quarta-feira, 31 de maio de 2023

EROS & PSIQUÊ - Uma Hermenêutica Neocon da Mitologia Grega!

 


Um dos mais emblemáticos mitos da cultura greco-romana, o mito de Eros (o amor) e Psiquê (a alma), carrega consigo, na transparência de sua simplicidade tão elementar (e injustamente acusado de ser um mito decadente e tardio), um segredo inefável, uma chave para explicar o mundo moderno em que vivemos: Psiquê vive em um castelo suntuoso com o seu marido, a quem ela é proibida de vê-lo. Eros assim lhe proibe porque sua missão era fazê-la se apaixonar por um monstro (vingança que a mãe de Eros, a deusa Afrodite, perpetrou por ciúmes da beleza profunda de Psiquê). Para não trair sua mãe, permitindo que ela o visse em corpo radiante e fatalmente se apaixonasse, ele segue amando-a como um esposo misterioso na retinta alcova do palácio, onde ele só aparece à noite! Um dia, vencida pela curiosidade, ela acende uma vela e transgride a interdição imposta pelo seu esposo. Sob a bruxuleante luz ela vislumbra a beleza olímpica do deus Eros e se apaixona incontinenti, no sentido de doravante ela desejar o corpo vislumbrado, a face erótica e carnal do desejo consumindo o amor sonambúlico e idealizado das noites escuras! Ele então foge com medo do castigo materno e ela passa a sofrer horrores por conta do seu amor desaparecido. Tardio na sua elaboração, esse mito explica justamente o amor na sua origem, aquele que sentimos na aurora de nossas vidas, quando nos apaixonamos loucamente por uma colegial, no quarto escuro de nossa infância aprisionada, sem possuír ainda nenhuma ideia do calor e do feitiço químico que evola do corpo da sua amada! Porém, basta que esse menino consuma seu desejo no corpo dela, ou mesmo tenha uma outra e dissoluta vida sexual com mulheres distintas, basta-lhe conhecer a natureza corpórea do amor, para que aquele sentimento encantado e puro do amor castiço nunca mais possa ser repetido na sua beleza original! Considerando a liberdade quase pornográfica que nosso tempo confere aos adolescentes, premiando-os até por começarem cada dia mais cedo seus jogos de amor carnal, podemos entender porque o romantismo, oriundo primacialmente neste sentimento encantado do primeiro e casto amor, tornou-se um gênero obsoleto na cultura e na arte moderna, e o porque do empobrecimento que decorre sempre que um modo de sentir e viver desaparece!







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