncias são individuais, então nada autoriza, eu não teria aqui um Grande
Analogon para fazer a analogia, nem conhecimento analógico você pode fazer.
A
psicologia para fazer o diagnóstico de um individuo atribui conceitos
universais a um individuo, e isso é plausível, mas não se pode pegar o individuo
e atribuir ele a outro, então características de um individuo não pode ser
universalizado, isso é óbvio, a própria intuição do dia-a-dia sabe disso, «
ninguém é a igual a ninguém «, eu sei que você sabe que você é diferente de
mim”.
A
analogia refutada, de modo muito relapso ainda, muito acelerado, foi essa tese
fulcral do Charles Darwin, afirmando a similitude entre filogênese e
ontogênese. Isso é uma analogia metafórica, é uma analogia de
proporcionalidade, é um floreio. É um recurso estilístico, persuasivo, que
convenceu muita gente, por que tem seu encanto, a sua realidade, mas não pode
ser considerada ciência, nem é uma prova científica, tanto que a teoria da
evolução ainda é uma teoria não é uma lei, é lei quando é irrefutável, quando é
comprovado.
Depois
quando eu falei aqui em da analogia de atribuição eu posso emendar isso aqui e
desenvolver um pouco mais falando o que significa a atribuição, a atribuição é
você atribuir um predicado a um sujeito, é você dizer que A é B, que a casa é
amarela, que o céu é azul, e saber, entre essas atribuições, quais delas seriam
rigorosas e verdadeiras e quais delas seriam pertinentes, quais seriam meros
acidentes. Existem atribuições que você usa hoje que não pode usar amanhã, por
exemplo, “hoje está chovendo” amanhã não posso dizer mais isso, por que vai
está fazendo sol, então existem atribuições que dizem respeito aos acidentes, e
aqui teria que se conhecer as definições do ser de Aristóteles que são de
quatro maneiras, o ser enquanto potência, enquanto ato, enquanto essência e
enquanto acidente, então enquanto potencia e enquanto ato, {não vamos abordar
aqui as duas primeiras maneiras} elas são duas maneiras de falar do ser, que
para São Tomás de Aquino vão ser a natureza profunda do real, não vai haver um
único ser para as coisas todas, não é como Parmênides, que dizia que o ser era
um só.
Quando
se fala do ser como acidente não está se falando de ciência, a ciência é o
discurso da essência daquele ser, quando se fala do ser das coisas e não dos
acidentes, precisa-se usar um tipo de raciocínio próprio para falar do ser, um
discurso próprio da ciência, que é o discurso racional, a predicação que se
chama silogismo, que é uma forma racional do discurso que é diferente da
literatura, da poesia, da crônica, a ciência se difere por que usa de
enunciados que são construídos com um tipo especifico de raciocínio, que é o
silogismo ou raciocínio, silogismo na linguagem e raciocínio no pensamento.
Você tem no plano da linguagem o termo, por exemplo, a palavra o homem, em
seguida se tem a proposição que é uma atribuição qualquer, por exemplo, o homem
é mortal, e depois se tem o silogismo, por exemplo,
“Sócrates
é homem,/ Todo homem é mortal,/ Logo, Sócrates é mortal.”
Então
essa terceira expressão é o silogismo, que é a forma de um arremate da
conclusão, inclusive só a guisa de explanação e de erudição, o termo silogismo
vem do grego Syllogismói e quer dizer ramalhete, então quando você faz um
silogismo, você organiza aquilo que você colheu antes no termo e na proposição,
então pensar para o grego é como colher flores no jardim, o pensamento
cientifico para o grego é exatamente isso, é pegar termos, formular proposições
e fazer o silogismo, que é o acabamento, o arremate, o ramalhete, ou seja, as
ideias enramalhadas em ramos, por um lado no pensamento você tem conceitos...
