sexta-feira, 29 de abril de 2022

AULA SOBRE O CONCEITO DE ANALOGIA EM SÃO TOMAS DE AQUINO E EM ARISTÓTELES. INTRODUÇÃO.


TRANSCRIÇÃO:


Os Perigos da Analogia – São Tomás e Aristóteles
 O ensino de filosofia que a gente conhece no Brasil é muito parecido com um treinamento para estagiária de biblioteca, você ensina as pessoas o nome dos filósofos, a época que viveram, as escolas a que pertence - que seriam as prateleiras, no caso - e para ela ajudar a fazer a ficha catalógraficazinha você dá a ela um ou dois conceitos, dialética de Hegel, inconsciente de Freud e é só, esse tipo de aula eu jamais faria, vocês pesquise, o Google está ai pra isso, eu já vou direto ao problema, certo? E mesmo quando você aborda as filosofias de um modo incisivo, instalando no coração de um problema filosófico tem a questão também da didática, você precisa saber até que ponto você pode ser didático, por que, as ideias - e aqui Platão foi perfeito quando estabeleceu isso -, elas conhecem graus de participação, elas participam das coisas, mas não na sua integridade, as ideias elas tem - e aqui vários filósofos vieram depois confirmar isso -, uma zona de indeterminação (Bérgson dizia isso), elas são indiscerníveis, como Leibniz dizia,... Então as ideias tem uma franja que só o verdadeiro proprietário das ideias é que as possui integralmente, então quando você tenta dá aula em excesso, ser didático demais, você acaba distorcendo as ideias por que eu mesmo como professor de filosofia eu não tenho a propriedade absoluta das ideias, eu tenho dos conceitos, conceitos é minha praia, mas ideias..., então eu vou tentar dá uma aula conceitual, para ficar mais fácil do ponto de vista didático.
Entrando em um problema qualquer que eu pensei a pouco, a princípio. Um conhecido meu aqui, dentro de uma livraria de conquista, me abordou sobre religião e ciência, e ele foi defender Charles Darwin e usou um argumento muito elegante, muito profundo, que o Charles Darwin na teoria da evolução, no livro Origem das espécies, usa: um exemplo famoso o qual eu repetirei aqui, que seria uma eventual prova da evolução das espécies até o homem, da filiação do homem a espécimes mais involuidas e anteriores; todo mundo conhece a tese, sobre o feto humano conhecer em seu desenvolvimento, na sua ontogênese (ontogênese aqui, dentro do contexto da biologia, significa a evolução do individuo, de um espermatozoide até um homem completo). Então na ontogênese do indivíduo, o feto vai passando por diversas fases que são extremamente semelhantes a espécimes menos evoluídas, assim o feto tem um fase em que ele é um girino, depois um peixe mais evoluído com o embrião grande da cauda, depois ele é um réptil, depois tem um formato do primata e finalmente ele ganha a forma humana, e por outro lado a história natural da evolução das espécies aponta essas diversas fases, então ele achou e Darwin também achou e todo cientista acha isso, que esta é uma prova contundente de que haja um paralelo, de que a ontogênese explica a filogênese (a filogênese é a história da evolução das espécies, dos filos e a ontogênese é a evolução do individuo), então resumindo a tese de Charles Darwin, que eu acho uma tese capital da obra dele é, “a ontogênese imita a filogênese”, muito bem, a questão dessa aula aqui é ver se esse pensamento é refutável ou não.
