domingo, 30 de janeiro de 2022

MÁQUINAS QUE PENSAM!



Perde-se no tempo a origem desse sonho já quase realizado: máquinas que pensam.  Um de seus mais alpinos mentores foi o teólogo catalão do século treze, Raimundo Lullio. Sua Ars Magna era uma verdadeira máquina, não apenas teórica, mas uma máquina de pensar, que foi implementada, construída e posta a prova na prática e propunha um método de formular enunciados a partir das combinações de conceitos identificados por letras inscritas ao longo de círculos concêntricos giratórios. O mecanismo luliano tem sido considerado, por historiadores da ciência, como a primeira máquina de pensar ou de enunciar sentenças, formadas radialmente através da leitura de letras em movimento potencial ao redor de um centro. Mais tarde, inspirado na calculadora de Blaise Pascal, Leibniz – que inclusive inventou uma calculadora melhor capaz de realizar as quatro operações – criou uma nova Lógica, a Mathesis Universalis. Pretendia ela ser um “alfabeto” do pensamento, capaz de gerar mecanicamente qualquer idéia a partir de qualquer outra (era a aurora das ciências mecânicas, onde relojoeiros e artesãos deslumbravam as cortes com realejos, jogadores autômatos, caixinhas de música e outros mimos de ourivesaria e melindres). Finalmente, no Século vinte, Alan Touring aplicou a lógica matemática a um sistema de comutação elétrica e criou finalmente o protótipo do computador. O resto é historia! Gosto de pensar nas rudimentares tábuas, e seus conceitos teologais nelas inscritos, com as quais o Raimundo Lúllio viajou pelo mundo islâmico tentando explicar a teologia cristã aos árabes usando sua “máquina”. (Há um primoroso texto de Borges sobre esse tema no livro “Textos Cativos”). Além desse caminho lógico e matemático que descambou nos gadjets modernos, essa Ars Magna do Lullio poderia ter servido para outros usos, estéticos e científicos, pois que nossos modos de pensar são mediatamente infinitos, como pensava Espinosa, outro apaixonado pelos rigores geométricos da época. Criei alguns exemplos jocosos de pensamentos parafusados para ilustrar estas novas possibilidades: 

“O lobo é um cão com alma de gato”. Pode-se girar em sentido horário os termos dessa proposição e conseguir novas definições: “o cão é um gato com alma de lobo” e “o gato é um lobo com alma de cão”. Outro exemplo mais etéreo, que exige as pastilhas da memória e dos folguedos da infância, seria:

“O mar é uma piscina de rio; A piscina é um rio de mar; o rio é um mar de piscina!”

Também é possível tracionar o eixo saltando dois ou três dentes da catarineta, tipo:

“O cão é o melhor amigo do homem. O homem é o lobo do homem. O cão é amigo do lobo do homem. O cão é lobo”.

Agora é a sua vez. Tente alguma coisa, desenrosque a biela, cole o relê, chame nas catracas e escreva algo. Enquanto isso, vou ali ver se, cruzando uma rolinha com um pepino, consigo um ninho de azeitonas! 


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