Sabemos
como nossas memórias parecem habitar um tempo próprio, acronológico, na
medida em que a ordem com que elas aparecem, sua vivacidade e sua
presteza em comparecer quando convocadas parecem não sofrer nenhuma
influência do tempo transcorrido. (Uma lembrança da infância é mais
vívida do que uma recordação do mês passado não porque nosso cérebro era
então mais vivaz, pois mesmo crianças
vivíamos esquecendo coisas e éramos cheios de lembranças vagas). Sobre
esse fato inconteste, podemos refletir o seguinte: O Nosso cérebro é
eminentemente espacial, classificador, organizador, analítico. Somos tão
constituídos por um inato senso de direção e localização que quase
nunca percebemos como o nosso cérebro está o tempo inteiro coordenando
movimentos e reconhecendo direções em tudo ao redor. Sendo assim, seria
de se esperar que nenhuma lembrança fosse registrada sem que,
automaticamente, sua data precisa lhe fosse etiquetada. E isso é bem o
que acontece com esses cérebros prodigiosos analisados por Olivier
Saacks e a neurologia moderna, pessoas que são capazes de se lembrar de
tudo que lhes acontece ao longo de décadas. Isso é o que o nosso
cérebro, em maior ou menor grau, faz com todas as lembranças (tenho
quase certeza que essas pessoas que se lembram de tudo, de todos os
horários e datas, quando sonham, quando seus cérebros relaxam, elas
sonham como todo mundo sonha, no tempo puro da memória, tempo da
imprevisibilidade e da fantasia que tudo embaralha. Alguém pergunte isso
ao Olivier ou a outro neurologista que estiver debruçado sobre o tema).
Seria leviano supor que a existência de lembranças não datadas é apenas
um déficit do cérebro que as armazena pois o fato é que elas estão
conservadas em algum lugar, como se algumas pessoas guardassem as
lembranças nas páginas numeradas de um álbum enquanto outras as
guardassem soltas no espaço livre entre as folhas, ali onde fica
guardado o aroma do tempo que passou, na alma!
₢ CRS
₢ CRS
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