Eu vou começar dizendo que esse tipo de pensamento é classicamente uma analogia. A analogia é um modo de pensamento onde você trabalha com semelhanças e a analogia ela pode ser considerado num primeiro momento como uma inferência, como aponta o filosofo inglês (John) Stuart Mill, que deixa claramente que a analogia é um modo de pensamento chamado de inferência aonde através do conhecimento de duas ou três coisas semelhantes você conhece um quarta, quinta ou sexta pelo critério de semelhança (também é um pensamento débil, veremos depois). Existem dois tipos de analogia, que seria a analogia de atribuição ou proporção e a analogia de proporcionalidade, isso em São Tomás, eu estou usando isso aqui como referencial. A analogia de atribuição é um tipo de analogia onde você vai encontrar entre os termos comparados uma identidade essencial, que serve de fundamento, que serve de validação da analogia, por exemplo, de modo claro a analogia é comparada a uma relação de proporções, uma equação, ou seja, são análogas frações cujos resultados são análogos, três está para seis assim como quatro está para oito, então eu conhecendo os três, o seis e conhecendo quatro, eu descubro os oito, esse é um tipo de analogia que é uma inferência e é um tipo de conhecimento que no caso aqui é uma inferência de atribuição ou proporção por que ela tem uma identidade, que identidade seria essa? Quando você pega qualquer uma dessas frações quaisquer e fatora, multiplica ou divide por outro numero você vai encontrar outra fração qualquer com dois termos idênticos, um em cada fração. Nesse exemplo que eu montei aqui eu vou multiplicar a segunda fração (4/8) por 1,5 e terei 6/12 então passar a existir um mesmo numero entre as duas comparações mantendo a mesma identidade entre elas, a saber, 3/6 = 6/12. Revelado assim uma analogia contendo uma identidade, uma igualdade entre os termos comparados (seis nas duas frações) que funciona como um crivo de veracidade e que permite eu ter a certeza de que aquela analogia é verdadeira, é um tipo de analogia de atribuição onde eu posso raciocinar com essa garantia que eu tenho um chamado ‘Grande Analogon’, esse Grande Analogon é o crivo, o critério de verdade da analogia. Paralelamente a essa eu tenho outro tipo de analogia, que é uma analogia pautada em qualidades e em acidentes onde a semelhança é externa e perfunctória, ela é superficial, esse tipo de analogia ela é simplesmente metafórica, por que ela não possui o ‘Grande Analogon’, por exemplo, os clássicos exemplos da inferência que nós conhecemos, “Eu digo o ferro tem propriedades magnéticas, ferro é metal; alumínio tem propriedades magnéticas, alumínio é metal; cobre tem propriedades magnéticas, cobre é metal; logo todo metal tem propriedades magnéticas”, isso é uma má analogia porque o ouro é metal e não possui propriedades magnéticas, tanto assim que o ouro é usado como isolante magnético nos capacitores na eletrônica, isso significa que eu fiz a analogia baseado em acidentes e não na essência, então nesses dois tipos de analogia uma é de natureza cientifica rigorosa, que obedece aos rigores da lógica, as exigências da atribuição e da essência, e outra analogia que é metafórica. Essa analogia é fonte de erros terríveis e o grande culpado em difundi-la foi São Tomás. Vamos ver depois como São Tomás, ao legitimar, ao dizer que o ser era análogo, trouxe para o coração da filosofia e da ciência o conceito de analogia como recurso par excellence de pensar, como isso permitiu que analogias de proporcionalidade, que são as analogias delirantes da imaginação tomasse conta do mundo. Eu vi esses dias, por exemplo, a secretaria do audiovisual do ministério da cultura Ivana Bentes, minha amiga, fazendo reflexões sobre o Brasil moderno, sobre o ódio que existiria pela esquerda, e ela começou a falar sobre o retorno do recalcado, começou a usar de modo até zombeteiro, usando critérios da psicologia para pensar o fenômeno social e isso que ela fez, está desautorizada, pois não se pode pegar conceitos da psicologia e aplicar em fenômenos sociais, isso é uma analogia de proporcionalidade e não é só ela que faz isso, todo mundo faz, você veja aquele escritor famoso, Slavoj Žižek, ele adora isso, ele apanha teses de Lacan, de Freud e sai aplicando na politica, na primavera Árabe, nas revoluções pela história e isso não pode, não tem um GRANDE ANALOGON, não tem o critério de identidade substancial entre um fenômeno e outro. Slavoj Žižek ao fazer esse tipo de comparação ele peca contra um dos dogmas fundamentais