segunda-feira, 30 de julho de 2018

ACORDA PRA EJACULAR - Memórias de Um Cafetão Nos Puteiros do Suoeste!


    

    Havia na minha cidade da infância tipos memoráveis. 
Todas os têm. Entre eles, brilhava a estrela sombria de Geraldino Charlos, um filho de fazendeiros abastados que nada queria da vida além de jogar futebol e fumar maconha. Na época, década de setenta, aos olhos de uma criança curiosa, aquilo era um espanto! Aos domingos, após seu time golear algum time de uma cidade vizinha, no estádio municipal, o ouvíamos comentar com profunda modéstia sobre sua impecável atuação e gols cinematográficos:
_ Vou jogar melhor, prometo a vocês! Vou parar de fumar maconha e serei escalado para jogar na Seleção Brasileira!
Mas isso nunca acontecera. O vício aumentou e ele acabou sendo morto por um traficante, coisa que contarei em outra narrativa. Nesta aqui, basta-me pinçar outra de suas pérolas idiossincráticas: várias vezes a polícia o levara preso e com uma truculência absurda se comparada com os mimos familiares com que ele fora criado (quatro babás vasculhando a casa inteira com raquetes de matar pernilongos para que nenhum ousasse picar o filho do lorde!). Destas prisões de violência recrudescente e escalar, ficou-lhe um trauma que ele soube muito bem fazer uso. Casado e sofrendo de ejaculação precoce, Geraldino Charlos contava com humor, nas mesas de sinuca, que fazia sexo sempre imaginando a chegada súbita dos meganhas do delegado Inhozinho, ou o próprio, a violência encarnada! Este exercício de imaginação transcendental, esse esquematismo na forma igual ao dos românticos alemães e, no conteúdo, ao dos puteiros tropicais, retardava lhe o prazer, segurando a ejaculação por longos e preciosos segundos (ou minutos, a depender da quantidade de policiais que ele conseguia visualizar com seus neurônios chumbados de bagulho), para depois esguichar feito mangueira de jardim dentro da infeliz e, na cena imaginária, no rosto dos meganhas, feito balas líquidas de Giuliano Gema que ele via nos faroestes do cinema local! Posso dizer se existem traumas hilários, que fiquei traumatizado de tanto rir desse burlesco artifício e o contei muitas vezes sempre que me ameaçava a falta de assunto e pilhérias nos bares da vida. De tanto contá-lo, ontem me ocorreu ter um sonho provavelmente em Geraldino Charlos inspirado. Estava eu com uma antiga namorada e com ela me dirigi a um motel, banhados em sentimentos e circunstâncias oníricas que não cabem nesta página. Exatamente quando, já nus sobre a cama, começávamos os lundus de Vênus e Eros, o local foi cercado por luzes e sirenes estridentes! Era a polícia à procura de um perigoso bandido, com ordens de vasculhar todos os quartos. A porta foi arrombada e uma malta de policiais no estilo texano se espalhou pelas paredes do nosso ninho. Pulei da cama nu, com um órgão sexual ereto e gigantesco (talvez sonhando em compensar o real tamanho do meu amendoim) e soltei o verbo sobre eles. Pedi respeito, ameacei chamar a televisão para ver meu cacete contrariado e processar todo mundo! Havia duas policiais femininas que não conseguiam disfarçar o constrangimento de ver uma cena daquelas. Minha namorada, envolta em um lençol semitransparente, choramingava e pedia calma. Consegui ver o rosto de uma das policiais sob os imensos e escuros óculos! Era a minha professora Janete! Ela ainda tentou conciliar e salvar a cena:
_ Pare com isso, Cassiano! Cubra-se! Você está nos fazendo todos passar por esta vergonha desnecessária!
_ Desnecessária? – Minha ira tomou proporções medonhas. Marte expulsou Eros e Vênus da alcova – Vocês fazem ideia de quanto tempo espero por isso? De como é difícil pra eu conseguir uma mulher que se deite comigo? De quantos comprimidos eu preciso tomar para ter uma ereção destas?
