sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

SOMOS TODOS FELOMENAIS!




Edmund Husserl, em sua monumental Fenomenologia, afirma que a base de nossa vida psíquica é um fluxo de vivências heterogêneas, não apenas por conta da matéria cambiante com a qual nossa consciência se relaciona, mas também por conta da própria dinâmica da nossa consciência.

Ora percebemos, ora desejamos, ora sonhamos, ora construímos, ora imaginamos... Cada uma destas "visadas" ou focos na relação de nossa consciência com o mundo é um giro no caleidoscópio. Husserl chamava esse fluxo de "fluxo heraclítico", em referência ao tenebroso habitante do templo de Éfeso, Heráclito de Pontos, que afirmava ser a vida um rio onde nunca entramos duas vezes. O Eu seria apenas um efeito momentâneo em cada curva desse rio. 

Quando estou sonhando, eu sou um, e acho que sou todos; quando estou escrevendo, sou outro e penso que sou todos os outros que fui... A consciência é um espelho. Pode até ter uma base física e neural, mas sua realidade será sempre a fantasmagoria que nela se espelha (no fim da vida, Husserl postulou a existência de um Eu Transcendental, um céu lumífero e nebuloso a se refletir nas águas desse rio). 

Um bom exemplo dessa psicologia da nossa consciência encontramos em certos tipos de sonhos quando nos encontramos viajando sem saber onde e quando vamos parar. Não temos uma casa para repousar os ossos fatigados. Saltamos em uma estação, compramos a passagem para outra, ligamos para um hotel e reservamos um quarto ou contamos com um amigo e parentes na próxima cidade para de lá partir para outro e ermo lugar... 

Também a nossa vida psíquica se assemelha a essa errância de sonhos e paisagens, de desejos e práticas, de lembranças e castelos imaginados. Não existe um Eu formatado, uma moldura solene por detrás desse espetáculo. O Eu é uma fachada de uma estação ferroviária e o trem nunca para!
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