segunda-feira, 30 de abril de 2018

Fragmentos do meu Livro 50 TRAGOS DE CINZANO, Memórias de um Lascador nos Puteiros do Sudoeste.



SANTA SELMA DO CU DOCE

É no começo da sua vida sexual, por conta da imaturidade psicológica, e não no final, acredito, que o homem mais sofre com a impotência. Confesso, não sem certo constrangimento, ter sido um dos rapazes mais brochas do sudoeste baiano. Digo isso ao folhear agora uma caixa de fotografias antigas e deparar-me com uma foto minha ao lado de Selma Sampaio, em trajes de banho, na beira do Rio Pardo. Ela morava em Conquista e, na primeira noite em que fomos para a cama, eu, diante daquele mulherão fabuloso, nua e me esperando sobre os lençóis, eu antevi duas tragédias: brochada ou ejaculação precoce. Brô ou Jacu. Deu brô! Meu pinto ficou do tamanho de um amendoim. Ensaiei uma saída honrosa e coloquei a culpa nela dizendo:
_ Tá vendo aí o que você me fez? Ou melhor... O que você não me fez?
Acho que ela não gostou do meu chauvinismo e, como vingança, espalhou na cidade que eu havia brochado com ela. Eu estava em Itambé, a 60 Kms de Vitória da Conquista, quando soube da sua perfídia. Fiquei furioso. Era noite e não havia mais ônibus para Conquista, exceto um ônibus-leito com destino a Salvador. Implorei ao motorista que ele me desse uma carona, pois minha tia Renilda havia caído sobre uma pedra e lascado a buceta ou outra emotiva mentira qualquer que agora não me lembro, e vim ao seu lado, enquanto os passageiros, nem esperavam a subida da Ladeira do Marçal para começarem a roncar feito porcos dentro do carro. Saltei na Rodoviária, apanhei um táxi e fui direto para a casa de Selma Sampaio. Bati na porta com força.
_ Quem é? A essa hora?
_ Seu macho!
Ela abriu a porta hesitante. Usava um diáfano peignoir e uma estola de veludo azul, como no filme de David Lynch.  Empurrei-lhe até o quarto, joguei-a sobre a cama e comecei a fazer com ela o que os românticos jumentos fazem com as jumentas devassas. Quase no final, já espumando dentro dela o suco do meu saco, lavando o meu pincel, eu lhe disse meio que zurrando:
_ Isso é para você nunca mais falar na cidade que eu sou broxa!
_ Nunca mais, amor! Doravante vou dizer que você é o maior macho da Bahia!
Eu me empolguei ao ouvir aquilo e tentei a famosa  “dar duas sem tirar de dentro”... BROCHEI de novo! Desta vez, ela fora mais tolerante e compassiva. Abraçou-me carinhosamente e me disse toda derretida:
_ Tudo bem, querido! Fique tranquilo que desta vez eu não conto pra ninguém!
Uma santa, a Selma Sampaio!



REVISITANDO SELMA SAMPAIO! 

