segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

QUEM DORME, JANTA; QUEM JANTA, SONHA!




Sonhei esta noite que estava subindo uma verde colina que parecia nunca ter fim, seu pico enterrado em uma espessa neblina que não me permitia ver além de alguns metros a frente.
O aclive era suave e eu subia sem muito esforço. A névoa possuía uma luz dourada, com ondulações sutis de tons alaranjados e eu me divertia vendo as árvores espalhadas pelos contrafortes escarpados ao redor tremeluzirem e mudarem de cor à medida que eu avançava. Súbito um sentimento grave e solene se apoderou de mim anunciando a aproximação de alguma coisa magnífica e fenomenal. O escritor Jorge Luiz Borges dizia que, quando acordados, as coisas são a causa dos nossos sentimentos, vemos um tigre e sentimos medo, mas sonhando, a situação se invertia: nossos sentimentos assumem o comando e geram as imagens correlatas. Sentimos medo e sonhamos um tigre para dar um sentido a esta aflição. Era o caso. Eu sentia algo que transcendia o próprio medo de morrer. Se considerarmos que o nosso inconsciente desconhece a morte, sentir algo para além desse mesmo e interditado sentimento pode dar uma vaga ideia do que me fazia tremer as pernas e vasculhar em quase pânico o estofo vaporoso da neblina dourada ao redor, procurando a causa do meu pavor. Foi quando surgiu no alto da colina um gigantesco olho a flutuar me visando como se procurasse por mim desde a primeira manhã do universo. Olhava-me dentro da alma e parecia estar em todos os lugares, ou era eu que não conseguia mais me mover, extático diante de tão surreal aparição. O olho se aproximou, seus músculos laterais contritos a expressar alguma emoção que eu não conseguia identificar... Caí de joelhos. O olho já estava cerca de 10 metros de minha cabeça, quando então... PISCOU, e passou suavemente sobre mim a se perder pela neblina. Acordei com a deliciosa e megalomaníaca sensação de que Deus concorda comigo! 

Como sonhos bons nunca vem sozinhos, nessa mesma noite tive outro sonho fabuloso, antes desse, do olho gigante que acabo de narrar. Desta vez fora com um primo lá de Itambé, o Engenheiro Nuclear Caio Maciel. Ele havia, no sonho, adquirido um tremendo poder paranormal capaz de nos fazer ouvir músicas interiores, dentro do nosso próprio cérebro. Eu, o irmão dele Carlos Maciel e um amigo, misto de pistoleiro, Luis Cardoso, estávamos ansiosos esperando ele chegar de Paris para nos fazer uma demonstração do seu novo poder. Não demorou e o Caio surgiu, usando uma boina de pintor francês e carregando um instrumento musical dentro de um case com rodinhas. Foi logo fazendo a demonstração do seu poder sem sequer nos cumprimentar. Fechamos os olhos e eu comecei a ouvir os acordes de uma orquestra ensaiando seus instrumentos. De olhos semicerrados eu via o Caio gesticular uma invisível batuta no ar e os acordes metálicos de uma valsa jazzística invadiu minha consciência. Em seguida, um fagote e outro instrumento de som aveludado – uma clarineta talvez – começaram uma linha melódica de tremenda vivacidade e afinação! Uma música belíssima que não me recordo de nunca ter ouvido antes. O interessante é que, acontecendo apenas no interior da minha mente, eu podia modular as notas, ativar outros instrumentos – com certa timidez visto eu não ser um músico – mas fascinado em perceber como eles, os instrumentos invisíveis dentro da minha cabeça que sonhava eram capazes de se harmonizarem no escopo de tão animada “jam Session”. Curioso também era que o regente sonhado dessa música imaginária, era capaz também de regê-la, intervindo nos acordes e na gama sonora tão logo eu os invocava. Olhei para o rosto dos meus colegas e eles pareciam tomados pelo mesmo feitiço, balançando as cabeças, de olhos ébrios, como se arrebatados por outra ou mesma melodia. Um deles, não me recordo qual, possuía uma gigantesca pata de águia no lugar da perna e suas garras apertavam um imenso mapa-mundi que servia de tapete sobre o assoalho. Sem querer vulgarizar o sonho, pode ser que ele tenha algo a ver com o Frango assado que comprei ontem em uma Churrascaria aqui perto de casa e que tracei só deixando uma asa.
Share this post

0 comentários :