Assim
eu fiz a divisão escolástica entre termo, proposição e silogismo na linguagem e
conceito, juízo e raciocínio no pensamento, então quando eu estou trabalhando
com a linguagem eu falo termos, eu faço uma atribuição simples que é a
proposição e depois eu organizo essas afirmações proposicionais na forma de um
silogismo, falei que silogismo vem do grego Syllogismói, que quer dizer
ramalhete, uma espécie de formatação, de arranjo e no plano do pensamento você
tem os conceitos, os juízos e os raciocínios que é uma operação com juízos
atribuindo algo de modo verdadeiro ou falso. Esse raciocínio é o que fundamenta
o discurso científico. Diferente do discurso poético, do discurso mítico,
religioso, onde você não precisa de raciocínios, nesse tipo de raciocínio você
pode testar o valor verdade a partir da analise da própria dinâmica interna do
pensamento. Voltando na aula, quando eu falei da analogia, eu falei que no
pensamento analógico, na analogia de atribuição de São Tomás de Aquino, você
procuraria dentro do próprio pensamento analógico um critério intrínseco a ele,
que seria o Grande Analogon, que possa validar ou não a analogia, se seria uma
analogia, uma boa analogia de atribuição ou uma má analogia, na verdade as duas
não prestam, a verdade é o seguinte o pensamento analógico também é um
pensamento torpe, só que é como os dois ladrões na cruz tem o ladrão bom, que
vai pro céu, e o ladrão ruim, então aqui nesse momento Cristo seria o discurso
da univocidade, a verdade (nós vamos chega lá, depois no futuro, a falar do
discurso unívoco, não no sentido de Parmênides em quem a univocidade
interditaria o discurso). Aqui vamos tentar pensar em um discurso que fala das
coisas e que é permitido falar, isso aqui está em Bérgson, mas tudo bem, nós
temos no momento duas analogias, uma que eu estou trabalhando que é analogia
boa que é a de proporção ou atribuição e a analogia de proporcionalidade,
então, na analogia que eu trabalhei, existe critérios realistas intrínsecos ao
discurso, que valida ela que é o GRANDE
ANALOGON (falei isso no começo, e no raciocínio cientifico, respondendo a
sua questão de como se faz ciência dos indivíduos), existe esse critério, que é
o critério intrínseco ao modo do
silogismo, assim como as inferências que eu falei, as analogias, o raciocínio
também é um modo de pensamento, escolhido, eleito, como o modo de pensamento
cientifico por excelência e quando você atribui de modo essencial e faz ciência
com isso, quando usa esse tipo de raciocínio - olha que interessante isso -,
quando você raciocina de modo cientifico usando esse modelo do silogismo, o que
acontece? Se você for analisar as partes do silogismo, você vai encontrar nas
partes do silogismo uma identidade, que é o chamado termo médio. Quero mostrar que o critério de verdade implícito no
raciocínio seria a questão da existência de um termo médio, isso é lógica
exata, apesar de eu está falando de termos de linguagens avulsos, uma coisa
acaba sendo uma coisa só. O termo médio no silogismo, ele é um termo que
permite que você ligue o termo menor ao termo maior, então eu tenho o
raciocínio, clássico, “Todo homem é
mortal”/ Sócrates é homem,/ “Logo, Sócrates é mortal.” Então o termo médio
é homem, quando eu digo “Todo homem é mortal.”, mortal é o termo maior, homem é
o termo médio e Sócrates é o termo menor, então eu ligo o termo menor,
Sócrates, ao termo maior, mortal, supondo que mortal seja a essência (há
controvérsias, a gente pode ver isso depois), eu ligo o termo homem, que é a
substância primeira do termo real ao termo maior que seria a essência, a
universal, passo, portanto, a uma atribuição cientifica usando para tal o termo
médio, esse termo médio, no caso homem, permite a conexão, dentro do raciocínio
