quinta-feira, 12 de maio de 2016

UM AMOR ENCANTADO (PASTICHE DE UM CONTO CHINÊS)

 
Casa em Itambé-Ba construída por meu Avô José Santos Silva, neto de Henriqueta Prates e Primogênito de 12 irmãos mais novos. Tão logo aí se estabeleceu, meus avós adotaram uma linda menina, Arabela, que todos chamavam de Belinha ou Belita. Moça feita, se apaixonou por Olivério Maciel, um comerciante de gado da região, mas meu avô não aceitou o romance, pois ela estava prometida para Chico Ternura, próspero fazendeiro local. Desgostoso, Olivério se desfez do que tinha na cidade e resolveu ir embora para bem longe, viajando após dolorosa despedida nos braços de Belinha, para as Alagoas, terra de seus ancestrais. Quando já estava em Penedos, logo após cruzar a balsa no São Francisco e se hospedar no único hotel da cidade, recebeu um chamado na portaria, desceu e lá encontrou Belinha, de mala e cuia na mão, que havia fugido da casa de meus avós e viera no rastro de Olivério, seu amor sem o qual ela não queria mais viver. quase morreu de emoção. Hospedou-a em outro quarto, respeitosamente, e no outro dia, rumo à fazenda dos Maciel, já planejaram o casamento. A festa foi inesquecível e durou uma semana. Os noivos pareciam duas estrelas radiantes. Construíram uma pequena e bela casa em uma suave colina nas terras da família dele e ali viveram um grande amor. Após oito anos vivendo um para o outro e labutando duro na fazenda, Belinha começou a sentir saudades de casa, falava sempre e cada vez mais dos meus avós - que para ela era os seus únicos pais, pois fora adotada ainda nos panos - e deu para entristecer nas ave-marias pungentes do sertão! Olivério não a queria triste e decidiu trazê-la até Itambé, mesmo temendo os riscos, mas confiando em Deus e no perdão dos pais de Belinha. Viajaram desta vez em um carro fretado, uma rural aerowillis, de cor laranja, ou talvez tenha sido a lama das estradas chuvosas a responsável por essa cor na minha memória. Chegaram cansados, se hospedaram em uma pequena hospedaria conhecida pelo nome de Hotel de Maria Gorda, e planejaram ir no outro dia bem cedo, de surpresa, visitar os meus avós. Belinha ficou no Hotel enquanto Olivério se aproximou e tocou a companhia. Minha avó lhe atendeu e prontamente lho reconheceu. ele se ajoelhou e pediu mil desculpas! Contou que Belinha era hoje sua esposa, muito feliz e que morria de saudades dos pais queridos, e que estava no hotel esperando o perdão e a permissão de vir visitá-los. Minha avó o tomou como um louco e pediu a um servente da casa que o pusesse para fora! Antes de sair, percebendo que Olivério não estava completamente biruta, disse-lhe a mais pura e dolorosa verdade: tão logo ele viajara de Itambé, na mesma noite, desgostosa da vida, Belinha tentara o suicídio e desde então vivia inconsciente, eternamente desfalecida sobre uma cama, vegetando e sem de nada mais ter qualquer consciência! Olivério voltou para o Hotel sem saber o que dizer para Belinha, como se o chão tivesse se aberto e ele caído em um mundo de pesadelo e alucinação. Sabia - não poderia imaginar outra coisa - que a minha avó estava zombando e fazendo ele de palhaço. Iria apanhar a esposa e voltar de lá mesmo, do hotel para às Alagoas. Mas Belinha parecia ter pressentido algo e já estava o esperando na porta, linda, com uma flor de laranjeira nos cabelos castanhos e um brilho celestial nos olhos de mesma cor. Caminhou resoluta, passando por ele como se não o conhecesse em direção à casa dos seus pais. A casa dos meus avós também estava experimentando uma imensa transformação com gritos de alegria, janelas abertas e corre-corre de vizinhos. Tão logo Olivério Maciel havia se afastado, Belinha havia acordado do coma causado pelo veneno, coma de exatos oito anos e andava pela casa prontamente restabelecida, falando com todos e beijando os pais, irmão e sobrinhos ( me lembro vagamente, ainda no berço, de uma mão iluminada a acariciar meu rosto - ou inventei depois essa lembrança). Saiu pela porta em direção à rua em direção à outra Belinha que já se aproximava e que parou, em transe, em frente de uma casa vizinha, de onde essa foto foi batida, e que hoje é a casa da Família do saudoso Paulo Achy. As duas andaram em passos etéreos uma em direção da outra, sorrindo, se abraçaram. Em um segundo mágico e por obra de Deus Maravilhoso, em plena luz da manhã, as duas Belinhas se fundiram em uma só: a mesma e amada tia Belinha que ainda vive entre nós ao lado do seu marido Olivério Maciel, aqui em Vitória da Conquista, e onde eu sempre vou tomar café com bolo, pedir a bênção e ouvir deles essa que é, para mim, a mais encantada e linda história de amor do Sudoeste baiano. Só lamento que eu não saiba contar com o esplendor de quem a presenciou!
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