domingo, 6 de março de 2022

PESCARIAS NESTE MUNDO E NO ALÉM!

 


Em Uqbar, distante e lendário planeta orbitando Sírius (ou Capela), a vida inteligente se resumia a uma espécie de peixes pachorrentos e especulativos, feito carpas ruminantes. Seu mais ilustre pensador, um antigo peixe-filósofo chamado Espinhão, gostava de ilustrar a condição pisciana com o mito do Lago Dourado. Segundo esse mito, o Sol cintilante era a imagem do BEM, o ser supremo conferindo visibilidade a tudo que existe; as nuvens ilustravam as idéias verdadeiras de tudo que realmente existia (naquele planeta nublava-se de tudo e o céu era uma eterna “eikasia”! Nuvens com formas de saleiro, de girafas, bicicletas, anáguas, pirulitos, relógios, nuvens com forma de telas contendo paisagens com  montanhas cobertas de nuvens com forma de outras telas....); as sombras que estas nuvens causavam na superfície do lago eram uma inquieta e vertiginosa fantasmagoria. Munidos de um único e grande olho no alto de suas cabeças, condenados a viverem sempre focados na superfície, os peixes desse planeta tinham nesse bruxedo de sombras a sua única fonte de conhecimento da realidade! Acreditavam que seguir o bailado das sombras lhes protegia de predadores e os mantinham na trilha de pequenos cardumes com os quais se alimentavam. No que estavam certos, mas pecavam por fazer disso todo o conteúdo do conhecimento. Um dia, um peixe mítico e heróico resolveu pular fora d’água e ver o que havia lá fora. Seu olho quase ficou cego com a coruscante luz das nuvens e do sol que as vazava feito miríades de anjos escamosos. Quando voltou ao fundo do lago, após se recuperar da cegueira momentânea, resolveu contar aos outros peixes o que havia visto lá em cima e contrariar a dança dos cardumes sob as sombras cambiantes. Foi o seu erro. A luz fora o seu anzol!

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Ladrões de supermercado, de shoppings e lojas de conveniência geralmente são grandes e inconscientes atores cinematográficos. Como tais, devem ter uma tremenda percepção das câmeras que os vigiam o tempo inteiro, e, sem nunca olhar para elas, de um modo bem intuitivo, como James Dean ou Marlon Brando sentiam, sentir a presença e o foco de cada uma delas quando estão atuando! Talvez por isso eu seja um péssimo ator. Basta saber que uma câmera me vigia que mal consigo coçar o nariz, imagina roubar algo! Mas gosto de, vez por outra, me apresentar como preparador de atores e pedir ao gerente de certos magazines para olhar por um tempo as telas de monitoramento. Um inocente voyeurismo! Fico horas até achar um suspeito e me deleito com suas habilidades em roubar um desodorante, um chocolate ou um par de meias! Como são graciosos e performáticos! Escorregam, olham para um lado, fingem coçar uma parte do corpo e... voilá! Disparue! As mulheres então, mon Dieu! Como são maestrinas em esconder coisas! Não fossem as inevitáveis conotações sexuais que, aliás, abomino, passaria horas descrevendo pra vocês o furto elegante das nossas matronas respeitáveis! Fica para o livro que eu escreverei para o ano!


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