Misto de exibido e revoltado, eu balançava na frente de todos a monstruosa linguiça mais poderosa do que todas as armas da Swat! Era como se, em mim, a potência sexual de Geraldino Charlos, refreada pela invocação imaginária da polícia, se transmutasse em uma explosão contra essa mesma polícia então supostamente real no sonho que eu sonhava (se algum psicanalista freudiano quiser se masturbar com esse apontamento, fique à vontade!).
_ OK! Sr. Cassiano! Vamos esperar lá fora que o Senhor termine seu romance para darmos o bascolejo necessário!
Ainda tive tempo de dar uma gozada nos puliça arrematando:
_ ESPEREM SENTADO! VAI DEMORAR! É MEIA HORA DE NHECO-NHECO, UMA HORA E MEIA DE CALAMENGAU E DUAS HORAS DE BOGOIÓ!
A face da minha professora-policial contendo o riso me encheu de vaidade e acordei para relembrar, memorizar e escrever a cena, deixando lá no motel do sonho, minha pobre namorada nua e solitária a me esperar enquanto eu aqui me derreto em ejacular palavras negras sobre uma folha de vagina iluminada, como um negativo de uma foda ao contrário!
Pronto! Ejaculei tudo. Agora se limpem e vão ler alguma coisa que preste! Seu dinheiro tá no bolso da calça! Romântico era o Lulu Santos! E deu no que deu!
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No meu último ano em Salvador-Ba, morei em um pequeno palacete no Jardim Apipema, entre a Barra e Ondina. Era casa de uma distinta senhora que alugava alguns quartos para rapazes de fino trato (no meu caso, finíssimo!). Meu primo Alcides Santana e o empresário Ronaldo Bulhões, da ZAB produtos de Limpeza chegaram a conhecer o lugar, pois me deram carona certa feita, quando viajamos juntos. Chegaram a conhecer a senhora em questão, aqui chamada ficticiamente de Rizoleta, pois presentearam ela com um kit de limpeza da ZAB quando saltei em casa. Certa noite, ouvi gemidos altos vindos do quarto da minha locatária. Rizoleta, gostava de seduzir seus inquilinos e lhes cobrar algum aluguel atrasado em forma de carimbos labiais e leite quente nos quartos! Não demorou muito para eu ficar lhe devendo também alguns aluguéis e ouvir dela, na cozinha, uma proposta insidiosa! Eu já queria comê-la mesmo... Juntou-se a sede com a vontade de beber! Subimos para o seu quarto já nos agarrando nos degraus da escada. Como diria o menestrel conquistense Elomar Figueiras, em sua eloquência castiça e armorial: "o pau comeu a noite toda"! " Lascou-se o cabo da manivela"! Pela manhã, saciado e perdoado em meus aluguéis, transmutado de mangangão em rufião - ou o contrário (estou no momento sem meu dicionário de putaria) -, disse para Risoleta de modo bem categórico, enquanto limpava o suco de laranja por ela me servido no nosso ninho fudistérico: 
_ Querida! Desça e avise aos outros três rapazes, seus inquilinos, para fazerem as malas e se mudarem em uma semana! Não quero machos morando aqui em nosso lar! 
Ela ensaiou certa resistência, sem muito sucesso. Devia saber que seus hábitos de mariposa imobiliária me eram assaz conhecidos, assim como sabia bem a diferença entre rapazes de fino trato para um de "finíssimo", embora o sustentáculo da minha autoridade usado por toda a noite nada tivesse de finíssimo (de curtíssimo talvez!). 
_ E do que iremos viver? 
_ Alugue para moças! São mais adimplentes e melhor para a sua reputação! 
A partir daquele dia começou um curto e extenuante período de sucubações e incubações que quase me levaram ao hospital com anemia profunda, e cujos detalhes irei descrever em breve em uma autobiografia, quando o escândalo voltar a ser moda. De profícuo fica o ensinamento do grande e satírico poeta romano Juvenal, que dizia: Em épocas de crise financeira, nada melhor do que uma vagina velha! Oh! Quanta sabedoria se perdeu nos puteiros escabrosos da Roma imperial!
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