da dialética, da qual ele é herdeiro e defensor confesso, da dialética Hegeliana que é a questão das modificações qualitativas, que é aquela velha formula, de que a quantidade gera a mudança de qualidade, então se eu tenho indivíduos com psicologias científicas Freudianas, Lacanianas e etc., se eu tenho indivíduos que vão juntando até formar uma massa, necessariamente essa variação quantitativa deve gerar uma mudança qualitativa que descaracteriza a psicologia enquanto ciência do individuo. O que Zizek está usando, que a Ivana Bentes também no caso usou, são critérios do individuo usados no social, inclusive, posteriormente, eu vou explicar isso, o próprio Aristóteles desautoriza a ciência do individuo, por que o individuo é substância primeira, ele não pode ser atribuído à outra substância, ele não pode ser discurso, ele é a matéria primeira, isso será em outra aula, o como e o porquê da psicologia seria uma literatura e uma especulação e não um saber. A consciência do individuo ela é irredutível, por que ela é substância primeira da qual você pode dizer coisas, mas você não pode usar ela para ser dita de outra, ela não pode ser substância segunda, ela não pode ser tema de atribuição, eu não posso dizer algo e usar você para explicar mais nada, você é o objeto ultimo da explicação, então eu não posso através do conhecimento empírico que eu tenho, que eu venha a ter sobre você em uma clinica, um divã, eu não posso aplicar isso em mais ninguém, por que as substâncias são individuais, então nada autoriza, eu não teria aqui um Grande Analogon para fazer a analogia, nem conhecimento analógico você pode fazer.
A psicologia para fazer o diagnóstico de um individuo atribui conceitos universais a um individuo, e isso é plausível, mas não se pode pegar o individuo e atribuir ele a outro, então características de um individuo não pode ser universalizado, isso é óbvio, a própria intuição do dia-a-dia sabe disso, « ninguém é a igual a ninguém «, eu sei que você sabe que você é diferente de mim”. 
A analogia refutada, de modo muito relapso ainda, muito acelerado, foi essa tese fulcral do Charles Darwin, afirmando a similitude entre filogênese e ontogênese. Isso é uma analogia metafórica, é uma analogia de proporcionalidade, é um floreio. É um recurso estilístico, persuasivo, que convenceu muita gente, por que tem seu encanto, a sua realidade, mas não pode ser considerada ciência, nem é uma prova científica, tanto que a teoria da evolução ainda é uma teoria não é uma lei, é lei quando é irrefutável, quando é comprovado.
Depois quando eu falei aqui em da analogia de atribuição eu posso emendar isso aqui e desenvolver um pouco mais falando o que significa a atribuição, a atribuição é você atribuir um predicado a um sujeito, é você dizer que A é B, que a casa é amarela, que o céu é azul, e saber, entre essas atribuições, quais delas seriam rigorosas e verdadeiras e quais delas seriam pertinentes, quais seriam meros acidentes. Existem atribuições que você usa hoje que não pode usar amanhã, por exemplo, “hoje está chovendo” amanhã não posso dizer mais isso, por que vai está fazendo sol, então existem atribuições que dizem respeito aos acidentes, e aqui teria que se conhecer as definições do ser de Aristóteles que são de quatro maneiras, o ser enquanto potência, enquanto ato, enquanto essência e enquanto acidente, então enquanto potencia e enquanto ato, {não vamos abordar aqui as duas primeiras maneiras} elas são duas maneiras de falar do ser, que para São Tomás de Aquino vão ser a natureza profunda do real, não vai haver um único ser para as coisas todas, não é como Parmênides, que dizia que o ser era um só. 
Quando se fala do ser como acidente não está se falando de ciência, a ciência é o discurso da essência daquele ser, quando se fala do ser das coisas e não dos acidentes, precisa-se usar um tipo de raciocínio próprio para falar do ser, um discurso próprio da ciência, que é o discurso racional, a predicação que se chama silogismo, que é uma forma racional do discurso que é diferente da literatura, da poesia, da crônica, a ciência se difere por que usa de enunciados que são construídos com um tipo especifico de raciocínio, que é o silogismo ou raciocínio, silogismo na linguagem e raciocínio no pensamento. Você tem no plano da linguagem o termo, por exemplo, a palavra o homem, em seguida se tem a proposição que é uma atribuição qualquer, por exemplo, o homem é mortal, e depois se tem o silogismo, por exemplo,
“Sócrates é homem,/ Todo homem é mortal,/ Logo, Sócrates é mortal.”
