Apesar de, evidentemente, possuírem
os gregos – e, por extensão, todos os povos antigos -, as noções de lento,
rápido, e outros ritmos do movimento enquanto grandeza vetorial, isto é,
enquanto espaço percorrido, não possuíam eles um conceito claro do movimento
enquanto uma grandeza escalar, onde se considera o tempo gasto pelo móvel
enquanto se move. O conceito de velocidade parece ser um ilustre desconhecido
nos textos filosóficos e científicos de toda a antiguidade. Na Física, de
Aristóteles, a velocidade aparece duas ou três vezes apenas, e como noção
auxiliar na definição de modos do movimento, nunca como um conceito suficiente
e axiomático. Nos mais ilustres compêndios de astronomia, tal como o
Tetrabiblos e o Almagesto do Ptolomeu, apesar de ser causa das condições metereológicas e das estações, o tempo ainda é um número do movimento, ou uma cópia desqualificada da Eternidade, sua imagem móvel. Em momento nenhum o movimento dos astros
é condicionado por uma duração objetiva e real. De um lado temos o movimento pensado
como ritmo, em sua face exclusivamente ordinal; em outra face, a velocidade
pensada e confundida com o espaço cardinal (quem conhece os famosos paradoxos
de Zenão de Eleia, sobre a impossibilidade do movimento, pode imaginar que se
tratava de um blefe, um sofisma astucioso, quando na verdade o Zenão
simplesmente não era capaz, como hoje até mesmo uma criança o é, de pensar o
movimento pela sua face mais simples, voltada para o tempo onde o movimento
ocorre, até mesmo com mais propriedade do que no espaço percorrido. Não tivéssemos
as elegantes soluções do Henri Bergson para as aporias de Zenão e dos Eleatas
sobre o movimento, eu ousaria dizer que Zenão ficava prisioneiro dos incontáveis
dentes de um fecho-éclair, os segmentos do espaço percorrido, e não conhecia o zíper
que desliza sobre eles com uma simplicidade escalar. Lest but don’t least,
convém anotar que os gregos sequer possuíam a noção de aceleração, quando, dobrado
sobre sua face temporal, o movimento parece se erguer do espaço percorrido e
desenhar no céu do pensamento as asas de um tempo duplicadas, pois que uma
aceleração é um movimento pensado como uma variação desta mesma velocidade,
mista de espaço e tempo, em função de um tempo puro. Foi preciso que alguns
séculos se passassem (sic), para que o
conceito de velocidade desse o ar de sua
graça no palco principal do pensamento ocidental, e isso ocorreu quando Kepler
começou a desenvolver sua teoria das órbitas dos planetas. Basicamente, Kepler
afirmava que, em suas órbitas elípticas, os planetas percorriam áreas iguais em
intervalos de tempo iguais tendo o sol como uma das extremidades de um segmento
e o planeta em questão, a outra extremidade. Nos momentos mais lentos, o pouco
deslocamento do astro era compensado pela distância maior deste em relação ao
sol, o que, considerado como fator de cálculo da área, compensava sua lentidão
e gerava uma área igual a deste mesmo planeta quando, passando próximo ao sol,
tem sua velocidade acelerada e uma raio menor dentro do mesmo intervalo de
tempo considerado. Essa elegante descrição astronômica do movimento planetário,
reunindo os conceitos de movimento, tempo, velocidade e aceleração, que tanto
iria fascinar e inspirar Isaac Newton, era algo que um grego ou nenhum outro
homem da antiguidade poderia pensar, por uma estranha e insólita razão que
passo agora a vos apresentar: a profunda dificuldade que os gregos possuíam para
relacionar tempo e espaço, deve-se, na visão do filósofo Ludugero Heinck, ao
fato de que, naquela época, estas dimensões não estavam avizinhadas no desenho
do cosmos como hoje estão. Sabemos pela física teórica e especulativa que o
universo possui um número indefinido de dimensões, sendo que apenas quatro
conseguiram se inflar após a expansão do universo primordial. Como gomos de uma
tangerina que se expandiram em proporção alucinante enquanto as outras
dimensões permaneceram encolhidas, os três gomos que conhecemos como Altura,
