Essas
lâmpadas públicas possuem uma célula fotoelétrica que acusa a presença da luz
solar e as desliga, assim como percebem a queda da luz ambiente e acendem.
Quado meu filho era menino de 9 anos, ele vivia com os avós na Chapada
Diamantina e eu ia todo bimestre visitá-lo. Quando não podia levar-lhe algum
brinquedo fabuloso, eu comprava pequenos apetrechos, que no meu tempo de
infância seriam considerados troféus magníficos. Entre estes, levei certa vez
uma pequena lanterna laser, tamanho de um chaveiro, muito usada por professores
para apontar tópicos em slides projetados na sala de aula. Eu não sabia que
estas lanternas eram capazes de apagar uma lâmpada de iluminação pública se o
feixe do laser incidisse exatamente na pequena célula fotoelétrica. Mas meu
filho sabia!!! Apenas não me disse nada. quinze dias depois do meu retorno à
Salvador, soube por sua professora, com quem eu falava sempre ao telefone, que
a cidade estava muito perigosa, com recomendações aos pais e alunos para não
ficarem nas ruas até tarde. Algo estava acontecendo com a iluminação pública,
quando os postes todos se apagavam, deixando as ruas em sinistra e retinta
escuridão. O mistério só foi resolvido quando um colega do meu filho brigou com
ele e abriu o bico para a professora: meu filho saía de casa, tão logo a noite
caía e, com astúcias e disfarces que, com certeza, puxou-as da mãe, mirava um
laser perfeito na lâmpada e, ali mesmo no bojo da escuridão resultante, ele
deslizava invisível, pulando de ilha em ilha de escuridão, sapecando outro
laser e cruzando as ruas tortas da pequena Barra da Estiva-Ba, como um pequeno
anjinho fotofóbico! Com nove anos de Idade! Hoje ele está se formando em
Engenharia Mecânica na Universidade Federal da Bahia! No que será que esse moço
está tramando? Só de pensar perco o sono!
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A
propósito, sobre iluminação noturna de cidades pequenas do interior, recordo-me
muito bem do singular episódio que proporcionou madrugadas iluminadas em minha
cidade da infância, Itambé-Ba. Final dos anos 60, do século passado, e nossa
cidade possuía apenas três horas contínuas de iluminação, pois a energia
elétrica era fornecida pelos geradores à óleo diesel que alimentava a fábrica
de laticínios Garota e esta, para renunciar aos impostos municipais, mantinha
os geradores ligados e alimentando os postes de madeira e lâmpadas
incandescentes até às 22 hs. Após este horário, o manto negro da noite descia
sobre as ruas descalças e as sombras tangiam para casa os mais boêmios que se
arriscavam a perambular pelos lupanares e praças do local. Esta fábrica, de propriedade
da primeira dama do Estado, na época era administrada por um distinto senhor,
de nome Manoelito, assíduo leitor dos jornais da capital e intelectual
autodidata. O país vivia a consolidação do governo militar e o combate aos
terroristas da esquerda se espalhava por todo o interior, criando um clima de
expectativa e efêmera curiosidade nos moradores, exceto em Seu Manoelito que,
diante do recrudescimento do conflito armado e difuso, temia ser identificado
como um simpatizante dos terroristas - era apenas um comunista utópico, sem
militância nenhuma - e sofrer algum tipo de represália por sua secreta
simpatia. Soma-se a isso o fato de que fornecedores rurais de leite,
insatisfeitos com os preços, faziam insinuações cada dia mais graves sobre um
suposto envolvimento dele com guerrilheiros fugitivos de passagem por nossa
cidade. Falavam até de um recanto secreto nos fundos da fábrica - local onde
uma vez ele enterrou uma fortuna pessoal para escondê-la de uma imaginária
prisão, quando sua paranoia veio a tomar dimensões patológicas anos depois -
onde haveria guerrilheiros alojados e escondidos. Em longas noites insones,
contemplando a vastidão dos espaços infinitos no céu que lhe enchia de opressão
o peito, tomado pelos fantasmas de toda espécie que, se unindo em torno de um
único medo objetivo conseguem um mínimo de materialidade para roçar uma cortina
ou ranger uma porta nos fundos, assustando suas vítimas, Manoelito começou a
temer a escuridão, outrora tão benfazeja, como bem sabe os noctívagos que amam
ler à luz de velas. Houve uma noite em que seu medo de que homens do exército
estivessem se movendo na escuridão retinta para lhe sequestrar adquiriu tamanha
intensidade que Manolito, de roupão e ceroulas, calçou uma galocha de fina
pelica e correu pelas ruas, com uma lanterna nas mãos, em direção à casa do
delegado Inhozinho Gusmão. Lá chegando, quase pôs a porta abaixo aos supetões.
