quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O SEGREDO DOS CIGANOS - Curtametragem




SINOPSE

Transcorre o ano de 1946. A zona rural de Itambé-Ba é uma terra sem lei e sua escassa população, composta em grande parte de migrantes sazonais, submete-se à autoridade e à tirania dos grandes latifundiários; estes, por sua vez, permitem a existência de jagunços em bandos com relativa autonomia.
Eles funcionam como aparelhos de poder resolvendo problemas de terras, de colheitas e dízimos e, principalmente, reprimindo qualquer violação dos "direitos territoriais" destes grandes proprietários. Guilherme é um líder de um destes bandos de jagunços. É um ex-militar reformado e pôr isso é chamado de Capitão. Seus métodos violentos lhe renderam uma sinistra fama pôr todo o sertão: acusam-lhe de arrancar os olhos de suas vítimas e conservá-las em formol. Após um tiroteio, Guilherme é ferido na coluna e torna-se paraplégico; inicia-se então um processo de decadência. O bando se reduz a uma dúzia de componentes e Guilherme procura resistir no comando apelando para a lenda de sua demoníaca violência. Cerca-se de garrafas contendo supostos olhos humanos e passa a encenar transes de possessão como se houvesse um comércio espiritual entre ele e o demônio. O episódio do roubo de cavalos e a captura dos ciganos é a oportunidade que tem de restaurar o poder e a autoridade abalada, mas uma trama bem urdida irá pôr em terra os seus planos.

CAST:

GUILHERME - Tem as características de um taumaturgo e não fica claro se ele é ou não um charlatão. Um sonho premonitório no transcorrer do filme reforça a crença em uma mediunidade latente; seus gestos são os de um paranoico: olhar inquisidor, abuso de "palavras de ordem" e voz tirânica, contudo as cenas de possessão são notadamente histriônicas. Ele se afeta intensamente pela cigana Rosalina.

VIRIATO - É o mais eminente entre os jagunços de Guilherme. Supersticioso, teme ao Capitão, mas aspira com intermitência o comando do bando. Tem as características de um traidor: a "fala mansa", a dubiedade nas intenções, inclinado mesmo para a maldade e a perversão. Seus gestos femininos e delicados escondem uma violência e uma ambição que se revela nas sequências finais. A responsabilidade pela trama que irá destruir Guilherme lhe é imputada de maneira ambígua; o desfecho hesita entre duas versões: O amor de Rosalina pelo companheiro ou a perfídia de Viriato - as duas talvez - movendo o desenrolar dos acontecimentos. (A personagem é inspirada em Iago, na peça" Otelo" de W. Shakespeare)

LAURÊNCIO - É um cigano anômalo - não vive em bando. Viaja pela região com a sua esposa Rosalina. Uma troca de cavalos faz cruzar o seu destino com o bando de jagunços onde é acusado de 
ser o autor dos roubos de cavalos que assola a região. É um homem íntegro e corajoso. Seu papel no filme é marcado pôr uma evasiva passividade. Ele parece aceitar o sacrifício de Rosalina revelando assim ser a liberdade o seu valor maior, maior até que o amor. O seu olhar é estranho, seus gestos são instintivos, o seu "eloquente silêncio" parece transmitir uma personalidade misteriosa.

ROSALINA - E a heroína do filme. Forte e apaixonada, ela parece sacrificar-se pôr amor, pela vida e liberdade do companheiro Laurêncio. Possui uma relação elementar com as forças da natureza e o seu suposto conhecimento sobre ervas e encantamentos é o requisito da trama desenrolada. Um forte apelo erótico e uma sensualidade impregnante se manifestam em todas as suas cenas. A sua relação com Guilherme, seu algoz, é intensa e predestinada. O seu olhar insinua um "complot" com Viriato. A sutileza é outra de suas características.

