Casa
 em Itambé-Ba construída por meu Avô José Santos Silva, neto de 
Henriqueta Prates e Primogênito de 12 irmãos mais novos. Tão logo aí se 
estabeleceu, meus avós adotaram uma linda menina, Arabela, que todos 
chamavam de Belinha ou Belita. Moça feita, se apaixonou por Olivério 
Maciel, um comerciante de gado da região, mas meu avô não aceitou o 
romance, pois ela estava prometida para 
Chico Ternura, próspero fazendeiro local. Desgostoso, Olivério se desfez
 do que tinha na cidade e resolveu ir embora para bem longe, viajando 
após dolorosa despedida nos braços de Belinha, para as Alagoas, terra de
 seus ancestrais. Quando já estava em Penedos, logo após cruzar a balsa 
no São Francisco e se hospedar no único hotel da cidade, recebeu um 
chamado na portaria, desceu e lá encontrou Belinha, de mala e cuia na 
mão, que havia fugido da casa de meus avós e viera no rastro de 
Olivério, seu amor sem o qual ela não queria mais viver. quase morreu de
 emoção. Hospedou-a em outro quarto, respeitosamente, e no outro dia, 
rumo à fazenda dos Maciel, já planejaram o casamento. A festa foi 
inesquecível e durou uma semana. Os noivos pareciam duas estrelas 
radiantes. Construíram uma pequena e bela casa em uma suave colina nas 
terras da família dele e ali viveram um grande amor. Após oito anos 
vivendo um para o outro e labutando duro na fazenda, Belinha começou a 
sentir saudades de casa, falava sempre e cada vez mais dos meus avós - 
que para ela era os seus únicos pais, pois fora adotada ainda nos panos -
 e deu para entristecer nas ave-marias pungentes do sertão! Olivério não
 a queria triste e decidiu trazê-la até Itambé, mesmo temendo os riscos,
 mas confiando em Deus e no perdão dos pais de Belinha. Viajaram desta 
vez em um carro fretado, uma rural aerowillis, de cor laranja, ou talvez
 tenha sido a lama das estradas chuvosas a responsável por essa cor na 
minha memória. Chegaram cansados, se hospedaram em uma pequena 
hospedaria conhecida pelo nome de Hotel de Maria Gorda, e planejaram ir 
no outro dia bem cedo, de surpresa, visitar os meus avós. Belinha ficou 
no Hotel enquanto Olivério se aproximou e tocou a companhia. Minha avó 
lhe atendeu e prontamente lho reconheceu. ele se ajoelhou e pediu mil 
desculpas! Contou que Belinha era hoje sua esposa, muito feliz e que 
morria de saudades dos pais queridos, e que estava no hotel esperando o 
perdão e a permissão de vir visitá-los. Minha avó o tomou como um louco e
 pediu a um servente da casa que o pusesse para fora! Antes de sair, 
percebendo que Olivério não estava completamente biruta, disse-lhe a 
mais pura e dolorosa verdade: tão logo ele viajara de Itambé, na mesma 
noite, desgostosa da vida, Belinha tentara o suicídio e desde então 
vivia inconsciente, eternamente desfalecida sobre uma cama, vegetando e 
sem de nada mais ter qualquer consciência! Olivério voltou para o Hotel 
sem saber o que dizer para Belinha, como se o chão tivesse se aberto e 
ele caído em um mundo de pesadelo e alucinação. Sabia - não poderia 
imaginar outra coisa - que a minha avó estava zombando e fazendo ele de 
palhaço. Iria apanhar a esposa e voltar de lá mesmo, do hotel para às 
Alagoas. Mas Belinha parecia ter pressentido algo e já estava o 
esperando na porta, linda, com uma flor de laranjeira nos cabelos 
castanhos e um brilho celestial nos olhos de mesma cor. Caminhou 
resoluta, passando por ele como se não o conhecesse em direção à casa 
dos seus pais. A casa dos meus avós também estava experimentando uma 
imensa transformação com gritos de alegria, janelas abertas e 
corre-corre de vizinhos. Tão logo Olivério Maciel havia se afastado, 
Belinha havia acordado do coma causado pelo veneno, coma de exatos oito 
anos e andava pela casa prontamente restabelecida, falando com todos e 
beijando os pais, irmão e sobrinhos ( me lembro vagamente, ainda no 
berço, de uma mão iluminada a acariciar meu rosto - ou inventei depois 
essa lembrança). Saiu pela porta em direção à rua em direção à outra 
Belinha que já se aproximava e que parou, em transe, em frente de uma 
casa vizinha, de onde essa foto foi batida, e que hoje é a casa da 
Família do saudoso Paulo Achy. As duas andaram em passos etéreos uma em 
direção da outra, sorrindo, se abraçaram. Em um segundo mágico e por 
obra de Deus Maravilhoso, em plena luz da manhã, as duas Belinhas se 
fundiram em uma só: a mesma e amada tia Belinha que ainda vive entre nós
 ao lado do seu marido Olivério Maciel, aqui em Vitória da Conquista, e 
onde eu sempre vou tomar café com bolo, pedir a bênção e ouvir deles 
essa que é, para mim, a mais encantada e linda história de amor do 
Sudoeste baiano. Só lamento que eu não saiba contar com o esplendor de 
quem a presenciou! 
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