domingo, 10 de janeiro de 2016

ESSE ANO, MEU BEM, TÁ COMBINADO: NÓS VAMOS BRINCAR SEPARADOS!


Nos tempos clássicos e antigos, antes da Teoria da Relatividade se estabelecer como uma lei universal, o tempo era pensado como algo absoluto, único e idêntico a si mesmo para todo o universo.

Se eu esperava o torrão de açúcar dissolver na xícara de chá, era todo o universo que durava e esperava comigo. Nas palavras poéticas de Henri Bergson, o tempo era como um fio nos ligando a todos os seres do mundo em duração e simultaneidade, um estofo a embalar a koinonia de todos os seres. Por esse sutil e etéreo "point de vue", comungávamos a existência e a possibilidade de um ser comum nos confortava. Com a teoria da relatividade, tudo mudou. Hoje devemos falar em blocos de espaço-tempo para explicar que o tempo é uma grandeza indissociável das outras três dimensões do espaço. De tal forma que, não podemos ocupar pontos diferentes do espaço sem que haja uma ínfima diferença no tempo vivido. Já não faz mais sentido falar em simultaneidade onde há uma distância entre dois corpos. Não é mais no mesmo milimétrico instante que dois amantes separados suspiram ao lerem as cartas trocadas, Saturno não mais conspira com o alquimista quando este manipula suas pipetas e a música das estrelas vaga pelo éter em ritmos descompassados. 

Ainda que de proporções absurdamente minúsculas, um abismo dissonante feito por quânticas faíscas de tempo separa cada um de nós. A saudade e a distância, formas enfáticas do tempo e do espaço, penetraram até o mais profundo de nossos átomos que hoje dançam separados e solitários o que já fora antes uma quadrilha madrigal. Maldito seja Einstein!

P. S. Amaldiçoei Einstein por nos despertar desse romântico e dogmático sono no berço de um tempo unicista, que tanto embalou a filosofia e as artes, desde Platão a Heiddeger, passando por Shakespeare e Balzac, mas também essa percepção nos trouxe algo assombrosamente belo: Cada região do espaço nos autoriza a postular a existência de um tempo distinto, não-sincrônico, uma multiplicidade de tempos que irá libertar as formas narrativas do romance, do cinema, da música e da própria filosofia.
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