sexta-feira, 11 de março de 2022

A FUGA DAS GALINHAS!

 


Considerando que Vitória da Conquista – esse arremedo de cidade – possui os cartórios mais cretinos do interior do estado, e precisando urgente de reconhecer firma em alguns documentos, decidi ir até a cidade vizinha de Itambé-Ba, onde não se gasta mais de dez minutos para autenticar um documento. Liguei para um amigo que vai lá todos os dias, e combinamos. Tão logo aproximei-me da Serra do Marçal, à vista de suas colinas verdejantes e sob o céu limpo das nuvens viciadas de Conquista, a inspiração voltou-me e começamos espontaneamente a conversar. Não me recordo que rumo a conversa tomou para que falássemos de evolução das espécies animais. Talvez por ele ser um aposentado professor de ciências. Comentei que o grande fenômeno despercebido pelo homem egocêntrico, é que os animais estão evoluindo, desde milênios, acompanhando a evolução humana, e que nunca percebemos isso. Como exemplo, citei um fato curioso: quando o automóvel se popularizou no início do século vinte, na América do Norte e os Ford modelo T, conhecidos no Brasil como Ford bigodes, se espalharam por todo o interior do país, quase que a população de galináceos se extinguira por lá, tanto que era os acidentes. Os animais simplesmente não se atinavam para o que vinha de lá fumegando e buzinando como um pato rouco. As ruas ficavam coalhadas de aves domésticas esbagaçadas pelos pneus feitos com a nossa “hyllea amazonensis” borracha. Hoje em dia – continuei – é quase impossível você atropelar uma galinha, pois elas já conhecem de longe o ronco, a marca e até as regras de trânsito, a tal ponto que, se você virar uma curva intempestivamente sem ligar a seta, bem capaz de ouvir um assustado cacarejo que, traduzido do cacarajês, significaria: “dê sinal, fi di rapariga ruin!” Fi di uma lascada!” e outras expressões típicas de frangos e galinhas!

Mal terminei meu superlativo exemplo, quando surgiu na beira da estrada o cadáver de um cachorro morto, atropelado. Meu amigo me olhou com um sorriso de esgar no canto dos lábios e comentou, meio desconfiado:

_ É, Cassiano! Parece que os cães não evoluíram tanto como as galinhas norte-americanas! 

Repliquei na bucha:

_ Evoluíram, sim! O brasileiro é que andou dando pra trás, feito rabo de cavalo. Involuindo. Pois se tornaram malvados e deliberadamente atropelam os pobres animais por puro instinto de perversidade. Não viu as marcas de pneu ao lado do cão morto sugerindo que ele quase capotou só para cometer seu bestial assassinato?

Ele olhou para o retrovisor. Era mais crível para aquele homem bom acreditar em um louco assassino de cães solto na BR, do que pensar que eu estivesse mentindo. Por isso que eu gosto do povo do interior!

Share this post

0 comentários :