domingo, 27 de março de 2022

QUANDO HAVIA GALOS, NOITES e QUINTAIS!




BACKYARD OF A MEDIEVAL CASTLE - Nos Castelos medievais e mesmo em grandes mansardas de outrora, a grande vida acontecia de fato nos fundos, na cozinha, especialmente no inverno, onde tudo girava em volta do fogo elementar, onde todos se reuniam, vindos de surpresa pelos vastos e abertos quintais e quintas separadas do campo de pastagens e dos bosques por um fiapo de ribeirinho, uma cerca já quase apodrecida e engolida por arbustos selvagens. Por ali começava o azáfama de porqueiros e granjeiros vizinhos, comerciantes de panelas e viajantes famintos, cruzando estrebarias e currais, casas de servos cercadas de galinhas e cachorros esquálidos, hortas e muros de pedra cobertos de musgo... E UMA AUSÊNCIA ABSURDA DE QUINQUILHARIAS na grama verde em volta do lugar: nada de garrafas de plástico nem embalagens vazias, latas ou tubos espremidos de dentifrícios, frascos de desodorantes e pedaços de papelão, tampas de refrigerante, absorventes e pedaços de papel higiênico, marmitex de alumínio machucado e talheres de plástico, seringas e tênis furados, rodas de carrinhos de brinquedo e arames de caderno sem caderno, cacos de vidro e molas de colchão enferrujado, maços de cigarro e sacolas sem alça... Penso que fora por falta de lixo reciclável que teve fim o tempo da história que chamamos de Período Medieval!

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  Pela janela do meu quarto, contemplo um grande e abandonado tereno baldio. Formas silentes mal conseguem ser vistas tal o retinto da escuridão.Mas uma aleia de amendoeiras caudiciformes espalhou suas folhas ocre sobre o chão e uma luz de contrabando, de algum poste de iluminação fora do enquadramento, achou ali pequenos e dispersos simulacros de espelho a refletir sua turgescência de dourado jaez! Me lembrei do gracioso pássaro Cenopoietis (só sei o nome científico - coisa de intelectual antipático) que marca seu território derrubando folhas de uma árvore e, assim que essas folhas apodrecem a face em contato com o solo, elas reviram as folhas com o bico formando linhas circulares em contraste com outras mais claras. Ali dentro do círculo ninguém entra. Sou, momentaneamente, esse pássaro. Aquele ponto do tereno baldio é meu. Alguém disse - um poeta certamente - que ver é ter! Estou me sentindo como esses grandes milionários, campeões no jogo Banco Imobiliário!

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