_ Eu me esforço para ter uma idéia do infinito, mas não consigo! - Comentou como se falasse para si mesmo, com o olhar perdido nas pascalinas profundezas de um céu índigo-blue.
_ Um universo infinito soa tão absurdo para a minha razão... Você também não pensa assim?
_ Talvez você esteja concebendo o infinito com a imaginação e por mais que você imagine uma vastidão do espaço, haverá sempre mais espaço em volta até o limite final estabelecido pelo fatal cansaço da sua imaginação...
_ Então é impossível conceber o infinito?
_ Enquanto quantidade, sim; impossível! - eu falava como um professor - mas enquanto qualidade, não. Posso conceber uma coisa que possua, entre outros atributos, essa estranha propriedade de não ter fim, e isso sem nenhuma contradição.
_ Não seria apenas um jogo semântico? Possuir um conceito de infinito significa necessariamente que algo infinito exista?
_ Experimente pensar em algo que lhe seja mais íntimo: o amor, por exemplo. Você provavelmente já amou alguma vez.
Seus olhos se voltaram para mim e brilharam mais do que as estrelas.
_Sim! Muito!
_ Seu amor era Infinito, ou tinha limites?
_ Era infinito!
_ Não seria apenas um jogo semântico? - Provoquei-a
_Não. Era mesmo infinito; entretanto, teve fim... Não o amo mais.
_ Você mudou, ou o seu amado, ou os dois mudaram, mas não o amor. Sempre que amamos, o amor é infinito. Como ele, também o universo não tem fim apesar da ciência confundir, na arrogância dos seus folhetins, o limite da especulação e da tecnologia com o termo final, no tempo e no espaço, do universo sideral. Eu até diria até que o universo e o amor são uma só e mesma coisa, mas você me acusaria de espinosismo ou coisa pior...
_Seria infinita também a matéria do universo?
_ Necessariamente! - Conclui lhe escondendo as premissas - pela eternidade afora estaremos sempre descobrindo mais e mais galáxias, novos conglomerados e distantes nebulosas. As teorias científicas terão que ser reformuladas a toda semana para estender os limites e apaziguar o espírito humano que diante do infinito e do amor, sempre treme de medo.
_ Uma teoria cosmológica a cada semana! Agora entendo como a ciência é folhetinesca!
_ Neste universo infinito existirá infinitos planetas iguais ao nosso, com infinitos casais em um chalé nas montanhas contemplando as estrelas, e infinitos mundos semelhantes com diferenças variando de uma lua dupla a um grão de areia, uma terra onde floresce a rosa azul, outro com desertos de ouro em pó e dragões vermelhos...
_ Agora é você quem esta imaginando!
_ Sim! E, como espelhos conjugados, imagino infinitas Reginas a ouvir um poeta a sonhar na varanda; talvez, em um destes mundos, exista uma capaz de amar ao modo infinito e de sentir o amor secreto a ela dedicado e capaz de inspirar infinitas palestras...
Regina segurou a minha mão e comentou com um discreto sorriso:
- É possivel que este mundo esteja mais próximo do que imaginamos!
Eu estava definitivamente nas estrelas, com o olhar perdido no seu rabo de cometa. Lembro-me de ter concluído como se conhecesse o universo inteiro:
_ Seria sem dúvida o melhor dos mundos possíveis! - E fechei os olhos à espera de um beijo!
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