.. Feitas as pazes entre nós, resolvi levar a Selminha para morar comigo em Itambé e aluguei para ela um sobrado antigo, quase mesmo mal-assombrado, em frente a um clube e boate chamado Itambezinho! Ali passamos dois lindos meses de amor, quase que trancados dentro de casa, saindo muito pouco, pois a vizinhança era implacável e não perdoava esse tipo de comportamento. Entretanto, as férias terminaram e eu tive que voltar para concluir o último ano em um colégio na cidade onde a conheci: Vitória da Conquista. Selma ficou por lá, sofrendo com saudades minhas que só retornava nos fins-de-semana e de uma tia dela, muito querida, que se encontrava muito doente em um hospital de São Paulo. Fragilizada, vivendo com um amante que quase nada podia lhe oferecer, Selminha acabou cedendo às investidas de um rico fazendeiro local, Ricca Ferraz, homem de um nariz monstruoso e uma fortuna maior ainda. De segunda à sexta-feira ele estacionava a sua reluzente pick-up de faróis baixos e um par de chifres de touro fixo no para-choque, feito os carros de cowboys texanos que ele via no Cine Fox, o único cinema da cidade. Galante e mimado, ele não media esforços em conquistar o coração de minha amante com todo tipo de promessas e fantasias mirabolantes. Selma só falava da sua tia doente em São Paulo e do seu sonho em ir visitá-la. No desespero e na solidão, diante de um pretendente rico e apaixonado, ela perdeu os limites do pudor e insinuou que, se pudesse ir primeiro ver sua querida à porta da morte, certamente, na volta, me abandonaria e cederia a ele os segredos e as delícias do seu místico calamengau! Como se pudesse ver sua própria tia encarnada no corpo do vaqueiro milionário a sua frente, ela se ajoelhou dentro da pick-up e suplicou para que ele fosse com ela, juntos em lua-de-mel para a capital paulista. Sem poder fazer tal viagem tão longa (era casado, o sacripanta), Ricca Ferraz acreditou que ela também o amava, e resolveu financiar a viagem dela, lhe entregando no outro dia um pacote volumoso de dinheiro, suficiente para ela ir a São Paulo, Rio de Janeiro, tomar um banho-de-loja e voltar toda serelepe para os braços do jocoso rufião! Evidente que ela não fizera tudo isso sem me por à parte de todos os detalhes. E o fez em uma sincera e lacrimejante carta, jurando que não me traíra com o playboy rural, mas que estava disposta a cumprir sua palavra empenhada a tão distinto cavaleiro. O resto da carta ela passou tentando me convencer a aceitar um rápido romance com ele e jurando voltar pra mim, logo em seguida, o novinho que ela amava! Em outras palavras, ela me persuadia e ser um corno manso, me prometendo para depois tantas delícias que, juro, balancei as ideias e passei as semanas seguintes refletindo o que iria de fato fazer, caso ela voltasse de São Paulo (Nunca voltou! Casou-se por lá com um português bigodudo e teve com ele cinco filhos). Não se passaram duas semanas após Selma ter partido, que encontrei o playboy rural em uma mesa de bar, tomando cerveja e jogando sinuca, jogo para o qual fui convidado a participar. Com os ânimos já acirrados entre nós, pela disputa da mulher cuja viagem prolongada e promessas de amor eterno avivaram as labaredas do amor no coração de Ricca Ferraz, foi inevitável que rolasse uma discussão entre mim e ele. Principalmente por conta das minhas indiretas vingativas. Sabendo que ele o assediara sofregamente, e que parecia estar muito apaixonado, eu passei o jogo todo contando detalhes picantes da mulher que, tão orgulhosamente, aos dezessete anos, eu trouxera de fora para morar comigo! QUE MULHERÃO! MADEIREI A NÊGA! LASQUEI O CABO DA MANIVELA! ENTERREI ATÉ O SACO e outras obscenidades que, entre homens rudes e machistas do interior baiano, soam como refrãos em homilias de velhas beatas. Eu espezinhava o touro branco que bufava ao lado da mesa de sinuca segurando o taco de forma ameaçadora.  Louco de ciúmes, mesmo nunca a tendo possuído (os grandes ciumentos ciúmam muito mais do passado de suas amadas do que do presente), diante de um condenado a ser traído, como eu o era então, Ricca Ferraz perdeu o controle e gritou pra mim:
_ Ora, Cassiano! Menos! Para com isso! Quer saber de uma coisa? EU COMI SUA MULHER, PORRA! COMI E VOU VOLTAR A COMER QUANDO ELA VOLTAR DE SÃO PAULO!
Sua sordidez, revelada não apenas no gesto de difamar a garota que não havia ainda cedido às suas investidas, mas também no motivo infame de fazê-lo apenas para exaltar seu ego de homem mimado e infantil, foi o pretexto para eu dar a estocada final no touro bundão.  Segurando um molho de chaves, um canivete e um maço de cigarros, entre algumas notas de pouco valor, simulei estar manuseando uma grande soma de dinheiro, e lhe respondi:
_ COMEU MESMO? SERÁ QUE VOCÊ NÃO CAIU EM UM GOLPE? SEU DINHEIRO ESTÁ AQUI, OTÁRIO – e, ao dizer assim, batia no bolo de coisas no bolso -. Selma não viajou porra nenhuma, sequer tem qualquer tia em São Paulo. Está me esperando em Vitória da Conquista para começarmos a farra com seus 17 mil e oitocentos Cruzeiros novos. Ter dito a soma exata do dinheiro que ele usou para comprar minha amante, foi um baque que ele sentiu e começou a acreditar que eu não estava blefando. O golpe de misericórdia foi quando eu retirei uma nota amassada do bolso e a joguei sore a mesa de sinuca, lhe dizendo:
Faça de conta que você perdeu a partida e pague a ficha com seu próprio dinheiro! O troco... Tome umas cachaças para aprender a não se apaixonar por mulher vagabunda!
Partiu-me o coração ter dito aquilo da Selminha, mas, pressentindo acertadamente que ela nunca mais voltaria, caí na tentação de dar uma lição naquele sujeito que, tão semelhante a mim na vaidade e na arrogância, me enchera de aversão, esta mesma aversão que sentimos sempre que vemos alguém possuir os nossos próprios defeitos que sonhamos mantê-los escondidos de si mesmo e de todos. Contei esse episódio picaresco só para alertar aqueles que vivem me elogiando pelos cantos, que não sou nenhuma flor que se cheire. Sou um grande cafajeste e trânsfuga de puteiros. Um cafetão em estado de perpétua e difusa paixão pela mãe de quem hora lê os meus textos! A Toute a l’heure, mons enfants! 



