sexta-feira, 30 de outubro de 2015

UM DIA DE CÃO


Manhã de sol. Encontro um conhecido "filósofo" que afirma ser a Verdade um resultado de um consenso, de um diálogo entre todos os debatedores.
Eu lhe disse que a o primeiro atributo de toda e qualquer verdade é a simplicidade. Toda Verdade é simples! Como algo simples poderia resultar da soma ou da mistura de várias opiniões distintas? Não existe consenso. Existe a Verdade que brilha e se impõe sobre as outras postulações foscas e sem brilho, quando há uma Verdade! Muitas vezes todos simplesmente deliram. Um sujeito ao lado então me perguntou se eu conhecia alguma Verdade. Sim, respondi. JESUS CRISTO é a Verdade. É Deus. Ele me perguntou se eu tinha certeza disso. Eu respondi que estava muito mais certo disso do que a verdade das coisas que eu estava vendo, pois as coisas que eu via naquela hora eram possíveis e verdadeiras por conta da luz, mas Deus é a Verdade e a luz é a sua sombra!
Platão fazia isso para encerrar um diálogo: apresentava uma tese, entre outras, e depois sapecava um mito ou uma tirada poética para fundamentar e fazer valer sua Verdade sobre a verdade dos outros!
Final da tarde. Correndo pela ciclovia, vejo passar um conhecido com uma cintilante calva brilhando como se tivesse luz própria. Ele perguntou-me o que eu andava estudando. Meio jocoso, Eu comentei que o tempo de Michel Foucault já havia passado e que agora eu estudava a obra de Leibniz, filósofo barroco alemão. Ele me perguntou o que eu queria insinuar com isso. Não quis insinuar nada, mas como ele parecia pedir um estímulo qualquer, eu lhe disse que, talvez, fosse horas dele usar uma bela e empoada peruca, como os filósofos europeus da idade clássica e esconder de nós aquela careca obscena e cintilante feito a cabeça de minha taca! Meu espírito filosófico começava a declinar como o sol que se punha no horizonte.
Final da noite. Esquecido de comprar pão na volta da ciclovia, resolvi ir na casa de minhas irmãs aqui perto comer algo. Na saída vejo um vizinho jogando um cesto de lixo e entulhos em um local da rua onde placas ostensivas pediam para não jogar lixo ali. Comentei com um conhecido na janela, em voz alta para que o sugismundo ouvisse: No dia em que eu estivesse de mau humor e pegasse um folgado jogando lixo na rua, eu iria fazer ele comer todo o lixo e ainda lhe enfiar o cesto na cabeça de jerico. Ele ouvia calado, voltando pra sua casa, enquanto eu o seguia. Ele então, perto da esquina, enfiou a mão dentro da calça, na parte de trás, naquele gesto típico de quem procura ou afaga uma arma escondida. Que teatrinho pueril! A poucos metros de distância, gritei-lhe:
_ Tire a mão do rabo, picareta! Não satisfeito em sujar a rua, agora quer espalhar no ar o cheiro da sua bosta imunda?
O tolo apertou o passo, virou a esquina e, quando eu a virei também, já havia desaparecido. Apenas uma fímbria de luz brilhava pela janela fechada da sua casa. Desta vez não houve mais nenhuma filosofia da minha parte, mas àquela hora da noite, há muito a coruja de Minerva já havia batido as asas e cessado o arrulho das pombas de Platão no pombal das ideias!
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