Relembrando
velhos Réveillons. Estudante em Salvador, eu morava em um pensionato na
Vitória. Réveillon de 83/84.
Chego em casa às 4 da madruga, com uma fome sinistra e nadika de nada pra comer. A dona do Pensionato punha uma corrente com um cadeado em volta da geladeira, para evitar os cassianos da vida. Dormia com a chave no pescoço. Para a corrente não arranhar o esmalte da sua brastemp, ela deixava uma pequena folga que se permitia abrir a geladeira, acender a lâmpada interna e antever as delícias lá guardadas. Mas nem uma mão gorda passaria por aquela brecha! Abri a porta e vi - como quem chega ao fim de um arco-íris - um bucólico e encantado caldeirãozinho de leite bem na grade da frente. Machucado do lado, com marcas laterais queimadas da fervura e com uma grossa capa amarela de nata feito gelo dourado nos fiordes da Escandinávia. Pirei. Babei. Carpi. Ou eu bebo esse leite ou a morte me bebe! Jurei! Na época, as idéias não eram caprichosas, como hoje, e apareciam quando eu bem queria (eu era mentalmente lindo e elas me amavam). Fui ao quintal da casa e subi no tanque da pia, em seguida, no muro do vizinho. Havia ali um grande mamoeiro. Arranquei um vistoso talo de mamão. Cortei as extremidades e manufaturei um gigantesco canudo do tamanho de uma zarabatana. Voltei ao local do crime. Abri a porta e passei pela brecha o talo até atingir a grossa capa de gordura que cedeu feito um complacente hímen. Pus o canudo na boca e suguei o conteúdo inteiro do caldeirãozinho como uma velha sibarita em saturnálias romanas. Duvido que Apicius possa descrever um acepipe maior do que aquele. O leite caía como borbotões de volúpia fria no labirinto de minhas vísceras, acalmando o minotauro faminto que ali vivia! Fui dormir chacoalhando feito um balde de leite no lombo de um jumento. Sonhei cruzando a via–láctea em vigorosas braçadas estelares e acordei com o grito histérico da pobre senhora sem leite para servir seus hóspedes. Senti tanto remorsos que lhe daria os úberes peitos fosse eu uma nega leiteira!
Chego em casa às 4 da madruga, com uma fome sinistra e nadika de nada pra comer. A dona do Pensionato punha uma corrente com um cadeado em volta da geladeira, para evitar os cassianos da vida. Dormia com a chave no pescoço. Para a corrente não arranhar o esmalte da sua brastemp, ela deixava uma pequena folga que se permitia abrir a geladeira, acender a lâmpada interna e antever as delícias lá guardadas. Mas nem uma mão gorda passaria por aquela brecha! Abri a porta e vi - como quem chega ao fim de um arco-íris - um bucólico e encantado caldeirãozinho de leite bem na grade da frente. Machucado do lado, com marcas laterais queimadas da fervura e com uma grossa capa amarela de nata feito gelo dourado nos fiordes da Escandinávia. Pirei. Babei. Carpi. Ou eu bebo esse leite ou a morte me bebe! Jurei! Na época, as idéias não eram caprichosas, como hoje, e apareciam quando eu bem queria (eu era mentalmente lindo e elas me amavam). Fui ao quintal da casa e subi no tanque da pia, em seguida, no muro do vizinho. Havia ali um grande mamoeiro. Arranquei um vistoso talo de mamão. Cortei as extremidades e manufaturei um gigantesco canudo do tamanho de uma zarabatana. Voltei ao local do crime. Abri a porta e passei pela brecha o talo até atingir a grossa capa de gordura que cedeu feito um complacente hímen. Pus o canudo na boca e suguei o conteúdo inteiro do caldeirãozinho como uma velha sibarita em saturnálias romanas. Duvido que Apicius possa descrever um acepipe maior do que aquele. O leite caía como borbotões de volúpia fria no labirinto de minhas vísceras, acalmando o minotauro faminto que ali vivia! Fui dormir chacoalhando feito um balde de leite no lombo de um jumento. Sonhei cruzando a via–láctea em vigorosas braçadas estelares e acordei com o grito histérico da pobre senhora sem leite para servir seus hóspedes. Senti tanto remorsos que lhe daria os úberes peitos fosse eu uma nega leiteira!
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