Então essa terceira expressão é o silogismo, que é a forma de um arremate da conclusão, inclusive só a guisa de explanação e de erudição, o termo silogismo vem do grego Syllogismói e quer dizer ramalhete, então quando você faz um silogismo, você organiza aquilo que você colheu antes no termo e na proposição, então pensar para o grego é como colher flores no jardim, o pensamento cientifico para o grego é exatamente isso, é pegar termos, formular proposições e fazer o silogismo, que é o acabamento, o arremate, o ramalhete, ou seja, as ideias enramalhadas em ramos, por um lado no pensamento você tem conceitos...

Assim eu fiz a divisão escolástica entre termo, proposição e silogismo na linguagem e conceito, juízo e raciocínio no pensamento, então quando eu estou trabalhando com a linguagem eu falo termos, eu faço uma atribuição simples que é a proposição e depois eu organizo essas afirmações proposicionais na forma de um silogismo, falei que silogismo vem do grego Syllogismói, que quer dizer ramalhete, uma espécie de formatação, de arranjo e no plano do pensamento você tem os conceitos, os juízos e os raciocínios que é uma operação com juízos atribuindo algo de modo verdadeiro ou falso. Esse raciocínio é o que fundamenta o discurso científico. Diferente do discurso poético, do discurso mítico, religioso, onde você não precisa de raciocínios, nesse tipo de raciocínio você pode testar o valor verdade a partir da analise da própria dinâmica interna do pensamento. Voltando na aula, quando eu falei da analogia, eu falei que no pensamento analógico, na analogia de atribuição de São Tomás de Aquino, você procuraria dentro do próprio pensamento analógico um critério intrínseco a ele, que seria o Grande Analogon, que possa validar ou não a analogia, se seria uma analogia, uma boa analogia de atribuição ou uma má analogia, na verdade as duas não prestam, a verdade é o seguinte o pensamento analógico também é um pensamento torpe, só que é como os dois ladrões na cruz tem o ladrão bom, que vai pro céu, e o ladrão ruim, então aqui nesse momento Cristo seria o discurso da univocidade, a verdade (nós vamos chega lá, depois no futuro, a falar do discurso unívoco, não no sentido de Parmênides em quem a univocidade interditaria o discurso). Aqui vamos tentar pensar em um discurso que fala das coisas e que é permitido falar, isso aqui está em Bérgson, mas tudo bem, nós temos no momento duas analogias, uma que eu estou trabalhando que é analogia boa que é a de proporção ou atribuição e a analogia de proporcionalidade, então, na analogia que eu trabalhei, existe critérios realistas intrínsecos ao discurso, que valida ela que é o GRANDE ANALOGON (falei isso no começo, e no raciocínio cientifico, respondendo a sua questão de como se faz ciência dos indivíduos), existe esse critério, que é o critério intrínseco ao modo do silogismo, assim como as inferências que eu falei, as analogias, o raciocínio também é um modo de pensamento, escolhido, eleito, como o modo de pensamento cientifico por excelência e quando você atribui de modo essencial e faz ciência com isso, quando usa esse tipo de raciocínio - olha que interessante isso -, quando você raciocina de modo cientifico usando esse modelo do silogismo, o que acontece? Se você for analisar as partes do silogismo, você vai encontrar nas partes do silogismo uma identidade, que é o chamado termo médio. Quero mostrar que o critério de verdade implícito no raciocínio seria a questão da existência de um termo médio, isso é lógica exata, apesar de eu está falando de termos de linguagens avulsos, uma coisa acaba sendo uma coisa só. O termo médio no silogismo, ele é um termo que permite que você ligue o termo menor ao termo maior, então eu tenho o raciocínio, clássico, “Todo homem é mortal”/ Sócrates é homem,/ “Logo, Sócrates é mortal.” Então o termo médio é homem, quando eu digo “Todo homem é mortal.”, mortal é o termo maior, homem é o termo médio e Sócrates é o termo menor, então eu ligo o termo menor, Sócrates, ao termo maior, mortal, supondo que mortal seja a essência (há controvérsias, a gente pode ver isso depois), eu