Ninguém duvida que esse militar recentemente capturado com 39 quilos de cocaína
em um avião da comitiva presidencial seja uma veterana mula do tráfico, com
dezenas de outras remessas bem sucedidas no passado. Reportar-me-ei a um caso
pregresso dele agora por fontes secretas a mim revelado. Meados da primeira
década do milênio, sob o governo do famigerado Luís Inácio Lula da Silva, e a
nossa personagem carregava uma mala com 35 quilos de cocaína no avião
presidencial com destino à Paris. Não teve esse facínora nenhum problema com a
Alfândega, mas teve outro muito mais especioso e bem menos diplomático. Em um
hotel do Pigalle, zona boêmia de Paris, ele devia entregar metade dos 35 quilos
para um traficante belga, um terço, para um alemão ex-membro da Staze e uma
nona parte da carga para um terrorista da Camorra italiana. O problema é que
nenhuma parte perfazia um número inteiro e a carga estava dividida em pacotes de
um quilo. Não havia balanças de precisão
consigo e os destinatários, rudes concorrentes no tráfico de drogas, esperavam
impacientes no saguão do hotel, armados até os dentes e avessos, por ignorância
e temor, a qualquer tipo de improviso ou concessão. Suando frio e já temendo
morrer fuzilado em um quarto de hotel, como um pastiche vivo do único livro que
lera na vida, A Morte de D. J. em Paris, do escritor mineiro Roberto Drummond, onde a psicodelia rastaquera do autor ilustrava
com perfeição sua paranoia sudorífera no hotel sem chauffage daquela canícula
francesa, ligou para seu contato, o petista e compositor Chico Buarque,
pedindo-lhe desesperadamente a sua ajuda. Chico chegou ao hotel em poucos
minutos. Ao saber do dilema matemático da pobre mula, teve mais uma de suas
ideias geniais: mandou chamar os gângsteres ao quarto e, em um impecável
francês de banlieur, apresentou sua solução:
_ Amigos! Permitam-me acrescentar à mala com 35 quilos de pó, este outro pacote de um quilo que guardo aqui no cofre deste hotel. Com isso passamos a ter 36 quilos. Você, caro Poirot, que iria receber a metade de 35, 17 quilos e meio, passará a receber 18 quilos. Óbvio que não irá se queixar! Você, camarada Rudolf, iria receber um terço de 35, 11 quilos e seiscentos gramas aproximadamente, receberá exatos 12 quilos! Parabéns! E você, caro bambino, que levaria a nona parte, 3 quilos e uma fração incalculável, levará para casa 4 quilos! Todos sairão ganhando!
_ Amigos! Permitam-me acrescentar à mala com 35 quilos de pó, este outro pacote de um quilo que guardo aqui no cofre deste hotel. Com isso passamos a ter 36 quilos. Você, caro Poirot, que iria receber a metade de 35, 17 quilos e meio, passará a receber 18 quilos. Óbvio que não irá se queixar! Você, camarada Rudolf, iria receber um terço de 35, 11 quilos e seiscentos gramas aproximadamente, receberá exatos 12 quilos! Parabéns! E você, caro bambino, que levaria a nona parte, 3 quilos e uma fração incalculável, levará para casa 4 quilos! Todos sairão ganhando!
E
assim fazendo, Chico Buarque entregou aos traficantes os pacotes de um quilo de
pó. 18 para um, 12 para outro e 4 para aqueloutro. Com um total de 34 pacotes
entregues, sobraram 2 pacotes dos 36 originais. Chico apanhou os dois,
guardou-os no cofre do hotel com seu velho conhecido, o gerente Nicholas Camus,
e se despediu com mesuras e salamaleques do atônito sargento do tráfico,
admirado da inteligência e sagacidade ladina do famoso malandro petista da
música popular brasileira!
0 comentários :
Postar um comentário