Largura e Profundidade se expandiram colados, formando aparentemente uma única
dimensão, o espaço, enquanto o tempo expandiu tangencialmente a estas três,
tocando-as sem com elas misturar-se. Hoje sentimos o tempo como algo estranho,
embora íntimo, por, ao mesmo tempo, ser forâneo e vizinho às outras três
dimensões em que nosso corpo físico está imerso. É justamente este limite
comum, essa fronteira entre as dimensões que nos permite relacionar e entender
como algo que se passa no tempo pode também se dar no espaço, como é o caso do
movimento, da velocidade e, mais propriamente ainda, da aceleração. Parece que
no tempo dos gregos, estas dimensões ainda estavam bastante separadas, o espaço
e o tempo não possuindo ainda essa koinonia cutânea que permitissem a eles
fecharem o zíper da mente quando pensavam o movimento. Um dia, Fredrich
Nietzsche perguntou como seriam os sonhos dos gregos. Penso que já podemos lhe
responder, parcialmente, que, quaisquer que fossem os sonhos, dificilmente eles
poderiam sonhar misturando épocas e lugares como fazemos hoje (assim como não podiam integrar espaço e tempo em um conceito de velocidade, por se tratar, para o cosmo da época de grandezas irredutíveis.), pois para misturar
algo, é preciso ter um receptáculo comum onde se processa a mistura e isso, a
eles, faltavam. Penso até que essa mistura de tempos e espaços dos nossos
sonhos, algo quase universal na hodierna subjetividade e bastante ausente nos
relatos oníricos pre-romantismo, já esteja apontando para uma nova modificação na
textura das dimensões cósmicas. Assim como, sem que ninguém o soubesse até
hoje, Kepler inaugurou um novo capitulo na agrimensura das formas a priori da
nossa sensibilidade (Kant, autor desta nomenclatura, era o fruto amargo desse
eón), Albert Einstein seria o padrinho de uma nova disposição destas dimensões
que nos atravessa, capaz de pensar o espaço e o tempo já em si mesmo imbricados
e amalgamados, algo que o homem comum apenas consegue ao sonhar; Einstein, porém,
conseguindo sonhar acordado e pensar em sintonia com uma nova configuração das
dimensões cósmicas, ele mesmo não sendo nenhum gênio, mas apenas um cientista
sistemático que, por conta de uma circunstância infantil que não lhe permitia
compreender o mundo como estava este em vias de se transformar, e que por isso foi
chamado de um imbecil até o fim da adolescência, na verdade já estava com o seu
cérebro sintonizado com esta nova configuração dimensional, permitindo a ele
entender como algo de meridional evidência, o que para seus contemporâneos, nós
incluídos, somente em sonhos era possível. Não conta os relatos que, quando
publicou a sua Teoria da Relatividade, apenas cinco ou dez homens no planeta
eram capazes de entendê-la e, hoje, qualquer jovem doutorando pode conceber o
universo como na sua teoria explicado? Enquanto isso, apaixonado por ficção científica,
fico eu a matutar como iremos pensar e vivenciar o movimento, as acelerações, a
velocidade, os sonhos e os fenômenos no iminente futuro, considerando a
inquietude metamorfa do tecido cosmológico onde estamos mergulhados! Novas
dimensões irão se inflar e redesenhar o espaço de espirais e bolhas tridimensionais?
Conseguiremos enfim entender que o tempo concretamente passa ao contrário, que
viajamos do futuro em direção ao passado, que o que chamamos de memória é
apenas uma avançadíssima premonição do futuro e que somente a configuração especular
da nossa consciência é que inverte a percepção da flecha do tempo? Alguma coisa
nessa minha tese já poderia vos apontar uma vaga e nova configuração nesta
realidade transcendental assubjetiva e cósmica que nos molda e determina? Há mais
alguém acordado aí?
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LINK PARA CONHECER O FILÓSOFO LUDUGERO HEINCK:
https://cassianoribeiro.blogspot.com/2015/10/ludugero-heinck-o-filosofo-3d.html
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