que eu tenho, ai vocês lembram agora do começo da aula quando eu disse que o
pensamento da analogia, o modo de pensar por analogia de atribuição é um tipo
de pensamento onde você encontra no interior dos termos comparados, você
encontra uma identidade, ai eu usei o exemplo das frações, essa identidade ela
é um termo médio, então vejam que eu estou abrindo o silogismo aristotélico e estou
encontrando o Grande Analogon em São Tomás, isso aqui é fabuloso, então
a analogia tem um parentesco, ela tem uma estrutura semelhante ao modo do
silogismo Aristotélico, por isso que Aristóteles aplica o silogismo para fazer
a ciência conhecendo o real e São Tomás vai poder usar a analogia para explicar
o próprio ser, o São Tomás vai validar Aristóteles e inovar mais à frente
tirando uma conclusão que o Aristóteles não tirou, mas não estou trabalhando
isso aqui, é só a contextualização, mas o São Tomás pode fazer uso da analogia
para pensar o ser por que ele extrai essa analogia do próprio modo do discurso
cientifico com o qual Aristóteles pensou o ser, pensou o Real. O Aristóteles,
como eu falei, pensa o ser de quatro maneiras, o ser enquanto potência; ato; essência; acidente,
recapitulando ele vai definir discursos diferentes para mostrar essas duas
modalidades do ser, discursos sobre os acidentes que é a poesia, que é o mito,
que é a história e o discurso cientifico, filosófico, aquele que trata da
essência do ser, mas para falar do ser e das coisas ele precisa ter uma teoria
da linguagem, que é a teoria da significação, essa teoria do Aristóteles visa
explicar como a Linguagem significa a realidade, por que você possui um real
formado de indivíduos, coisas, pragmas
(um termo grego para as coisas práticas), o real ele é coisificado, o real de
Aristóteles ele é individualizado, isso você vê muito claro na gramática grega,
a gramática grega ela é extremamente substantivada, é toda feita de
substantivos, os verbos são muitos pobres. Então se tem as coisas do mundo e as
coisas são infinitas, por que faz parte da natureza e você tem a linguagem que
é um instrumento humano que é finito como tudo que é humano, então a questão
que aparece aqui para o Aristóteles é, como a linguagem finita pode representar
um mundo infinito? Como eu posso falar de coisas infinitas se meu recurso para
tal é finito? Isso só é possível por que existe no mundo a semelhança, a
semelhança que permite que eu possa usar nomes comuns para coisas diversas, eu
posso usar a palavra beiju para todo tipo de farinha de goma que existe no
planeta, então já pensou se para cada pacote de beiju tivesse um nome
diferente, não ia ter linguagem que dava se para cada caroço de feijão fosse um
nome diferente. A generalização é que se permite que se faça um discurso, isso
significa que existe coisa que são semelhantes no mundo assim como existe
coisas que são diferentes, a analogia é justamente a exploração dessa
característica da natureza, você pode pensar por analogia por que as coisas são
semelhantes, elas conhecem padrões, elas conhecem ritmos, ela conhece
igualdades até, se for igualdade de qualidades e não igualdade de essência, por
que se for igualdade de essência ai cada coisa é uma diferente da outra. Então
você ao falar das coisas você usa termos que se diz de muitas coisas, são três
modos de falar das coisas, isso é na teoria da significação, no processo
psicológico de conhecimento até chegar à teoria da abstração eu vou saltar
aqui, a teoria do conhecimento de Aristóteles eu não vou entrar agora, estou
falando de como a linguagem significa o mundo, como você chegou até ideias do
mundo, como você abstraiu, como você percebeu, isso tudo eu estou deixando de
lado aqui e vou trabalhar com a significação, quando você significa as coisas.