BANDO DE CIGANOS

O FILME - É constituído na maior parte pôr imagens-afecção (primeiro plano). A atmosfera de chuva procura reconstituir um mundo originário, um mundo de pulsões. A montagem é tensa e entrecortada antecipando um desfecho catastrófico no final. Os "travellings" com grandes angulares funcionam como uma pausa, uma respiração entre duas ações. A narrativa é linear prevalecendo os diálogos e encenações. As personagens Rosalina e Viriato insinuam um "complôt" e parecem representar outros papéis - um teatro dentro de outro como em "Hamlet". A câmera discreta e insinuante deve dissimular a técnica favorecendo uma forte empatia do espectador com o filme e seus personagens.
"layout" do filme = uma cadeira de rodas vazia sobre o leito raso e pedregoso de um rio


Sequência 1/ O Sonho / exterior - noite.

Guilherme amarrado em uma roda de carroça é carregado pôr pessoas encapuzadas. Um carrasco lhe espera com uma clava no centro de uma praça. Tochas iluminam o cenário. O grupo se dirige ao centro da praça, prende a roda em um altar e prepara-se o suplício. O carrasco aproxima-se com seus instrumentos de tortura: espetos e ferros. Aproxima-se de uma fogueira e mergulha os ferros na brasa incandescente. Fagulhas desenham-se na terra. O rosto de Guilherme antecipa as torturas em uma expressão de terror. Uma mulher encapuzada aproxima-se da vítima com una cruz nas mãos. Retira o capuz e beija-o na boca. Em seguida ergue a cruz que se revela um punhal de lâmina longa, crava-lhe o punhal no peito e foge correndo. (Corte)

Sequência. 2 Noite Interior-carroça/ Exterior - campo

Rosalina acorda gritando. Tem o rosto banhado em suor (é o mesmo rosto da mulher no sonho), abraça o seu companheiro Laurêncio que está conduzindo a carroça. Ele a toca no rosto e percebe que a febre aumentou. Chicoteia os cavalos exaustos. Um cavalo cai fatigado. Ele salta e aproxima-se do animal verificando não ser possível prosseguir com ele. Anda pelo campo transtornado em busca de ajuda. Encontra dois animais pastando, (corta)

Sequência. 3 - Campo / Dia

O rio Jibóia corre vaporoso sobre o leito de pedras e uma neblina de água doce retarda o amanhecer. Dentro da neblina, pela estrada nas margens do rio, uma mancha colorida segue galopando. Em frente à casa Guilherme vê um cavaleiro aproximar-se. Guilherme tem os cabelos longos e desgrenhados. Uma expressão de fúria constante sulca-lhe o rosto. Seus olhos injetados observa o cavaleiro saltar da sela acrobático.

CAVALEIRO
_ Roubaram mais dois nas terras do Tiago!

GUILHERME
 _ Malditos ciganos! Já é o quinto roubado nesta semana!

Sua faca voou como um besouro de prata zumbindo ao cravar-se na cerca que circundava o pátio. Movendo a sua cadeira com agilidade, como se galopasse um cavalo, Guilherme arranca um dos punhais cravados na cerca e batendo o punhal em uma garrafa diz:

GUILHERME
_Quero o olho do cretino dentro desta garrafa!
 (FADE IN)

Sequência. 4 - Exterior - campo/ noite

Laurêncio prepara o jantar. Rosalina ao lado da carroça repousa ainda febril. Uma galinha é assada sobre um braseiro. Com uma concha na mão laurêncio mexe uma panela enquanto assobia uma triste canção. Serve-se um gole de vinho no garrafão. Ao longe ouve-se um uivo cadenciado de cães. Os cavalos se assustam. Laurêncio ergue-se inquieto. Rosalina Acorda gritando. (expressão de pesadelo):

ROSALINA ( semi-inconsciente)
_ São lentos demais estes cavalos! Você deveria tê-los trocados pôr outros melhores!

LAURÊNCIO
_ Fique quieta! Escute os cães, eles estão se aproximando. Torça para o nosso jantar atrasá-los um pouco!

