O NOME DO AMOR!

O prazer que sentimos ao recuperar uma lembrança que julgávamos perdida é proporcional ao tempo em que tal lembrança esteve soterrada e esquecida. Lembrar-se de algo que vivenciamos na semana passada não chega a provocar um avo do prazer sentido ao recordar o nome de uma namorada do ginásio, há 30, 40 anos transcorridos, por exemplo. Posso afirmar isso por conta do que me ocorreu há cerca de algumas semanas passadas. Encontrei-me casualmente com uma garota – hoje já mulher feita – que eu havia conhecido em uma festa de formatura e com quem eu havia conversado a noite inteira,  encantados e flechados por cupido. Despedimos-nos com um beijo tímido jurando nos encontrarmos no outro dia. Um imprevisto – são tão frequentes esses desencontros separando os amantes que nem deveria ter esse nome – findou por nos separar “ad tempore”. Quando a vi na multidão, imediatamente a reconheci, como também, no mesmo átimo, voltara todos os sentimentos nascidos naquela noite enluarada de verão e dormidos no mesmo lençol do passado onde ela, a adolescente encantada, estivera embrulhada. Desgraçadamente, de tudo que me assaltou a consciência e o coração, apenas o nome, caprichoso por natureza, deu de me faltar. Estava, como se diz, na ponta da língua. Em segundos ela se perderia engolida pela multidão de transeuntes. Se eu a abordasse sem chamar o seu nome, todo o encanto estaria perdido, pois é justamente o nome a chave que abre as portas do castelo onde se escondem os tesouros da nossa alma. Contorci-me inteiro, fervi os miolos com descargas de mil megatons, o coração reclamou injetando uma ereção violenta de sangue quente na chapeleta do meu cérebro e – milagre dos milagres! – o nome dela surgiu feito um sol radiante! Senti um êxtase violento ao recordar o nome dela, nesta hora confundindo eu tal alegria com os outros e tais sentimentos adormecidos. Chamei-a pelo seu nome entre uma panóplia de ruídos urbanos e caóticos. Senti seu nome vibrar feito uma onda de luz por entre nuvens de fuligem sonora e sons de óleo diesel até parar o mundo e ela voltar-se em minha direção, seu sorriso refletindo e devolvendo a alegria de um mágico reencontro. Resumo da ópera: conversamos muito ali mesmo na rua, trocamos telefones, eu voltei a procurá-la, saímos duas vezes e acabamos consumando o nosso romance interrompido por 30 longos anos! Para o horror das mulheres românticas que leem esse relato empolado, o prazer que tive com ela na cama, se possível fosse de comparação, não chegaria nem a 0,05% do prazer que senti na rua ao lembrar-me do seu nome!