sexta-feira, 22 de março de 2019

EXCERTO DO CONTO "O ALPINISTA", plagiado do Paul Auster




CORPOS DE ALPINISTAS MORTOS (Matéria da BBC-Londres)

FRAGMENTO PARA SER LIDO JUNTO A MATÉRIA JORNALÍSTICA AQUI LINKADA SOBRE CADÁVERES DE ALPINISTAS.
A VIDA IMITA A ARTE, NA MORTE, E A NATUREZA, NA VIDA!

Leiam o excerto de um conto de minha autoria O ALPINISTA (o link para o texto completo no final deste comentário) e, em seguida, compare com o conteúdo dessa notícia e vejam como a natureza e a arte se imbricam e saltitam de mãos dadas!

--- Não se sabe a época nem a nacionalidade das personagens envolvidas. Os nomes sugerem se tratar de europeus. Há um alpinista em intensos preparativos visando conquistar o topo de um montanha no Himalaia. Após se despedir com lágrimas efusivas do filho recém-nascido e da esposa aflita, ele parte sozinho em busca da glória em conquistar o pico até então inatingível. Há uma atmosfera épica na sua luta com a montanha, há o vento gelado soprando todas as noites como um uivo assassino, a ameaça das avalanches e os limites do corpo sendo ultrapassados por uma vontade obstinada. Próximo do topo, porém, o nosso herói é vencido por uma avalanche aterradora que desaba sobre ele com um estrondo ensurdecedor. O alpinista morre soterrado sob uma insana montanha de gelo e o seu corpo não será jamais encontrado. Passam-se vinte e cinco anos. O filho do alpinista tem agora a mesma idade do pai quando este faleceu e , além do semblante e do nome, havia herdado do pai o mesmo fascínio pelas montanhas tornando-se também um alpinista. Escalou diversas montanhas no mundo inteiro mas o seu recalcitrante objetivo era o pico no Himalaia que vencera o seu pai e que continuava imbatível como um celestial e imaculado véu de neve. Uma noite ele sonhou com o vulto do seu pai escalando a montanha escura enquanto lá no alto o pico resplandecia orgulhoso aos últimos raios de sol. Decidiu que a hora havia chegado e partiu para o grande desafio. A escalada começa com os mesmos percalços e visões sublimes experimentadas por seu pai. Já próximo do cimo, o alpinista sofre um acidente e cai em uma discreta fenda entre as pedras ali ficando gravemente ferido, sem forças para continuar e sem pensar um momento sequer em recuar para o acampamento montado na base da montanha. O tamanho da sua obstinação revelou-se maior que o desafio. Ele estava decidido a morrer ali soterrado a se dar por vencido.
_ Ele não poderia recuar e tentar outro dia?- Perguntou-lhe Flávia.
_ Era um dia muito significativo para ele, era a data do nascimento e da morte do seu pai; além do mais havia outros alpinistas a caminho e ele temia que outro vencedor roubasse o mérito da sua façanha. O frio começa a penetrar em seu corpo; em sua consciência congelada desvanecia a chama da vontade e a sombra da morte crescia sob o sol que declinava. Ao escavar a neve em busca de pedras onde haveria ainda um pouco de calor, ele viu um corpo humano em roupas de alpinista congelado dentro de um imenso bloco de gelo! Era o corpo do seu pai que ali havia caído há vinte e cinco anos atrás e conservado graças ao gelo eterno do Himalaia. Uma onda de calor percorreu o corpo trêmulo do jovem alpinista cujo grito de pavor retumbou amplificado nos palácios de gelo da imponente cordilheira. Seus músculos retomaram o vigor perdido na queda e ele volta a escalar o pico com uma agilidade que ele próprio desconhecia. Ao chegar ao topo nunca antes pisado por um ser humano ele encontra-se exausto e bêbado de emoção. O vento gelado cristaliza suas lágrimas e ele finca a bandeira com o brasão da família que estala sob o vento como um frenesi de aplausos. Abaixo dos seus pés a luz do sol e as trevas travam um duelo alciônico sobre a curvatura da terra e um êxtase nunca antes experenciado preenche de glória o menor dos seus passos. Ele não tem tempo para descansar. É preciso descer antes que escureça e voltar no outro dia para resgatar o corpo do seu pai. No acampamento ele quase não consegue dormir e quando o sono vencia a excitação ele sonhava com o seu pai em cumprimentos efusivos pela vitória na montanha. O sonho era tão vívido que ele acordava e andava sobre a neve esperando encontrá-lo na retinta escuridão. No dia seguinte e nos próximos ele vasculhou cada centímetro da fenda sem encontrar nenhum vestígio do corpo de seu pai. Até as últimas linhas desta sublime história não sabemos se o gelo moveu-se escondendo o cadáver, se tudo não passou de um caprichoso efeito ótico, comum em lugares rarefeitos, refletindo em um espelho de gelo a sua própria imagem ou se o espírito do seu pai lhe apareceu em uma fantasmagórica e providencial alucinação.

LINK PARA O CONTO COMPLETO
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