Então na hora de significar eu vou usar palavras, nomes, para coisas que são
diversas, quando eu faço isso eu estou usando palavras, nomes que são unívocos
para coisas que são sinônimas no nome. É importante mostrar essa metodologia,
são três maneiras de falar das coisas, as coisas podem ser faladas do modo
unívoco, análogo ou equívoco, esses três andam juntos, por que a analogia ela é
um síntese da diferença com a igualdade. Na univocidade é quando você usa um
mesmo nome para várias coisas, eu falo cavalo e com isso eu estou significando
todos os cavalos que existem no mundo, eu posso dizer de outra maneira, sendo
as coisas no caso sinônimas, todos os cavalos são sinônimos no nome cavalo; eu
posso falar também de modo análogo, quando eu falo de modo análogo eu estou
usando nomes diferentes para a mesma coisa (eu estou usando conceito e nome
aqui para identificar, mas depois São Tomás separa, mas eu uso nome e conceito
para diferir uma coisa e outra), por exemplo, diante de um problema eu falo:
‘que problema’, outro fala: ‘que mistério’, o outro fala: ‘que segredo’, o
outro fala: ‘que enigma’, o outro fala: ‘que charada’, então problema, charada,
enigma, segredo, mistério são nomes e conceitos diferentes para a mesma coisa,
rebu, na verdade isso é um rebu, é racional se fazer isso, você aplica nomes diferentes,
conceitos diferentes a mesma coisa, então no caso aqui as coisas são parônimas e por fim, que é o lado problemático, você
pode falar de coisas diferentes usando o mesmo nome, por exemplo, você pode
falar: ‘Leão’, Leão a constelação, Leão animal, Leão o goleiro do time de
futebol, enfim os exemplos são muito, você tem esse terceiro modo de
atribuição, de significação, onde você fala de coisas diferentes usando o mesmo
nome, essas coisas elas são equívocas, nesse tipo de atribuição equivoca não se
faz ciência por que se usam as palavras de modo com sentido diferente, você usa
a mesma palavra para conceitos diferentes, para coisas diferentes, então quando
você vai usar o termo médio você colapsa, porque você usa uma palavra em um
sentido e depois quando usa o termo médio usa outro, por exemplo, se eu fizer
um raciocínio assim: ‘Toda cinza provem do fogo;’ ‘A nuvem é cinza; ’ ‘Logo, a
nuvem veio do fogo’. Isso não é ciência, por que eu usei o termo médio, cinza,
de modo equívoco na primeira proposição quando eu disse ‘Toda cinza provém do
fogo. ’, cinza aqui é aquele pó, o resíduo, na segunda proposição quando eu
digo ‘A nuvem é cinza.’, cinza aqui é cor, então quando você atribui de modo
equívoco a semelhança, a identidade do Grande Analogon foi rompida, então deixa
de ser um raciocínio cientifico ou nas palavras de São Tomás, deixa de ser uma
analogia de atribuição e passa a ser uma analogia de proporcionalidade, passa a
ser uma metáfora, que foi que eu fiz com esse raciocínio aqui da nuvem, é um
poema disfarçado de ciência. O importante, e aqui que é o problema na teoria da
significação de Aristóteles, é que os homens quando estiverem falando de uma
coisa devem falar daquela mesma coisa sempre, aqui é preciso haver consenso, é
preciso inclusive uma disciplina, um encaminhamento para que você seja
cientista, você não pode no meio do discurso cientifico estar mudando o sentido
daquilo que você está falando, os sofistas faziam isso, os sofistas exploravam
profundamente essa equivocidade das palavras para fazer jogos poéticos os mais
mirabolantes possíveis, mas não era, segundo Aristóteles, um discurso
cientifico, por que ele não daria a verdadeira definição da essência de uma
coisa, esse exemplo da nuvem aqui eu acabei não dando a você a definição de
nuvem, eu não fiz ciência da nuvem, você não pode achar que a nuvem vem do fogo
e fazer uma fogueira esperando conseguir uma nuvem, por que isso não foi
ciência, então a ciência é feita a partir do uso de um discurso especifico de
pensamento que é o silogismo, esse silogismo ele tem um critério de verdade
intrínseco objetivo nele mesmo que é a questão do termo médio que eu estou
comparando o termo médio - isso aqui é uma coisa minha, vocês não vão encontrar
em livro nenhum – com o Grande Analogon que é o critério de verdade da analogia
de atribuição em São Tomás de Aquino.
