segunda-feira, 11 de abril de 2022

DA INVEJA!

  


É lugar comum, hoje em dia, os sociólogos e cronistas apontarem o egoísmo do ser humano, o individualismo a cada dia mais consolidado, como o estilo de vida dominante na origem de todos os males sociais. Tolice das mais cabeludas. Há muito se sabe - penso nas comoventes cavilações de Jean Jacques Rousseau - que o egoísmo pode, sim, ser uma paixão propulsora da sociabilidade, desde que suas componentes derivadas: impulsos, violências, astúcias, obstinações e sectarismo sejam integradas em uma função expansiva e gregária, afinal, poderia Jean Jacques ter dito: somos todos egoístas! Oh! Como somos próximos e iguais! Talvez o termo "paixões parciais", cunhado por David Hume, cuja obra o Rousseau muito xeretava, seja mais adequado para falar dessa primeiridade do campo  social. Um gângster mata violentamente duas lindas famílias durante um assalto, um monstro sem piedade, mas é capaz de torrar todo o fruto da sua pilhagem em uma festa de quinze anos da sua filha amada! Pura parcialidade! É justamente essa parcialidade, e não o egoísmo judicioso, que pode ser expandido em laços de sociabilidade, por exemplo: Um construtor desiste de erguer uma imensa mansarda com dezenas de quartos por descobrir que o sonho imobiliário de todos daquela cidade é morar só, sem compartilhar nada com ninguém. Decide então construir no lugar da mansarda, um prédio de apartamentos quarto-e-sala. Um sucesso de vendas. A parcialidade de nossas paixões primárias, a causa! Ousaria dizer, em tão breve arrazoado, que a grande doença de nossa civilização moderna não seria o egoísmo mas sim outro sentimento, lhe aparentado: a inveja! A inveja é a face negativa que interdita a conectividade entre nossas parcialidades comuns. Ela é o diferencial irredutível, exterior aos nossos desejos e nascida na mente que compara e segrega, por exemplo, nesse mesmo prédio de apartamentos uma campanha recolhe doações para construir uma piscina comunitária. Todos começam a se cotizar. A moradora do 6º andar é uma loira deslumbrante de corpo escultural; mas a moradora do 404, obesa e atarraxada, morre de invejas dessa vizinha e decide não colaborar, impedindo assim que a piscina seja construída. Ela se privou de um prazer, sacrificou um desejo, para que outros também não o tivessem! Se voces refletirem, verão como é comum esse comportamento em nosso campo social, em todas as esferas da vida, familiar, profissional, cultural, recreativa...Quantos projetos e sonhos abortados por seres reativos e invejosos que se furtam em participar, em desviar o olhar, privando-se de algo para que outros não o usufruam em uma proporção maior e mais adequada! O investimento do catecismo na condenação da inveja, visto ultimamente como uma propedêutica antiquada da igreja, deveria ser repensado e revalorizado. ensinem a seus filhos como é horrorosa e malsã a inveja! Vigiai! 

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