O Maior acervo de Argumentos e Roteiros Cinematográficos em uma coletânea com centenas de peças de Alta Literatura. Um Clássico Autoral de Cassiano Ribeiro Santos Dumont
domingo, 27 de março de 2022
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QUANDO HAVIA GALOS, NOITES e QUINTAIS!
QUANDO HAVIA GALOS, NOITES e QUINTAIS!
BACKYARD OF A MEDIEVAL CASTLE - Nos Castelos
medievais e mesmo em grandes mansardas de outrora, a grande vida acontecia de
fato nos fundos, na cozinha, especialmente no inverno, onde tudo girava em
volta do fogo elementar, onde todos se reuniam, vindos de surpresa pelos vastos
e abertos quintais e quintas separadas do campo de pastagens e dos bosques por
um fiapo de ribeirinho, uma cerca já quase apodrecida e engolida por arbustos
selvagens. Por ali começava o azáfama de porqueiros e granjeiros vizinhos,
comerciantes de panelas e viajantes famintos, cruzando estrebarias e currais,
casas de servos cercadas de galinhas e cachorros esquálidos, hortas e muros de
pedra cobertos de musgo... E UMA AUSÊNCIA ABSURDA DE QUINQUILHARIAS na grama
verde em volta do lugar: nada de garrafas de plástico nem embalagens vazias,
latas ou tubos espremidos de dentifrícios, frascos de desodorantes e pedaços de
papelão, tampas de refrigerante, absorventes e pedaços de papel higiênico,
marmitex de alumínio machucado e talheres de plástico, seringas e tênis
furados, rodas de carrinhos de brinquedo e arames de caderno sem caderno, cacos
de vidro e molas de colchão enferrujado, maços de cigarro e sacolas sem alça...
Penso que fora por falta de lixo reciclável que teve fim o tempo da história
que chamamos de Período Medieval!
********* Pela janela do meu quarto, contemplo um grande e
abandonado tereno baldio. Formas silentes mal conseguem ser vistas tal o
retinto da escuridão.Mas uma aleia de amendoeiras caudiciformes espalhou suas
folhas ocre sobre o chão e uma luz de contrabando, de algum poste de iluminação
fora do enquadramento, achou ali pequenos e dispersos simulacros de espelho a
refletir sua turgescência de dourado jaez! Me lembrei do gracioso pássaro
Cenopoietis (só sei o nome científico - coisa de intelectual antipático) que
marca seu território derrubando folhas de uma árvore e, assim que essas folhas
apodrecem a face em contato com o solo, elas reviram as folhas com o bico
formando linhas circulares em contraste com outras mais claras. Ali dentro do
círculo ninguém entra. Sou, momentaneamente, esse pássaro. Aquele ponto do
tereno baldio é meu. Alguém disse - um poeta certamente - que ver é ter! Estou
me sentindo como esses grandes milionários, campeões no jogo Banco Imobiliário!
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