Aos 13 anos de idade, concluindo o ensino fundamental no colégio
Polivalente de Itambé, eu participei de uma gincana e fui escalado para
ajudar minha equipe em uma barraca de uma quermesse, vendendo doces,
brigadeiros, mingau de milho e outras “sacanagens gastronômicas”.
Quem
ficava no balcão era uma colega, Silvana, e eu me limitava a guardar o
dinheiro em uma pochete que, para não ser roubado, eu trazia bem na
frente, sobre o fecho éclair da minha calça US.TOP.
A noite inteira,
Silvana vendia de tudo e, sempre que precisava de um troco, metia a mão
na minha pochete, apanhava o maço de notas, passava o troco, e tornava a
enfiar o restante lá dentro, como se minha pochete fosse a serventia da
sua casa. Aquilo findou por me causar um misto de excitação e
irritação também – a moral agrária em que fui criado via com péssimos
olhos mulheres com tamanha desenvoltura com dinheiro e pouco caso com
homens reduzidos a caixas-registradoras ambulantes.
Tramei um plano
misto de vingança e safadeza gratuita. No último dia da quermesse, um
domingo, eu apanhei minha pochete e fiz um longo corte na parte interna
que fica colada na roupa. Em seguida, abri a braguilha da calça,
coloquei meu pinto pra fora e enfiei o pinto com todos os periféricos
dentro da pochete, fechei e fui para dentro da barraquinha esperando que
a Silvana, em sua desenvoltura e pouco caso, metesse a mão ali
procurando por um troco!!! Não sei qual anjo protege as meninas ingênuas
do interior, mas o certo é que nessa noite, inexplicavelmente, não
apareceu nenhum cliente com dinheiro graúdo que precisasse de troco
algum.
Todos, absolutamente todos, traziam sempre a nota exata: 2
Cruzeiros pra um pastel, 5 cruzeiros para um brigadeiro, 10 cruzeiros
para um cachorro quente com refrigerante... Em momento nenhum a Silvana
precisou meter a mão na cumbuca onde lhe esperava meu cacetinho. E eu
ainda provocava exibindo e quase esfregando a pochete sempre que ela
passava perto de mim. Lembro-me de um breve instante onde pensei que o
encanto protetor fosse ser quebrado: uma senhora comprou alguma coisa,
pagou com uma nota graúda e se afastou, puxando uma criança pelo braço.
Tão logo percebi isso, notei também que a Silvana nada comentou. Queria
ficar com o troco para ela. Não por cobiça e desonestidade propriamente
dita, pois tudo que arrecadávamos era para a gincana. Se ela não fora
tão desonesta como parecia ser, eu também não fui tão honesto assim
quando dobrei-me sobre o balcão e gritei quase desesperado:
_ Ó O TROCO! Ó O TROCO! Ó O TROCO!
E foi a criança pequena quem, orientada pela mãe, voltou-se para a nossa barraca e respondeu com sua voz pueril sem ainda saber a pronúncia certa:
_ Pode ficá com o TOCO!
_ Ó O TROCO! Ó O TROCO! Ó O TROCO!
E foi a criança pequena quem, orientada pela mãe, voltou-se para a nossa barraca e respondeu com sua voz pueril sem ainda saber a pronúncia certa:
_ Pode ficá com o TOCO!
E foi assim que a festa e a história terminaram. Eu fiquei com o TOCO murcho dentro da pochete e a Silvana deve ter ficado com o TOCO CRU PEGANDO FOGO!
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