sábado, 18 de março de 2017

HISTÓRIA VINDOURA DA ETERNIDADE.




    Façamos uma rápida reflexão sobre a natureza do tempo, sobre suas três dimensões conhecidas, o passado, o presente e o futuro.

O senso comum nos diz que o passado não existe mais, o futuro ainda não chegou e que tudo que existe é o presente. Os estoicos reforçavam essa tese falando de O PRESENTE DOS CORPOS, realçando a materialidade como fiadora da existência exclusiva dessa dimensão. Só existe o presente porque os corpos só nele podem habitar. Vamos um pouco mais longe e analisemos este presente. Absurdamente constatamos que sua única condição de existência é que esse presente ou é eterno, e com isso não poderia haver as outras dimensões (apenas uma congelada eternidade) ou ele deveria surgir e desaparecer de modo simultâneo, o que significa não existir também. Veja porquê: se o presente surgisse primeiro para depois desaparecer, por menor e infinitesimal que fosse a duração desse presente, haveria nele, feito duas faces de uma moeda, um início diferente do fim, sendo esses dois pontos passado e futuro um para o outro! Como passado e futuro, na tese do senso comum, não podem existir, esses dois momentos do presente findariam por se anularem, emagrecendo e corroendo o presente até este desaparecer no frio esplendor do nada! Constatamos que o presente só pode existir se as outras duas dimensões lhe derem um empréstimo de ser, e só se empresta aquilo que se tem: O passado e o futuro devem necessariamente existir por essa via em que estamos a pensar! Ora, se o passado e o futuro também existem, porque nós – e todos os corpos – não podem habitá-lo? O que nos interdita? Vejamos que auxílio pode nos dar as modernas teorias da física moderna. A Teoria da Relatividade afirma que a gravidade age sobre o tempo, ou blocos de espaço-tempo para ser fiel à teoria. É possível que o presente em que vivemos seja definido não por nossa capacidade psicológica de contrair sensações e formar um pacote relativamente denso de dados sensíveis formando um presente vivo, diferente em graus de outros seres vivos (essa é muito sumariamente a tese da psicologia advinda principalmente de H. Bergson). Talvez essa delimitação do presente relativo às outras dimensões seja determinada PELA CURVATURA DO TEMPO, pelo ângulo temporal em que ele é curvado. Seria esse ângulo temporal que definiria o que experimentamos como presente. Assim como não podemos perceber nada para além de uma curva, não poderíamos vivenciar o passado e o futuro que, entretanto, existiriam – embora vazio de corpos, corpos estes compactados e espremidos na curva gravitacional do espaço – mas plenamente desenhados, definidos e organizados. Suprimamos, por um segundo, com o auxílio da nossa imaginação, a existência de qualquer força gravitacional, por exemplo, façamos o planeta terra e todo o sistema solar desaparecer em um estalar de dedos. O espaço imediatamente se expandiria vertiginosamente, pois sabemos que a gravidade age no espaço, no tecido que outrora chamávamos de vazio. O que aconteceria com o meu e nossos corpos? Eles iriam inflar na mesma velocidade, espacialmente considerando, mas... Pasmem!... Essa expansão se daria também e na mesma proporção no tempo e na maneira de habitá-lo! Cresceríamos para o futuro e para o passado, o presente iria se alargando como uma mola que se distende ou um rolo que se abre sobre uma mesa revelando as imagens nele dobradas. A expansão do nosso corpo material na ausência absoluta de gravidade implica que nosso tempo vivido se dilate também nas duas dimensões. A manhã que agora é passado em relação à noite em que escrevo isso me seria devolvida como um time-lapse ou um destes fenômenos de edição digital onde meu corpo, que saiu de manhã para ir ao trabalho e voltou de noite para casa fosse doravante algo parecido como uma grande serpentina habitando todos os lugares e eventos vividos, o banco, o restaurante, o escritório... Tudo vivido simultaneamente como um gordo presente assim como também me seria dado uma parte do que, tradicionalmente, o incerto futuro dessa próxima madrugada já tenha me reservado. Esse dilatamento dos corpos se dá apenas pela expansão do espaço entre suas partes elementares, em nada modificando a matriz das forças envolvidas. Assim sendo, os corpos podem sim, ocupar como um largo presente aquilo que, na presença de um campo gravitacional opressor, descartamos como passado e futuro inexistentes. A imagem de uma casa de espelhos, com infinitos reflexos superpostos, pode ser uma vaga ilustração dessas três dimensões que se atualizam compactando e unindo corpos e acontecimentos em um vívido cenário expandido, à condição de pensarmos esses reflexos como tridimensionais e encaixados. Mirabolantemente, os gregos antigos já haviam pensado algo parecido quando falavam do tempo cronológico, associando aos Deuses do Olimpo, por suas dimensões cósmicas, um presente mais largo do que o nosso, humanos minúsculos! Que genial insight! Os gregos eram mesmo maravilhosos! Mas voltemos ao mundo da física moderna. É compreensível que essa dilatação do presente seja acompanhada por um relaxamento no que chamamos de fluxo do tempo. Na medida em que o presente se dilata, espera-se um retardamento no seu transcorrer, como se mais gordo, mais lento (quase imaginei ofegante). Quando uma espaçonave viaja em alta velocidade e se aproxima da velocidade da luz, os físicos afirmam que seus navegantes experimentam um tempo mais lento, a ponto de um pai embarcar em uma viagem estelar e, na volta, encontrar seu filho, que aqui ficou, mais velho do que ele. Na verdade, ao voar no espaço sideral, esse astronauta escapou dos comprimidos campos gravitacionais do seu planeta, deu uma bela de uma esticada, no espaço e no tempo, vivendo como um largo presente aquilo que seu filho viveu como uma vertiginosa sucessão de momentos separados. Os físicos também falam que essa espaçonave, ao se deslocar em vertiginosa velocidade, começa a se comprimir, contrariando, aparentemente o aqui exposto. Aparentemente, pois o que acontece com essa espaçonave é que ela, na medida em que escapa do campo gravitacional, vai sumindo na curva inchando-se para ângulos que não podemos ver (aqui podemos aplicar o fenômeno ótico das paralaxes) e deixando à vista o minúsculo rabo diminuindo até desaparecer no espaço! Sobre essa visão que sofrivelmente esboço, pensei no apóstolo Paulo quando este dizia: ... Agora, portanto, enxergamos apenas um reflexo obscuro, como em um material polido; entretanto, haverá o dia em que veremos face a face. Hoje, conheço em parte; então, conhecerei perfeitamente, da mesma maneira como plenamente sou conhecido! Penso não ser muito pretensioso em batizar esse meu apontamento como uma Introdução ao vigésimo volume da minha Inédita e escrita no futuro, mas já lentamente aqui apresentada, HISTÓRIA DA ETERNIDADE!

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