_Volte para seu sítio, urubu idiota filho de uma
rapadura dos infernos (antes que alguém se afoite a me censurar, devo informar
que existe urubus da cabeça branca e raros urubus albinos, assim como rapaduras
que levam leite e que parecem açúcar cristal, portanto, não era tecnicamente um
ato de racismo).
Aquilo foi a gota d'água. O negão girou a rédea do cavalo e partiu em minha
direção. Pensamos muito rápido nessas horas. Eu estava com a bicicleta do meu
amigo Tito Oliveira e sabia que uma briga destas, inevitavelmente ele
jogaria o cavalo sobre mim, pisoteando os raios e o câmbio da bike e me criando
um problema miserável, mesmo se eu o nocauteasse depois com um gancho de
esquerda nas fuças. Resolvi fugir. Passei a marcha de velocidade e zuni pelo
asfalto feito um foguete. Ao olhar para trás, dava para ver o galope
ensandecido do cavalo a me seguir. Samuel L. Jackson perseguindo Tom Cruise,
era o nome do filme. Perto de um bar, logo antes da Coelba, já no fim da Olívia
Flores - para quem vem no sentido UESB-, e em frente ao condomínio Jardim dos
Pássaros, eu entrei por uma rua à esquerda, uma ladeira que fez a bike voar. E
o negão na minha cola, cuspindo uma branca espuma de fúria (ou era o cavalo
esbaforido, pois fora tudo muito rápido). Dobrei a rua, já no seu final e, para
minha triste surpresa, pois eu nunca estivera ali, era uma rua sem saída,
exceto para um matagal e uma lagoa, onde eu não teria chance nenhuma contra um
vaqueiro aboiador perseguindo um touro branco de duas rodas. Gelei. Como se
fosse um socorro do meu Deus, encontrei duas coisas: uma barra escura de ferro
entre o passeio e a cerca, e a ideia de usá-la da maneira que usei. Apanhei a
barra, voltei para o meio da rua enladeirada, coloquei a bike no chão, me
ajoelhei ao lado dela, no meio da rua, já ouvindo os cascos retinindo do meu
perseguidor, e apontei o cano escuro como se fosse uma espingarda de caça. O
negão adjangou (de Django) pela rua e desceu virado no instinto assassino. Eu,
mexendo o cano para impedi-lhe de reconhecer o blefe, gritei bem alto:
_ VENHA! FILADAPUTA, VENHA QUE EU VOU LHE ABRIR A FUÇURA COM UMA ROLIMÃ, NARIZ
DE BOIPISÔ DA DISGRAÇA!
Pareceu um desenho animado o susto que o vaqueiro
tomou, rabiando as patas do cavalo, abaixando a cabeça e o chapéu e suvertendo
pelo rastro ainda quente da bosta do seu cavalo a empestear o local ao fazer
tão radical manobra! Passei hoje por lá e a bosta, seca e espalhada pelos
automóveis, ficou sendo, além dos dois amigos que citei aqui nesse relato, a
deprimente testemunha dessa cômica bravata! Nunca mais montarei bicicleta em
Conquista desarmado!
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