Ouve-se tiros ao longe, (corta) 




Sequência.5 Exterior/campo/noite

Uma matilha de cães invade o que restou do acampamento. Espalham-se farejando e saltando sobre a câmera. Em seguida surgem os jagunços a cavalo. Viriato lidera a perseguição. Fazem círculos rápidos e seguem na direção da carroça. (Corte)

Sequência. 6 - Sonho.

Guilherme sonha o mesmo sonho de Rosalina na sequência 1, agora sob o seu ponto de vista ( câmera subjetiva). Acorda assustado e passeia o olhar pelas garrafas em volta do quarto; no fundo de cada uma delas repousa em álcool o olho de uma das suas vítimas. A câmera percorre as garrafas e enquadra a janela do quarto. Está Chovendo. No fundo da tela aparecem, superpostas, as imagens de Rosalina no sonho se apagando e a chuva caindo. Ouve-se latidos ao longe.



Sequência7. (Plot- núcleo da acão) Exterior / dia/ frente da casa.

Os cães se espalham pelo pátio. Surgem homens a cavalo. Desmontam e se posicionam em volta de Guilherme. Um deles puxa a carroça dos ciganos segurando na mão a rédea dos cavalos; finalmente surge Viriato com Laurêncio e Rosalina amarrados. Ele empurra prepotente o casal sobre Guilherme.

VIRIATO:
_ Aí estão os dois safados!

Guilherme e Rosalina olham-se com espanto e fascinação; com mútuo reconhecimento de seus estranhos sonhos. Laurêncio tem a expressão resoluta de um inocente. Guilherme, o olhar perdido de quem sonha novamente. Ouve-se uma voz:

VIRIATO
_ O que faço com eles, Capitão?

GUILHERME
_ Nada! Seu trabalho já terminou! Vá para os fundos e dê leite aos cães!

Close no rosto furioso de Viriato a ensaiar um protesto. Travelling nos jagunços imóveis e impassíveis sob a chuva. Guilherme desembainha o punhal. Ouve-se Viriato ceder:

VIRIATO
_ Sim senhor, Capitão!

Guilherme move os olhos em direção aos ciganos.

GUILHERME
 - Então você é o ladrão de cavalos!

LAURÊNCIO
- Não, senhor. Estávamos com muita pressa. Minha mulher estava com febre e não havia socorro no caminho. Deixei dois bons cavalos no pasto e apanhei outros dois mais descansados. Se o senhor comparar verás que não levei nenhuma vantagem. Pelo contrário...

GUILHERME
- É mentira! Sumiram muitos animais nestas bandas. Ninguém viu os dois cavalos que você diz ter deixado.

LAURÊNCIO
- Ninguém me viu carregando outros cavalos.

Guilherme começa a representar um transe de possessão. A mão crispa-se no punhal, o rosto se contorce. Ouve-se os jagunços chapinhar as botas na terra molhada. Um ritual é encenado. Em voz crescente eles entoam um mote. (Travelling no círculo de jagunços)

GUILHERME
- Deve ter vendido. As provas bastam e não há perdão para o seu caso. Quem rouba aqui nessa terra só leva a alma... O corpo fica.

JAGUNÇOS
_ Arranca o olho capitão! _Arranca o olho, Capitão! _Arranca...

O rosto apavorado de Rosalina antecipa o suplício. Ela grita e cai desmaiada. Laurêncio tenta socorrê-la e é chicoteado pôr um jagunço. Entra em cena Viriato, correndo.

VIRIATO_ Essa mulher tem parte com o demônio, capitão! Ela tem o corpo fechado. Todos aqui são testemunhas. Não quiseram se render e nós atiramos. Demos mais de vinte tiros à pouca distância e nenhum acertava.

Close em Rosalina ajoelhada sob a chuva com as mãos atadas nas costas. A sua nudez é entrevista sob as vestes molhadas.

