sábado, 26 de agosto de 2017

UM CHAMADO DO ALÉM - Micro Roteiro 05 ms



 Cena 01 – 
Frente de uma pousada no final da tarde. Um carro estaciona. Salta um rapaz que se dirige à recepção. 
Uma garota extremamente pálida o atende e alega não ter vagas, devido a um evento esportivo na região. O rapaz pede permissão para dormir dentro do carro, no estacionamento. Ela consente. Mal ele retorna ao carro com expressão de profundo cansaço, ela o aborda e lhe oferece um quarto “provisoriamente vago”. Um antigo inquilino, muito boêmio, estava a três dias sem aparecer e, provavelmente, só retornaria no final dos festejos. Ele poderia dormir no quarto do boêmio, sob a condição de ter que voltar para o carro se o inquilino desse o ar de sua graça no meio da madrugada. Ele aceita e ela o conduz até o quarto. Ela mostra um guarda-roupas onde estão os pertences do inquilino. Provavelmente trancadas. Ele pede que ele não mexa em nada e improvise sobre uma mesa e uma cadeira os seus objetos pessoais. Ela sai, antes lhe entregando um par de toalhas, sabão e cobrando antecipado a pernoite. Ele joga a sacola sobre a mesa, toma um banho e se joga na cama onde rapidamente adormece sob a luz de uma tempestade que corusca na janela.

Cena 02 – Um estridente ring-tone desperta o rapaz do sono pesado. Ele tateia na penumbra e apanha o celular.

Voz em OFF – Alô! É do quarto 25? Pousada Flores?
Geraldo apanha a chave e confere o número na Etiqueta:
_ SIM!
Você ta hospedado aí, no 25?
_ Sim.... não.. isto é...
_Tá ou não tá, porra?
_ Qual o problema meu amigo? Você é o dono do quarto, por acaso?

_ Sou eu mesmo  - (A voz em OFF parece se acalmar lentamente) - Liguei para a recepção e deram-me seu número. Preciso muito de um favor seu, meu camarada!
_ Se você quer o seu quarto de volta... Pode vir cara, eu já estava prevenido.
Geraldo faz cara de resignação estoica e se prepara para levantar. A luz é mortiça e provém do banheiro de porta semi-aberta.
_ Não. É de outra coisa! Escute bem que o bagulho é sério e o bagulho é muito doido! Faz bem uns três dias que eu estou andando por um lugar sinistro. Só neblina pra tudo que é lado. Eu não durmo, não sinto sono, nem frio ou calor, não como nada nem tenho fome... Só andando mais perdido que girassol em dia nublado! Até que cheguei perto de uma imensa mesa de granito, no meio do nada, com um enorme telefone em cima e consegui telefonar....
_ Caramba, velho! Você tá muito doido. Deixa-me dormir, bróder. Depois você me conta sua onda!!!
Eu to desesperado! Mas chapado, não! Veja minha voz se parece voz de maluco! Acredita em mim. É serio...
_ ...
A parada é a seguinte, rei: Há três dias atrás, voltei da night altas horas... Queria dormir o dia todo, mas sabia que a dona da pousada iria me acordar para cobrar o aluguel. Pra evitar esse problema, deixei a porta do quarto encostada pra ela ver que eu não estava e entrei no guarda-roupa, fechei por dentro e dormi ali dentro. Mas acho que eu morri, manôôô! Morri aí dentro do armário! Você precisa só abrir a porta e confirmar pra mim! Por favor, irmãozinho! Tô com muito medo!!! Eu não quero morreeeeeer!
_ Cara! Você é doente! Ou então é alguma pegadinha de merda! Vou desligar essa porra! – Geraldo está sentado sobre a cama.
_Desliga não, cumpadi, que eu vou lhe provar agora! Posso ver por baixo da neblina, através do piso de cristal, o quarto onde você está. Você tá usando um corrente de prata no pescoço, com um crucifixo, tem uma cicatriz no ombro e ta usando só um pé de meia....
Geraldo salta de um pulo para o meio do quarto! Acende a luz e vasculha com os olhos o teto e as paredes:
_ Que porra! Tem câmera aqui dentro! Meu tio trabalha na polícia! Boto vocês todos em cana!
Qualé mané câmera, meu irmão! Você tá tão pirado quanto eu!!! É só puxar com força a porta do guarda-roupa. Tá só no calço. Vai lá, primo! Dá essa força! Puxa aí.... Aiii meu Deus!
Geraldo, meio ressabiado, com medo de estar sendo filmado, segura na porta do guarda-roupa e puxa. Fechado! Puxa com mais força. Joga o telefone sobre a cama e segura a parte superior da porta com as duas mãos. O celular na cama geme:
_ Aiii! Num quero nem ver! Força, cumpadi!
Geraldo dá um safanão e a porta do armário se abre deixando cair sobre o piso do quarto um pálido e enrijecido cadáver em forma de múmia sentada. O corpo faz um som fofo ao bater no chão! Geraldo ensaia um grito de pavor! Escurece!

Cena – 03  Geraldo acorda sobre a cama com a expressão de um pesadelo. Estava sonhando e é acordado pelo som de mãos batendo na madeira. Ele pula da cama, se apóia na porta e fita o guarda-roupa com estupor. Então percebe que as batidas são na porta do quarto. Respira. Vira-se e abre a porta lentamente. A recepcionista pálida está bem em frente na porta:
_ Tudo bem, Seu Geraldo? Acordei-lhe, não foi?
Geraldo pasa a mão aliviado sobre o rosto suado. Lá fora ainda relampeja.
_ Estava tendo um pesadelo. Que bom que você me acordou! O que foi? O dono do quarto chegou?
A recepcionista desenha no rosto uma expressão diabólica. Estende-lhe um celular e diz:

_ TELEFONE PARA O SENHOR!
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