ligo o termo homem, que é a substância primeira do termo real ao termo maior que seria a essência, a universal, passo, portanto, a uma atribuição cientifica usando para tal o termo médio, esse termo médio, no caso homem, permite a conexão, dentro do raciocínio que eu tenho, ai vocês lembram agora do começo da aula quando eu disse que o pensamento da analogia, o modo de pensar por analogia de atribuição é um tipo de pensamento onde você encontra no interior dos termos comparados, você encontra uma identidade, ai eu usei o exemplo das frações, essa identidade ela é um termo médio, então vejam que eu estou abrindo o silogismo aristotélico e estou encontrando o Grande Analogon em São Tomás, isso aqui é fabuloso, então a analogia tem um parentesco, ela tem uma estrutura semelhante ao modo do silogismo Aristotélico, por isso que Aristóteles aplica o silogismo para fazer a ciência conhecendo o real e São Tomás vai poder usar a analogia para explicar o próprio ser, o São Tomás vai validar Aristóteles e inovar mais à frente tirando uma conclusão que o Aristóteles não tirou, mas não estou trabalhando isso aqui, é só a contextualização, mas o São Tomás pode fazer uso da analogia para pensar o ser por que ele extrai essa analogia do próprio modo do discurso cientifico com o qual Aristóteles pensou o ser, pensou o Real. O Aristóteles, como eu falei, pensa o ser de quatro maneiras, o ser enquanto potência; ato; essência; acidente, recapitulando ele vai definir discursos diferentes para mostrar essas duas modalidades do ser, discursos sobre os acidentes que é a poesia, que é o mito, que é a história e o discurso cientifico, filosófico, aquele que trata da essência do ser, mas para falar do ser e das coisas ele precisa ter uma teoria da linguagem, que é a teoria da significação, essa teoria do Aristóteles visa explicar como a Linguagem significa a realidade, por que você possui um real formado de indivíduos, coisas, pragmas (um termo grego para as coisas práticas), o real ele é coisificado, o real de Aristóteles ele é individualizado, isso você vê muito claro na gramática grega, a gramática grega ela é extremamente substantivada, é toda feita de substantivos, os verbos são muitos pobres. Então se tem as coisas do mundo e as coisas são infinitas, por que faz parte da natureza e você tem a linguagem que é um instrumento humano que é finito como tudo que é humano, então a questão que aparece aqui para o Aristóteles é, como a linguagem finita pode representar um mundo infinito? Como eu posso falar de coisas infinitas se meu recurso para tal é finito? Isso só é possível por que existe no mundo a semelhança, a semelhança que permite que eu possa usar nomes comuns para coisas diversas, eu posso usar a palavra beiju para todo tipo de farinha de goma que existe no planeta, então já pensou se para cada pacote de beiju tivesse um nome diferente, não ia ter linguagem que dava se para cada caroço de feijão fosse um nome diferente. A generalização é que se permite que se faça um discurso, isso significa que existe coisa que são semelhantes no mundo assim como existe coisas que são diferentes, a analogia é justamente a exploração dessa característica da natureza, você pode pensar por analogia por que as coisas são semelhantes, elas conhecem padrões, elas conhecem ritmos, ela conhece igualdades até, se for igualdade de qualidades e não igualdade de essência, por que se for igualdade de essência ai cada coisa é uma diferente da outra. Então você ao falar das coisas você usa termos que se diz de muitas coisas, são três modos de falar das coisas, isso é na teoria da significação, no processo psicológico de conhecimento até chegar à teoria da abstração eu vou saltar aqui, a teoria do conhecimento de Aristóteles eu não vou entrar agora, estou falando de como a linguagem significa o mundo, como você chegou até ideias do mundo, como você abstraiu, como você percebeu, isso tudo eu estou deixando de lado aqui e vou trabalhar com a significação, quando você significa as coisas. Então na hora de significar eu vou usar palavras, nomes, para coisas que são diversas, quando