GUILHERME(novamente lúcido)
_Não dei ordens para ninguém atirar!

VIRIATO:
_Perdemos a cabeça, Capitão. Eles iam fugir dentro do mato. Sorte nossa os cães terem encurralados. Mas era mesmo um assombro o corpo fechado dessa mulher! Ela gritava umas palavras estranhas e as balas desviavam. Ela bem que podia ensinar o segredo para nós! Já imaginaram? Um bando de jagunços com o corpo fechado? Seríamos os donos do mundo!

GUILHERME
_ É verdade o que ele está dizendo? 

ROSALINA
_ Eu não sei de nada!

VIRIATO(agarrando os cabelos de Rosalina):
_ Mentirosa! Você vai morrer de qualquer jeito. Fala! 


ROSALINA- Largue-me. Não sei do que estão falando.

Rosalina hesita como se estivesse pensando o que dizer..

GUILHERME (simulando novamente estar possesso)
- Traga-me o cigano. Agarre firme. Quero o olho dele brilhando na garrafa.

ROSALINA
_ É verdade! Eu sei fechar um corpo. Sei proteger um cabra de qualquer tipo de arma...

ROSALINA
_ ...E sei mais. Fecho para o futuro e para o passado!

GUILHERME
_ O que você quer dizer com isso?

ROSALINA
_ Quero dizer que se eu fechar o corpo de alguém, tudo o que for marca de bala desaparece na hora. Já fiz cego enxergar e aleijado levantar da cama!

Close em Viriato com expressão dissimulada.

VIRIATO
_Marca de bala também?

ROSALINA
_ Bala é a minha especialidade... Você mesmo viu lá no mato. Ou vai confessar que não tem boa pontaria? Que seu olho não funciona mais? Talvez ele fique melhor dentro de uma garrafa...

Close em Guilherme externando incredulidade, mas também esperança.

VIRIATO
_ Nunca! Jamais erraria o alvo se você não fosse uma bruxa!

GUILHERME (desfazendo-se das dúvidas e se entregando ao sonho de uma cura milagrosa)
_ Você vai me ensinar esse feitiço!

ROSALINA
_ A troco de nada? As regras não permitem!

Close em Laurêncio com expressão de espanto.

GUILHERME
_ O que você quer em troca?

ROSALINA
_Nossa liberdade!

GUILHERME
_ Se você me fizer levantar desta cadeira... Prometo pensar em seu caso.

Guilherme parece hesitar.

ROSALINA
_ Então pense logo. O encanto só pode ser feito na lua nova e ela já está mudando.

GUILHERME
_Faça! Dou a minha palavra.

ROSALINA
_ Primeiro liberte ele. Dei-lhe um cavalo, algum dinheiro e uma arma. Depois que ele estiver longe eu faço o encanto.

Rosalina tem a expressão audaciosa de quem já domina a situação. Seu corpo volta a enquadrado nu sobre o vestido molhado.

GUILHERME
 _Posso libertar os dois depois.

ROSALINA
_Não confio!

GUILHERME
_ E se você estiver me enganando?

ROSALINA
_ Que enganando que nada! Eu lhe ensino a magia, faço comigo e você atira à queima-roupa para testar. Depois faço em você. Quando você levantar dessa cadeira eu recebo um cavalo e que ninguém me persiga senão desfaço o encanto...

Close em Laurêncio com expressão de angústia. Parece desconfiar de algum blefe tenebroso. Ele contempla a estrada a se perder no horizonte (câmera subjetiva). Depois fita Rosalina dizendo a ela "não" com meneios de cabeça, mas em silêncio, porém.

GUILHERME
_ Façam o que ela pede. Dêem um cavalo a esse homem e uma arma descarregada...

Close em Guilherme abrindo um saco de moedas.

GUILHERME
- Aqui está o dinheiro. É tudo o que tenho... Juntei para comprar uma sela mecânica mas parece que não irei precisar mais. 

