domingo, 15 de novembro de 2015

A FELICIDADE É UMA ARMA QUENTE EM SUA MÃO!


Aos 13 anos de idade, concluindo o ensino fundamental no colégio Polivalente de Itambé, eu participei de uma gincana e fui escalado para ajudar minha equipe em uma barraca de uma quermesse, vendendo doces, brigadeiros, mingau de milho e outras “sacanagens gastronômicas”.
Quem ficava no balcão era uma colega, Silvana, e eu me limitava a guardar o dinheiro em uma pochete que, para não ser roubado, eu trazia bem na frente, sobre o fecho éclair da minha calça US.TOP. 

A noite inteira, Silvana vendia de tudo e, sempre que precisava de um troco, metia a mão na minha pochete, apanhava o maço de notas, passava o troco, e tornava a enfiar o restante lá dentro, como se minha pochete fosse a serventia da sua casa. Aquilo findou por me causar um misto de excitação e irritação também – a moral agrária em que fui criado via com péssimos olhos mulheres com tamanha desenvoltura com dinheiro e pouco caso com homens reduzidos a caixas-registradoras ambulantes. 

Tramei um plano misto de vingança e safadeza gratuita. No último dia da quermesse, um domingo, eu apanhei minha pochete e fiz um longo corte na parte interna que fica colada na roupa. Em seguida, abri a braguilha da calça, coloquei meu pinto pra fora e enfiei o pinto com todos os periféricos dentro da pochete, fechei e fui para dentro da barraquinha esperando que a Silvana, em sua desenvoltura e pouco caso, metesse a mão ali procurando por um troco!!! Não sei qual anjo protege as meninas ingênuas do interior, mas o certo é que nessa noite, inexplicavelmente, não apareceu nenhum cliente com dinheiro graúdo que precisasse de troco algum. 

Todos, absolutamente todos, traziam sempre a nota exata: 2 Cruzeiros pra um pastel, 5 cruzeiros para um brigadeiro, 10 cruzeiros para um cachorro quente com refrigerante... Em momento nenhum a Silvana precisou meter a mão na cumbuca onde lhe esperava meu cacetinho. E eu ainda provocava exibindo e quase esfregando a pochete sempre que ela passava perto de mim. Lembro-me de um breve instante onde pensei que o encanto protetor fosse ser quebrado: uma senhora comprou alguma coisa, pagou com uma nota graúda e se afastou, puxando uma criança pelo braço. Tão logo percebi isso, notei também que a Silvana nada comentou. Queria ficar com o troco para ela. Não por cobiça e desonestidade propriamente dita, pois tudo que arrecadávamos era para a gincana. Se ela não fora tão desonesta como parecia ser, eu também não fui tão honesto assim quando dobrei-me sobre o balcão e gritei quase desesperado:

_ Ó O TROCO! Ó O TROCO! Ó O TROCO!
E foi a criança pequena quem, orientada pela mãe, voltou-se para a nossa barraca e respondeu com sua voz pueril sem ainda saber a pronúncia certa:
_ Pode ficá com o TOCO! 

E foi assim que a festa e a história terminaram. Eu fiquei com o TOCO murcho dentro da pochete e a Silvana deve ter ficado com o TOCO CRU PEGANDO FOGO!
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