O
agravante das conceituações das analogias em São Tomás reside no fato que isso
permitiu que um modo flácido, torpe de pensar, que é o pensamento por analogia
ganhasse um arremedo, um simulacro, e povoasse a mente dos paspalhões, se
encontra diversos paspalhões pensando por analogia de proporcionalidade como se
estivesse pensando analogia de atribuição, de proporção, o próprio Charles
Darwin quando se encantou com esse exemplo da filogênese e da ontogênese foi um
paspalhão, por que ele devia ter um semancol e dizer: ‘isso não quer dizer
nada’, você vai ver, por exemplo, cientistas como o Curvier dizer: ‘o pulmão
está para o ar assim como a guelra do peixe está para água’, isso não quer
dizer nada, ou seja, ele queria extrair dai um sinal, ele via aí um ciclo de
uma conexão profunda », você pega, por exemplo, um olho de um polvo é tão
parecido com o olho de um ser humano que se você fizer um transplante, até que
o organismo tenha rejeição tissular o olho do polvo funciona, tão igual que é o
nosso, no entanto não temos nenhum vínculo com o polvo na suposta evolução das
espécies, significa que essas analogias são uma coincidência, ou seja, é uma
semelhança acidental, uma semelhança que não é da essência das coisas, ela é
dada superficialmente, como o exemplo que eu falei dos metais e da
eletricidade, e do Stuart Mill. Significa que você não pode ficar tirando
conclusões e esse hábito de pensar a analogia de modo plácido é o mau ladrão
que roubou o pensamento e a alma da modernidade, todo mundo ai fazendo
comparação, fazendo inferências as mais esdruxulas possíveis pautado em uma
característica elementar da vida que é o fato das coisas terem semelhanças
entre si, que nem sempre na maioria das vezes é uma semelhança de essência, é
uma semelhança acidental, ou seja, julgam por superfície, julgam por aparência.
Pronto: olha para o senso comum, o hábito de julgar pelas aparências é
justamente você pegar e identificar assim, ‘Ah, aquele cara é preto. ’ ‘Preto é ladrão. ’‘Todo
preto é ladrão. ’ Isso é um modo de analogia de proporcionalidade, o exemplo
foi pobre mais é isso que acontece, então nem as verdadeiras analogias as
pessoas fazem que é a analogia de atribuição visando procurar uma identidade. Para
terminar, mais um exemplo de analogia. Você pega uma luneta instala ela aqui,
mira ela para a lua e todo mundo olha. Cada um de nós vai para casa levando uma
lua em sua mente, essa lua de cada um de nós é uma lua equívoca, completamente
equívoca, até por que você não faz ideia de como é a lua na minha mente, - Wittgenstein
explorou muito isso, você não sabe se a dor que eu sinto é a dor sua. O
vermelho que eu vejo é o vermelho que você vê, não tem como se abrir o cérebro
e ver a sensação da consciência que é um ser transcendente – então cada lua que
levamos para casa é equivoca, a lua
mesma em si lá no céu é uma lua unívoca por que ela é idêntica a si mesmo,
então que liame haveria entre a lua e lua de nossas cabeças? A lua que está dentro da luneta, dentro da
luneta existe uma lua, que ela não é a lua em si, unívoca, mas também não é a lua
das cabeças de cada um, equívoca, ela é uma lua análoga, a lua desenhada dentro
da luneta pelas lentes, ou seja, a imagem é um Grande Analogon. Então o Grande
Analogon é uma luneta para você ver a semelhança verdadeira entre as coisas,
quando Espinosa dizia que polia lentes ele estava procurando o Grande Analogon,
quando Proust dizia leia os meus livros como se fossem óculos para ver o mundo
melhor se não prestar jogue fora, Proust estava dizendo, olha meu livro é o
Grande Analogon, é o grande critério que vocês têm para conhecer as coisas do
mundo de um modo essencial, buscando a identidade na essência que elas têm, não
na superfície, então embora agente não seja capacitado para pensar de modo
intuitivo e análogo que é diretamente no coração das coisas, isso ai só com muita
tarimba, muito exercício, agente começa seguindo o bom ladrão, como eu disse, o
bom ladrão é a analogia de atribuição, deixando de lado o mau ladrão que é a
analogia de proporcionalidade.
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