sexta-feira, 7 de julho de 2023

MÁQUINAS DESEJANTES DA VELHA GERAÇÃO!



Schopenhauer , como todo romântico, acreditava na sabedoria da natureza e dos instintos humanos, que eram, em nós, a natureza agindo à revelia da razão transcendental (Mais tarde, inspirado em Schopenhauer, mas nunca confessando essa inspiração, Bérgson irá afirmar que há uma franja de instinto na inteligência, assim como uma áurea de inteligência no instinto). No amor, instinto maior do ser humano, segundo o alemão, a natureza em nós busca o equilíbrio, o termo médio que, ao se tornar um critério de verdade e estética entre os gregos, confirma essa sabedoria (os gregos, o mais natural dos povos). Essa busca pelo equilíbrio faz com que os traços opostos se atraiam: o homem alto se afeta pelas baixinhas, o gordo, pela magricela, os ruivos nórdicos, pelas negras e orientais, etc. A harmonia e a têmpera dos descendentes condicionando essa aparente e irracional flecha de cupido. A tese de Dawkins, O Gene Egoísta, pode bem ser lida como desdobramento e, simultaneamente, fundamentação desse argumento Schopenhaueriano.  Algo análogo ocorre na atração entre casais de idades antagônicas. OS homens velhos adoram meninas novas, viçosas, pois o instinto, pressentindo a proximidade do fim, busca procriar em mães que possam gerar e criar por longo tempo os filhos na eventualidade de uma morte iminente do pai. O mesmo não ocorre com as mulheres, daí o uso que fiz do termo “análogo”, pois o instinto materno não delega sua missão. A natureza expectora do macho e a invasiva, da fêmea, talvez venha a explicar esse descompasso. Assim sendo, não é natural mulheres idosas desejarem púberes rapazes. Se os desejam, já não é mais uma questão de natureza e é sobre esse desejo, sim, não ao desejo masculino, que deve ser cobrado as injunções morais típicas da nossa cultura.

Esquecemos como esse tema do instinto foi determinante nas proto-ciências do século dezenove e como serviu de amálgama para, por exemplo, a Famosa teoria do inconsciente freudiano. Vemos, na sua insólita teoria da sexualidade infantil, o uso que Freud faz do instinto animal em nós. Na época dele vigorava uma brilhante descoberta das ciências naturais, assim formulada: “A Ontogênese repete a Filogênese”, ou seja, o indivíduo, no útero materno, repete as fases embrionárias do plasma germinativo ao longo da sua evolução sobre a terra. Assim como os primeiros seres vivos foram seres unicelulares, depois colônias, moluscos, peixes, répteis e, finalmente, mamíferos, assim também, o feto começa sendo uma célula, depois um aglomerado, depois um filamento de órgãos rudimentares, um girino, um peixe, um réptil, até se tornar um feto propriamente mamífero e humano (Veremos, de outra feita, como o nosso cérebro também permite uma leitura destas, com seu cerebelo e suas camadas dobradas uma sobre a outra, em um processo de acumulação e sobreposição adaptativa). A tese original e bizarra do Freud é que nascemos mamíferos, mas a nossa sexualidade, ao se desenvolver posteriormente ao nascimento, como um pacote de instintos que vem dobrado e se abre com os anos, vai também repetir essa história teratológica. Na sua primeira fase, a sexualidade infantil é oral: somos como os peixes que recolhem os ovos fertilizados com a boca e gestam seus filhos lá dentro, como se um útero provisório fosse, “... a reprodução sexual não passando de uma digestão de nível mais elevado” (Freud, Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, 1905). Em seguida, a sexualidade infantil evolui para uma fase anal, a fase dos répteis e pássaros que possuem uma sexualidade cloacal, ânus pressionado contra ânus, até sua formatação final na cópula de pênis e vagina que parece ter começado, na história natural, entre os crocodilos! Com o passar do tempo, as teorias do instinto e seus desdobramentos foram perdendo os elementos de uma fabula mítica, que também era a sua estrutura racional subjacente, e só restou ao homem atual a hipótese da sexualidade como um afeto, uma energia, uma máquina, uma panóplia de sinônimos abstrusos sem nenhuma racionalidade subjacente, conforme lemos nos livros de Gilles Deleuze como um bestiário repugnante e que tanto mal causou aos pensadores da minha geração.

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