Um jagunço liberta Laurêncio e lhe entrega um cavalo. O cigano se aproxima indeciso e apanha o dinheiro nas mãos de Guilherme. Seus olhares se encontram pôr alguns segundos. Volta-se para Rosalina (Close no rosto dos dois - a música incidental cresce de volume -. Laurêncio tem uma expressão de dor e uma furtiva lágrima desce no seu rosto. Rosalina morde os lábios em um esforço contido. Abraçam-se brevemente. Rosalina evita uma despedida efusiva. O grupo inteiro observa Laurêncio montar, dar algumas voltas no mesmo lugar e partir aos gritos até a sua silhueta se perder no fim da estrada. Ouve-se a voz de Guilherme em off.

GUILHERME (Off)
_ Vamos, sua bruxa! Faça o seu encanto. Estou louco para esticar as pernas...

Guilherme dá uma sonora gargalhada externando crueldade e inocência também.

GUILHERME_ Apanhem no meu quarto o parabelo. Se o feitiço protegê-la de uma arma destas, ninguém me segura mais!

Os jagunços gritam de entusiasmo. Rosalina responde trémula e com o olhar perdido na estrada.

ROSALINA
_ Não é tão fácil assim. Temos que colher algumas ervas. Venha comigo.

Travelling. Rosalina segue andando pelas margens do rio. Guilherme faz sinal e um jagunço empurra a cadeira ao lado da cigana. Guilherme faz um sinal para que os outros não os sigam. Os jagunços recuam. A câmera abandona Guilherme e Rosalina e acompanha os jagunços. Viriato e um outro são vistos entrando na casa. A imagem escurece.


SEQUÊNCIA 8. - INTERIOR/ DIA 

Viriato apanha a arma de Guilherme dentro de uma gaveta. Um jagunço está ao seu lado. Em cima do móvel se vê algumas garrafas contendo supostos olhos de vidro. Viriato comenta em solilóquios:

VIRIATO
_ Esta é a arma que arruinou a coluna dele... Esses olhos na garrafa deve ser todos de vidro... Invencionice pra assustar o povo. Nunca vi ele arrancar olho nenhum, o covardão!

A câmera foca a mão de Viriato pondo balas no parabelo. Dentro de uma garrafa um olho parece olhar tudo atônito.

SEQUÊNCIA 9. EXTERIOR/ DIA

Grande angular. Os jagunços em frente da casa observam Rosalina e Guilherme entre arbustos nas margens do rio. A câmera se aproxima dos dois mais não o bastante para ouvir o que eles falam. Rosalina tem um ramalhete de ervas na mão. Mostra cada uma delas à Guilherme; com a mão ela faz esconjuros, mantras e outros sinais. Guilherme assiste atento à, "performance" da cigana. (Corte)

JAGUNÇO
_ Você disse que ia acabar com esse mijão.., ontem ele mijou de novo nas calças e pediu-me para limpar! Onde já se viu um aleijado mandar em nós?

VIRIATO
_ A hora está chegando, Barroso..! Combinei tudo com a cigana. Ela pensa que a bala é de festim.. Vai ter uma surpresa! Não quero testemunha nessa estória!

SEQUÊNCIA 10. EXTERIOR/DIA

Câmera sobre uma elevação nas margens do rio. Um caldeirão com uma infusão de ervas. Surge o rosto melancólico de Rosalina. Em silêncio ela apanha um punhado de ervas e se aproxima de Guilherme. Ele está cercado de jagunços, entre os quais, Viriato com a arma na mão. Rosalina espalha as ervas no rosto de Guilherme. Enfia a mão em sua camisa, espalha ervas pôr todo o corpo dele. Depois apanha outro punhado no caldeirão e pede que ele passe no corpo dela. O ritual ganha uma forte expressão erótica. Guilherme toca-lhe os seios, o ventre, as pernas.. Rosalina está excitada. Guilherme também.

