Após apresentar a sala de projeção do extinto Cine Fox em Itambé-Ba (uso a palavra extinto pois, templo estético da minha infância, ele foi literalmente um vulcão projetando a lava quente da vida e da arte em forma de filmes memoráveis), exibo uma despretensiosa colagem de um clip da dupla norte-americana Robson & Gerome, onde projeto as fantasias de uma cena arquetípica: Eu, uma adolescente por quem fui, junto com todos os garotos da minha cidade, apaixonado, e um concorrente, um rival que pode ser qualquer um deles ou todos. Esse tema muito me marcou: o pretendente, a amada cobiçada e o rival! Por conta dos meus anos enroscado na filosofia do Platão, toda ela focada na dialética dos Rivais (a amphibeteses), onde quase todas as personagens de seus diálogos dramáticos se configuram como uma disputa de uma ideia por diversos pretendentes ao papel de verdadeiro participante (a ideia de Amor e o verdadeiro amante, a ideia de Sabedoria e o verdadeiro sábio, a ideia de Justiça e o verdadeiro homem justo..), por toda essa inspiração platônica, onde também se junta a força das reminiscências, do passado como a dimensão da verdade e das ideias como o objeto mais perfeito do verdadeiro amor, essa cena íntima, que o vídeo representa para mim, tem a força de uma freudiana cena original, constituindo a representação e o escopo de minha alma! A garota que tento projetar nessa doce e faceira atriz, hoje é uma senhora mãe de família, por quem, passado as inocentes e ardentes fantasias da adolescência, guardei uma suave ternura e simpatia (a todos, aliás, protagonistas de uma época encantada). Preservando seu nome de eventuais curiosos, sinto informar que ela está presentemente vivendo um momento muito difícil, acometida por uma doença sinistra e profundamente mortal. Para além da minha pieguice proustiana, ou arremedo de poeta memorialista, peço a quem o vídeo agradou uma fervorosa oração à Nossa Senhora Mãe de Deus, padroeira de todas as mães e mulheres, pela vida de alguém que, certamente, inspirou muitos garotos a escreverem versos e cartas muito mais sinceras e comoventes do que as minhas empoladas e pernósticas confissões literárias. Todas essas cartas e versos dos outros antigos pretendentes - hoje guardadas em velhos e estiolados cadernos escolares no fundo de gavetas e caixas no sótão de alguma avó - podem vir à tona caso ela faleça e, uma vez publicadas, venham a desqualificar meus textos como sub-literatura e rabiscos sem valor. Repito: meu trauma são os rivais! Que roubem-me todas os amores, verdadeiros ou, como esta, imaginários, mais não me roubem a glória literária! Muito obrigado!
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