segunda-feira, 12 de outubro de 2015

VINGANÇA! VINGANÇA! VINGANÇA!


Pesquisando sobre um antigo costume dos camponeses italianos, a “vendetta” ou vingança de sangue, li que se tratava de guerras entre famílias começando por um crime, sua retaliação feita por um parente da vítima que mata um parente do assassino; por sua vez, um membro da primeira família mata alguém da outra... Aad náusea! Esse costume macabro também ocorre no nordeste do Brasil, sendo o mais famoso o caso de duas famílias de nome ignóbil na cidade de Exu, em Pernambuco. Na Itália de outrora, os membros de uma família vitimada, na iminência de vingar um defunto ainda quente, praticavam um curioso ritual, uma dança fúnebre conhecida como Tarantella. Nesta dança, os virtuais vingadores imitavam os movimentos de uma tarântula. Símbolo do ressentimento, esta aranha, quando tem os seus ovos devorados por outra, inocula seu virulento veneno no primeiro exemplar da sua espécie que lhe aparece (não sei como Charles Darwin explicaria este fenômeno uma vez que estas agressões intra-específicas inibem a expansão da espécie e não existe, que se saiba, tribunal de paz entre as aranhas). Ao mimar os movimentos deste vingativo animal, os camponeses italianos buscavam produzir em seus corpos transidos uma intensidade, um viático que os transportassem ao reino obscuro da natureza animal, um entorpecente que os levassem a cometer a sangue-frio tais assassinatos. Em uma fita de vídeo, no centro de pesquisas, vejo as cenas desta dança, os passos insanos e os gestos expressivos. Escuto a música embriagante. Em casa, por toda a madrugada, exercito esta dança envolvente com ridícula competência, seus movimentos simples, de efeitos catatônicos, mas, por não ter nenhum inimigo carnal, não realizo nenhuma vingança e vou dormir em um estranho estado de fúria medonha que tentei descarregar sobre a minha última lasanha. No outro dia, saindo para devolver o livro e o vídeo emprestados, sinto um comichão nas costas me incomodando durante todo o percurso. Descubro sobre os rins uma ardente placa muito semelhante as “carícias de uma aranha”. A minha estúpida dança teria atraído alguma tarântula urbana? Duvido, pois durmo enfaixado nos lençóis feito uma múmia gorda e branca. Seria um sintoma de outra doença manifesta por coincidência, uma intoxicação alimentar como acreditou o farmacêutico, ou poderia o nosso corpo alquímico e ainda desconhecido segregar algum veneno - no meu caso, não expelido – como acontecia entre os camponeses italianos?
Share this post

0 comentários :