eu faço isso eu estou usando palavras, nomes que são unívocos para coisas que são sinônimas no nome. É importante mostrar essa metodologia, são três maneiras de falar das coisas, as coisas podem ser faladas do modo unívoco, análogo ou equívoco, esses três andam juntos, por que a analogia ela é um síntese da diferença com a igualdade. Na univocidade é quando você usa um mesmo nome para várias coisas, eu falo cavalo e com isso eu estou significando todos os cavalos que existem no mundo, eu posso dizer de outra maneira, sendo as coisas no caso sinônimas, todos os cavalos são sinônimos no nome cavalo; eu posso falar também de modo análogo, quando eu falo de modo análogo eu estou usando nomes diferentes para a mesma coisa (eu estou usando conceito e nome aqui para identificar, mas depois São Tomás separa, mas eu uso nome e conceito para diferir uma coisa e outra), por exemplo, diante de um problema eu falo: ‘que problema’, outro fala: ‘que mistério’, o outro fala: ‘que segredo’, o outro fala: ‘que enigma’, o outro fala: ‘que charada’, então problema, charada, enigma, segredo, mistério são nomes e conceitos diferentes para a mesma coisa, rebu, na verdade isso é um rebu, é racional se fazer isso, você aplica nomes diferentes, conceitos diferentes a mesma coisa, então no caso aqui as coisas são parônimas  e por fim, que é o lado problemático, você pode falar de coisas diferentes usando o mesmo nome, por exemplo, você pode falar: ‘Leão’, Leão a constelação, Leão animal, Leão o goleiro do time de futebol, enfim os exemplos são muito, você tem esse terceiro modo de atribuição, de significação, onde você fala de coisas diferentes usando o mesmo nome, essas coisas elas são equívocas, nesse tipo de atribuição equivoca não se faz ciência por que se usam as palavras de modo com sentido diferente, você usa a mesma palavra para conceitos diferentes, para coisas diferentes, então quando você vai usar o termo médio você colapsa, porque você usa uma palavra em um sentido e depois quando usa o termo médio usa outro, por exemplo, se eu fizer um raciocínio assim: ‘Toda cinza provem do fogo;’ ‘A nuvem é cinza; ’ ‘Logo, a nuvem veio do fogo’. Isso não é ciência, por que eu usei o termo médio, cinza, de modo equívoco na primeira proposição quando eu disse ‘Toda cinza provém do fogo. ’, cinza aqui é aquele pó, o resíduo, na segunda proposição quando eu digo ‘A nuvem é cinza.’, cinza aqui é cor, então quando você atribui de modo equívoco a semelhança, a identidade do Grande Analogon foi rompida, então deixa de ser um raciocínio cientifico ou nas palavras de São Tomás, deixa de ser uma analogia de atribuição e passa a ser uma analogia de proporcionalidade, passa a ser uma metáfora, que foi que eu fiz com esse raciocínio aqui da nuvem, é um poema disfarçado de ciência. O importante, e aqui que é o problema na teoria da significação de Aristóteles, é que os homens quando estiverem falando de uma coisa devem falar daquela mesma coisa sempre, aqui é preciso haver consenso, é preciso inclusive uma disciplina, um encaminhamento para que você seja cientista, você não pode no meio do discurso cientifico estar mudando o sentido daquilo que você está falando, os sofistas faziam isso, os sofistas exploravam profundamente essa equivocidade das palavras para fazer jogos poéticos os mais mirabolantes possíveis, mas não era, segundo Aristóteles, um discurso cientifico, por que ele não daria a verdadeira definição da essência de uma coisa, esse exemplo da nuvem aqui eu acabei não dando a você a definição de nuvem, eu não fiz ciência da nuvem, você não pode achar que a nuvem vem do fogo e fazer uma fogueira esperando conseguir uma nuvem, por que isso não foi ciência, então a ciência é feita a partir do uso de um discurso especifico de pensamento que é o silogismo, esse silogismo ele tem um critério de verdade intrínseco objetivo nele mesmo que é a questão do termo médio que eu estou comparando o termo médio - isso aqui é uma coisa minha, vocês não vão encontrar em livro nenhum – com o Grande Analogon que é o critério de verdade da analogia de atribuição em São Tomás de Aquino.
