terça-feira, 31 de outubro de 2017

PÁGINA SONHADA DE UM LIVRO DA INFÂNCIA!



Sonhei esta noite que uma grande represa iria ser construída em Itambé-Ba e inundar boa parte da cidade, principalmente a parte baixa, mais antiga.
Encontrava-me na casa do finado médico, professor e ex-prefeito Auterives Maciel e ajudava sua filha a recolher seus pertences em uma escura biblioteca. Havia ali enciclopédias inexistentes na vida real, mas eu as folheava com tanta intimidade que parecia ter sido eu próprio quem escrevera seus fantásticos verbetes: outros planetas habitados, ferramentas estrambóticas, animais com mil olhos e seis asas feito os anjos de Ezequiel... Das gavetas recolhíamos moedas antigas de impérios e cédulas de países de nomes poéticos, punhais de prata (por um vago lampejo, quase me lembro de Borges em sua Biblioteca e quase acordo), telas que ele havia pintado quando estudante em Salvador, cheias de papagaios e baianas sorridentes do Pelourinho, além de muitas cartas espalhadas, algumas delas de personalidades famosas. Chamou-me a atenção uma carta de Adolf Hitler perguntando ao médico que tipo de toucinho usar para fazer um apetitoso torresmo! Folheando seus engordurados cadernos manuscritos, com sua caligrafia encharcada em tinteiros de tinta Pelikan e copos de aguardente Genebra, encontrei esse verso mimoso:

NINGUÉM IRÁ SE INDISPOR,/
COM ESSA MOÇA TÃO SUPIMPA,/
SE ELA ME ABRIR SEU PAR
(de coxas),/
E ME DER O SEU ÍMPAR!
Acordei com uma estrondosa gargalhada. Passei toda a manhã recordando os detalhes do sonho e pensando quem seria essa moça tão supimpa. Seria a filha de Seu Quinca?

P.S. Até pouco tempo atrás, possuía comigo uma carta do Jorge Amado me pedindo uma tradução de um texto francês sobre o livro Capitães de Areia. Esse médico citado, Dr Auterives Maciel, fora colega e amigo de Jorge Amado no curso Ginasial, em Salvador. Pode ser que, ao vasculhar no sonho as cartas de missivistas célebres, tenha passado pela minha mente sonhadora esta carta do Jorge Amado e fiz na hora esse mimoso verso inspirado no mestre dos chistes jocosos e da sensualidade tropical!
P.S Secundum:  A foto marca com uma seta o local da Biblioteca de Dr. Auterives. Dela, Betuca, filho do médico, apanhava livros do pai e me emprestava. Tendo eu 11 anos de idade, ele me emprestou as obras A MÃE e O ESPIÃO, de Máximo Gorki, romancista russo ideólogo do comunismo soviético. Fiquei empolgado e decidi na hora me tornar um Comunista! Iria criar o Partido Comunista de Itambé e detonar aquela bagaça de fazendeiros escravocratas! Pra minha sorte, fui aconselhado pelo meu professor de Inglês Geraldo da Moto, a desistir daquela ideia tola! Como eu não possuí a doutrina para argumentar, só os sentimentos emprestados pelo Gorki, Geraldo conseguiu me contagiar com sentimentos antípodas e antídotos, os sentimentos da cultura hippie norte-americana a que ele era apaixonado! Falava-me de Rock And Roll, de motos selvagens na Highway 66, de coisas fantásticas que o dinheiro podia comprar e que não existiam em países comunistas. Devolvi os livros do Gorki!
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