VIRIATO
_ Estou louco para ver meu Capitão de novo em pé! 

Guilherme afasta Rosalina. Ela olha com fúria para Viriato. 

ROSALINA
_ Estamos prontos. Pode fazer o seu teste. Em breve você estará voando pelos campos!

O olhar de Rosalina, ainda fixo em Viriato, revela agora esperança e medo. A câmera se afasta. Vê-se Viriato entregar a arma a Guilherme que outra vez parece estar possesso. A câmera segue até o rio. Ouve-se a voz de Viriato em off. 

VIRIATO 
- Atira, Capitão! Atira!

Ouve-se um estampido. Close em Rosalina com os olhos perdidos na imensidão do céu. A expressão de medo lhe abandona e uma serena resignação desenha o seu rosto. Outro tiro. Em plano médio Rosalina se contorce, olha indignada e cai. O sangue mancha a sua túnica branca. A câmera fixa abre-se para a estrada e as montanhas no horizonte onde ressoa o eco. Breve silêncio de alguns segundos. Close em Guilherme cujo rosto passa do estupor à fúria incontida.

GUILHERME (Como quem acorda de um sonho e encara a luz da realidade)
- Cadela imunda!!! Escapou da tortura na ponta da minha faca, livrou o companheiro da morte e ainda me fez de palhaço na frente dos meus cabras!

Um jagunço começa a rir. Primeiro um riso contido, depois uma estridente gargalhada. Em um mesmo quadro, o bando gargalhando, Rosalina morta no chão e Guilherme transtornado gritando imprecações, apertando o gatilho da arma descarregada sobre o corpo da cigana. Os cães invadem o cenário. 

JAGUNÇOS
 - Enganaram o Capitão! Enganaram o Capitão!! ENGANARAM  MIJÃO!

Viriato sente o momento oportuno

VIRIATO
_ Isso que ela passou em seu corpo é veneno, Capitão!

Guilherme começa a se contorcer. Não se sabe se ele está possesso, se de fato havia veneno no seu corpo ou se era a desonra que movia aquele desespero.

VIRIATO
_ O rio! Vamos lavar ele no rio!

Viriato toma a cadeira de rodas e corre com ela em direção ao rio. Próximo da água, ainda no alto do barranco, ele tropeça e cai, lançando com força a cadeira que voa com Guilherme alguns metros antes de se espatifar nas pedras do rio.

SEQUÊNCIA 11. EXTERIOR / DIA

Dois jagunços levantam Viriato, os outros estão na margem do barranco olhando o rio. A câmera se ergue e enquadra a cadeira de rodas varia flutuando brevemente antes de afundar-se como um símbolo de um poder destituído. Subindo o rio se vê o corpo de Guilherme caído sobre uma pedra. Close no seu rosto. Ele está morrendo e parece estar tendo a famosa "visão panorâmica dos moribundos" (fusão de imagens): Guilherme aparece no alto de um monte, está de pé e bem vestido. Às suas costas surge Rosalina com as mesmas vestes que usava no sonho. Ela o abraça e o envolve com um grande manto. Juntos eles fazem menção de pular. A tela é preenchida pela imagem de um grande pássaro branco batendo as asas e embranquece com um clarão de luz.

SEQUÊNCIA 12. EXTERIOR/DIA -(DRONE)

No mesmo ângulo anterior, a câmera se eleva em ondulações que simulam o voo de um pássaro. Ouve-se a voz amplificada de Rosalina:"Em breve você estará voando pelos campos!" Do alto se vê o rio ondulante, o campo e a estrada em cujo horizonte há um cavaleiro galopando. A câmera se aproxima até distinguir o corpo e o rosto do cigano Laurêncio chicoteando o cavalo e gritando sem parar um grito selvagem. A câmera recua e o cigano segue pela estrada, até se perder na distância. Aumenta o volume da música, surgem os créditos.

FIM!

























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