O agravante das conceituações das analogias em São Tomás reside no fato que isso permitiu que um modo flácido, torpe de pensar, que é o pensamento por analogia ganhasse um arremedo, um simulacro, e povoasse a mente dos paspalhões, se encontra diversos paspalhões pensando por analogia de proporcionalidade como se estivesse pensando analogia de atribuição, de proporção, o próprio Charles Darwin quando se encantou com esse exemplo da filogênese e da ontogênese foi um paspalhão, por que ele devia ter um semancol e dizer: ‘isso não quer dizer nada’, você vai ver, por exemplo, cientistas como o Curvier dizer: ‘o pulmão está para o ar assim como a guelra do peixe está para água’, isso não quer dizer nada, ou seja, ele queria extrair dai um sinal, ele via aí um ciclo de uma conexão profunda », você pega, por exemplo, um olho de um polvo é tão parecido com o olho de um ser humano que se você fizer um transplante, até que o organismo tenha rejeição tissular o olho do polvo funciona, tão igual que é o nosso, no entanto não temos nenhum vínculo com o polvo na suposta evolução das espécies, significa que essas analogias são uma coincidência, ou seja, é uma semelhança acidental, uma semelhança que não é da essência das coisas, ela é dada superficialmente, como o exemplo que eu falei dos metais e da eletricidade, e do Stuart Mill. Significa que você não pode ficar tirando conclusões e esse hábito de pensar a analogia de modo plácido é o mau ladrão que roubou o pensamento e a alma da modernidade, todo mundo ai fazendo comparação, fazendo inferências as mais esdruxulas possíveis pautado em uma característica elementar da vida que é o fato das coisas terem semelhanças entre si, que nem sempre na maioria das vezes é uma semelhança de essência, é uma semelhança acidental, ou seja, julgam por superfície, julgam por aparência. Pronto: olha para o senso comum, o hábito de julgar pelas aparências é justamente você pegar e identificar assim,  ‘Ah, aquele cara é preto. ’ ‘Preto é ladrão. ’‘Todo preto é ladrão. ’ Isso é um modo de analogia de proporcionalidade, o exemplo foi pobre mais é isso que acontece, então nem as verdadeiras analogias as pessoas fazem que é a analogia de atribuição visando procurar uma identidade. Para terminar, mais um exemplo de analogia. Você pega uma luneta instala ela aqui, mira ela para a lua e todo mundo olha. Cada um de nós vai para casa levando uma lua em sua mente, essa lua de cada um de nós é uma lua equívoca, completamente equívoca, até por que você não faz ideia de como é a lua na minha mente, - Wittgenstein explorou muito isso, você não sabe se a dor que eu sinto é a dor sua. O vermelho que eu vejo é o vermelho que você vê, não tem como se abrir o cérebro e ver a sensação da consciência que é um ser transcendente – então cada lua que  levamos para casa é equivoca, a lua mesma em si lá no céu é uma lua unívoca por que ela é idêntica a si mesmo, então que liame haveria entre a lua e lua de nossas cabeças?  A lua que está dentro da luneta, dentro da luneta existe uma lua, que ela não é a lua em si, unívoca, mas também não é a lua das cabeças de cada um, equívoca, ela é uma lua análoga, a lua desenhada dentro da luneta pelas lentes, ou seja, a imagem é um Grande Analogon. Então o Grande Analogon é uma luneta para você ver a semelhança verdadeira entre as coisas, quando Espinosa dizia que polia lentes ele estava procurando o Grande Analogon, quando Proust dizia leia os meus livros como se fossem óculos para ver o mundo melhor se não prestar jogue fora, Proust estava dizendo, olha meu livro é o Grande Analogon, é o grande critério que vocês têm para conhecer as coisas do mundo de um modo essencial, buscando a identidade na essência que elas têm, não na superfície, então embora agente não seja capacitado para pensar de modo intuitivo e análogo que é diretamente no coração das coisas, isso ai só com muita tarimba, muito exercício, agente começa seguindo o bom ladrão, como eu disse, o bom ladrão é a analogia de atribuição, deixando de lado o mau ladrão que é a analogia de proporcionalidade.



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