Matar um mito é dar-lhe a última interpretação. Espero,
honestamente, não estar fazendo isso ao reler um dos mais famosos episódios da
mitologia grega: a saga dos Labdácidas, descendentes de Cadmo e dos dentes do
dragão por ele semeado. Precisamente, o desfecho horroroso desta saga,
eternizada por Sófocles na peça teatral Édipo Tirano. Comecemos por Laio que,
ainda novo para herdar o trono de Tebas, vagueia pelo mundo, encontrando
refúgio em outra cidade grega, Corinto, ao lado do rei Pélope que,
generosamente, lhe oferece hospedagem e o mantém perto de si. Na corte desse
rei, Laio se apaixona pelo filho do Rei, um jovem de nome Crisipo. O assedia e,
contra a vontade deste, e desrespeitando a hospitalidade oferecida, estupra o
garoto que, traumatizado, se suicida. Pélope lança sobre Laio uma grave
maldição, a de que sua raça seja extinta para sempre da face da terra. Laio
retorna e se casa com Jocasta. A união é estéril e o herdeiro não surge. Um
oráculo consultado lhe informa, de modo oblíquo e enigmático, que se ele tiver
um filho, este o matará e se deitará com a mãe. Uma noite, bêbado, Laio se
descuida e engravida Jocasta. Nasce Édipo. O resto da história é assaz
conhecida. Começo aqui minhas considerações: a maldição de Pélope não era capaz
de produzir infertilidade, em Laio ou nos seus descendentes, mas seria capaz
de, caso ele tivesse filhos, tornar esses filhos homossexuais, interditando a
cópula normal e a reprodução (Vejam que o mal praticado por Laio foi exatamente
de natureza homossexual, estuprando o filho menor do soberano de Corinto). O
que em Laio era apenas uma perversão, uma bissexualidade incidental, no seu
filho ela iria ser genital. Édipo seria um clássico e típico viadão! Primeiro
ele foge da casa dos seus pais adotivos quando sabe que seu destino é matar o
pai e dormir com a mãe (Freud aqui quase acerta quando definiu esse complexo
como sendo a essência do desejo humano, quando na verdade essa é a essência do
desejo homossexual: o homossexual deseja matar o pai, dormir com a mãe e, no
dormir com a mãe, se identificar com o pai morto e realizar nessa mãe, de modo
fantasioso, seu erotismo pelo macho que lhe deu à luz! É como se ele, ao
copular com a mãe, ficasse no meio recebendo a madeirada do pai, voltando assim
a ser apenas uma semente, um não nascido - um desistente no caso de Édipo -,
não realizando, na própria efetuação do desejo, o sentido de procriação, a
maldição de Pélope!). Ele foge da sua sexualidade monstruosa, da sua aberração
genital. Em seguida, em um entroncamento de uma estrada, mata o seu pai em um
entrevero conflituoso. Édipo não sabe, durante esse trágico episódio, que o
homem morto é o seu pai, mas podemos especular que algo nele sabia, um
instinto, um afeto, um forte traço fisionômico de semelhança capaz de despertar
nele a pulsão assassina própria do homossexualismo latente. Isso vale depois
para a sua união incestuosa com jocasta, o que só seria possível se ele
projetasse nela profundos afetos maternais (na verdade, Édipo casado não passa
de um brinquedo sexual nas mãos da marafona Jocasta a amar um menino bem mais
novo, o que não deixa de ser outra doença sexual, procriando nesse menino uma
matilha de novos homossexuais: Eteócles, Polinice, Ismena e Antígona!). Depois
do pai morto, Édipo parece aprender a conviver com essa sua patologia maldita.
Sua vitória sobre a esfinge, decifrando-lhe o enigma, é bem parecida com um
episódio de auto conhecimento: De manhã, ele, Édipo, é o animal com quatro
pernas, as duas dele e as duas do pai com quem ele mantém uma relação de
problemática identificação e repulsa; à tarde, com o pai morto, ele tem as duas
pernas do homem feito e, à noite, ele tem além das suas duas pernas normais, um
membro viril e ativo, o seu peru que toda noite penetra na própria mãe!
Monstruosa, a esfinge vê nessa resposta uma aberração maior do que ela mesma e
se suicida. Finalmente vemos Édipo no Palácio onde nasceu, feliz como um pinto
no lixo, reinando sobre Tebas e dormindo com sua mãe, um homossexual realizado
e feliz, até o momento em que os desfechos trágicos do final se anunciam. As
suspeitas de Édipo durante as investigações, além de dar mais verossimilhança
ao enredo da trama, abona a suposição de que Édipo sempre teve um
pressentimento de quem era mesmo as pessoas envolvidas no seu trágico destino,
uma pré-consciência que reduz o âmbito ilustrativo desse mito - não mais a
essência do desejo humano, mas o conflito de uma natureza homossexual
amaldiçoada - ao mesmo tempo em que amplia o auto conhecimento que os
homossexuais possuem de si mesmo, algo que lhes retira a ingenuidade e a
inocência tão peculiar e angelical dos homens normais não amaldiçoados! Basta
olhar para um homossexual ainda novinho para se ver quanta malícia e luxúria
possui a sua heteróclita esfinge! Quando o vidente Tirésias informa que a peste
sobre Tebas só será sanada quando for expulso de lá o elemento impuro, quando
fosse expelido do corpo social o Pharmakóis que Édipo representava, a mensagem
mais profunda era a de que os homossexuais deveriam ser expulsos e eliminados
do campo social! Este era o segredo dos Gregos arcaicos: É PRECISO EXPULSAR O
PHARMAKÓIS!
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