Dormindo a tarde inteira de um domingo (o último dia medieval que nos restou!). Sonhei visitando a casa de um grande amor da minha infância (o primeiro, basta dizer). Alguém havia morrido e os membros da família começaram a chegar para o velório. Sentei-me em um banco na sala e vi passar os dois irmãos mais novos da minha adorada. Logo em seguida, ela, a própria, passou apreensiva e me cumprimentou. Eu lhe perguntei se “Ela” havia chegado. Minha adorada disse que sim, que estava no quarto, no segundo andar. Explico: no sonho, ela havia se desdobrado em duas, na menina encantada com quem eu falava e na outra, inacessível no andar de cima, por quem eu ansiava ver. Esta outra não era nada menos do que o próprio amar, a sua alma que em nada se distinguia da essência, da Ideia platônica do amor! Digo isso não pelo ascetismo dessa minha paixão que não chegou a se consumar e que daria sentido à expressão vulgar do amor platônico, tal como a conhecemos. A intensidade espiritual dessa hóspede do "andar de cima" se deve por eu ter saído ao jardim, temendo me emocionar com a presença dela e, perto de uma roseira, torturado pelo espinho de um sentimento, ter ouvido uma voz, vinda do alto, lá do lugar onde ela estava, me dizendo que eu não deveria ter nascido, que fui avisado para não descer, pois descendo eu iria sofrer de amor! Mas, teimoso, nasci. Caí. Fall in love. E sofro até hoje!
Ao acordar inspirado nesse sonho de uma tarde de verão, lapidei esse soneto:
O AMOR DOS TROVADORES
O AMOR TEM A VER COM OS ASTROS: É CÓSMICO!
À PRIMEIRA VISTA, O AMOR É ÓTICO.
O AMOR TEM A VER COM OS ÁTOMOS, É QUÍMICO.
QUANDO LOUCO DE CIÚMES, É NEURÓTICO.
O AMOR TEM A VER COM O SEXO: ERÓTICO!
O AMOR SE DISSOLVE NOS FILTROS: É LÍQUIDO.
NOS CALAFRIOS DA MORTE O AMOR É GÓTICO.
EU, CÁ, PREFIRO O VAPOROSO
MODO DE AMAR DAS NUVENS ROTAS
ALMAS - DO POETA E DA SUA AMADA –
UNIDAS SEM QUE SE TOQUEM SUAS GOTAS.
E QUANDO BRILHA O SOL NO MEIO DO CÉU,
E PROJETA UM ARCO-ÍRIS NA JANELA,
NÃO SEI SE É DA MINHA, OU DA NUVEM DELA,
A GOTA DE AMOR QUE REFLETE ESSE ANEL!
0 comentários :
Postar um comentário