O delegado o atendeu com um candeeiro à gás em uma mão e uma arma na outra.
_ O
que aconteceu, Seu Manoelito? Morreu alguém da família? Ladrões invadiram sua
casa?
Manoelito,
sem ter muito como definir sua angústia e paranoia, movido mais pelo instinto e
sem ter uma resposta ensaiada, olhou para trás, temendo alguém a lhe seguir e,
sem conseguir ver um palmo à frente da retinta escuridão onde o lampião não
iluminava, sussurrou:
_ O
SILÊNCIO! TÁ UM SILÊNCIO SINISTRO! NÃO SE OUVE NADA!
O
delegado Inhozinho não poderia esperar outra coisa de uma madrugada, em pleno
meio de semana, na pequena e pacata cidade do interior, senão o silêncio
sepulcral de todas as noites; mas viu ali uma oportunidade de encaixar um
pedido há muito acalentado por ele e por todos os moradores do lugar.
_
Seu Manoelito! Quem sabe essa sua inquietação com o silêncio não seja efeito da
escuridão que cobre nossas ruas todas as madrugadas? Não lhe parece que os dois
andam juntos, as trevas e o silêncio? Eu pessoalmente sinto muito mais incômodo
com a escuridão do que com o silêncio, seu irmão mabaço! Não seria o caso do
senhor, doravante, deixar os geradores da fábrica funcionarem por toda a
madrugada e assim manter nossas ruas iluminadas?
Dito
e efeito. A ideia caiu como um trovão que desaba bem perto, sem intervalos
entre o som e o relâmpago. Na outra semana providências foram tomadas e um novo
tempo de madrugadas iluminadas deu o ar de sua graça na minha pequena cidade.
Justamente nesta época em que, sofrendo de insônia, por outros motivos, vivi
uma horripilante e macabra aventura, cujo link para o texto o deixo abaixo, nos
comentários! Leiam. Se você chegou até aqui, é sinal de que textos enfadonhos e
chatos não conseguem lhe parar!
(Link
Para a Novela A MADEIRA MÁGICA DE ITAMBÉ):
http://cassianoribeiro.blogspot.com/2014/07/argumento-para-um-roteiro-de-animacao.html
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Um dos meus primeiros amigos de Infância, Ruy Pithon! Seu pai,
homônimo, quando ia para a fazenda levava-me com eles em uma Aerowiilians rural
azul e branca, lá pras bandas da Serra do Tomba. Eu não deveria ter mais de
seis anos. Após uma longa tarde de peraltices na fazenda, voltávamos no começo
da noite quebrados de sono! O pai dele, para que não dormíssemos na estrada e
ele ficasse sem companhia para conversar, inventava uma assustadora lorota:
CRIANÇAS QUE DORMISSEM DURANTE UMA VIAGEM ACORDARIAM COM O SEXO TROCADO! Com
medo de chegarmos em casa transformado em duas mulherzinhas de saiote e batom,
eu e Ruyzinho mantínhamos os olhos arregalados, vermelhos de sono,
traumatizados de pavor (naquela época não existia essas crianças modernas que
viram travesti ainda no berço)!. Os anos se passaram e eu, errando pelo mundo,
descobri que nunca conseguia dormir em ônibus interestaduais durante a noite,
nem mesmo de dia se a viagem fosse longa. Já havia acostumado-me com essa
peculiaridade minha quando, chegando na idade em que passamos mais tempo a
refletir sobre a estrada da vida percorrida, tive um insight: MINHA DIFICULDADE
EM DORMIR DE NOITE EM ÔNIBUS DE LONGOS TRAJETOS ERA O TRAUMA, O MEDO RECALCADO
DE DORMIR E ACORDAR MULHER... OU PIOR... VIADO!
Que
lá no Céu, onde Ruy Pithon hoje se encontra, que ele se sinta perdoado! Hoje
estou curado dessa brincadeira e, quando viajo de ônibus, durmo igual um
colapeito estafado em cima de um encerado!
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