Apêndice: OS RECLAMES DE UM FUDERASTA –

Começo da década de oitenta. Muitos hippies abandonam a vida errante pelas estradas e tentam se estabelecer como cidadãos integrados à sociedade. Um deles, Mizinho Berlota, abandonou o tráfico e o artesanato, não se sabe como, comprou uma velha Pick-up e começou a prestar serviços de fretes na cidade de Itambé-Ba. Carregava de tudo, de feira de madames até entulhos de construção e beatas para a Lapa em época de romarias. Sempre honesto e de fino trato com todos, Mizinho, entretanto, não rompera completamente seu estilo de vida debochado e anarquista, adquirido em anos de vida tresloucada. Como resquício hippie ainda insepulto em sua alma, carregava no para-choque da sua pick-up um para-lamas onde se lia em letras gigantes: QUERO COMER SEU BACURAU! A princípio, a população da cidade se divertia com isso, mas muitas pessoas mais idosas e recatadas começaram a se sentirem incomodadas, o que gerou rumores e, por fim, uma advertência do delegado Nhozinho. Mizinho Berlota fez pouco caso da censura e continuou exibindo sua mensagem escatológica. Após a segunda advertência, também desprezada, o delegado apreendeu seu carro, deu-lhe um belo de um sermão no lombo e o deixou de molho por três dias no xilindró. Mizinho saiu de lá traumatizado. Não teve mais coragem de afrontar a moral e os bons costumes, mas também não era homem de ceder fácil ao establishment e à moral "careta"! Virou a lona do seu para-lamas e escreveu em letras ainda maiores: CONTINUO QUERENDO! E, prestativo e solícito, continuou fazendo fretes e desejando muito. 

Certa feita, Mizinho Berlota foi fretado para uma viagem ao santuário de Bom Jesus da Lapa, no Sertão baiano, levando na carroceria doze eufóricas beatas, provectas e desdentadas, a salmodiar pelas empoeiradas estradas. No segundo dia de viagem, já perto do sagrado destino, um acidente escabroso sói acontecer: Mizinho guiava por uma larga e longa curva, em considerável velocidade. As doze idosas, pressentindo a proximidade do santuário, viajavam em pé, seguras em uma barra de ferro improvisada ao longo da capota. Cantavam seus hinos religiosos sem obedecer aos conselhos dados pelo simplório caminhoneiro – Será que o motorista pagão não via as asas que a fé lhes dava? - A certo momento da curva, despontou-se na frente do carro um longo galho de uma árvore a cruzar a meia altura toda a extensão da pista. A estrada era arenosa; se ele freasse, o risco de tombar era enorme! Sua mente em pânico calculou e concluiu que a altura era suficiente – a conta exata, pra sermos mais precisos – da Pick-up passar por baixo do galho. Para prevenir suas passageiras, Mizinho colocou a cabeça para fora da janela e gritou bem alto:
Ó O PAU! Ó O PAU! Ó O PAU! Ó O PAU!
Em seguida, confiante, enfiou o carro em baixo do galho de jatobá!!! Não foi feliz seu estratagema. O galho apanhou as doze velhinhas pelo pescoço e espádua, lançando-as fora a metros de distância, feito um 
straight de boliche com doze vítimas fatais. É que, ao ouvir os gritos de Ó O PAU! Ó O PAU!... As velhinhas, ao invés de abaixarem a cabeça... FECHARAM AS PERNAS!



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