Os gregos eram obcecados por enigmas, a ponto de tratar os sábios de cada cidade (chamados de sophoi) como uma divindade, por eles serem capazes de resolvê-los (vide Édipo sendo coroado rei por resolver o enigma da esfinge), mas também exigir que este mesmo sábio se matasse diante de um enigma não resolvido. Homero era um destes sábios e, um dia, passeando pela praia, encontrou um grupo de pescadores sentados ao lado de um barco. Homero os saudou e deu-lhe na telha perguntar aos pescadores como havia sido a pescaria. Ouviu de um deles uma charada terrível que veio a ser a causa da sua morte. O pescador lhe respondeu:
_ O que pegamos, jogamos fora; o que não pegamos, trazemos conosco!
Homero levou três dias para resolver a charada e, não conseguindo, seguiu a tradição e se matou com uma taça de cicuta. Teve direito de saber a resposta enquanto o veneno lentamente o matava. Naquele dia os pescadores não haviam ido pescar, por causa do mau tempo. Ficaram na praia e, ociosos, passaram o dia catando piolhos uns dos outros. Os piolhos que pegaram, jogaram fora, os que não conseguiram pegar, traziam consigo! O filósofo e dramaturgo Sêneca, na sua monstruosa peça Tiestes, sobre o crime dantesco do Rei Atreu que mata os sobrinhos, filhos do seu irmão Tiestes e prepara um banquete com os cadáveres servindo-os ao pai, parece conhecer essa passagem da morte de Homero e usa um pastiche desse enigma para dar um sinistro floreio ao desfecho do drama. Após devorar seus filhos sem saber, Tiestes passa mal e pede ao irmão para ver os seus meninos, pressentindo algo medonho sob o céu cujas estrelas desapareceram com nojo da cena. Ao ser informado de que eles foram assassinados pelo tio, ao ver as mãos e a pele do rosto dos seus filhos amados, ainda sem saber que acabara de devorá-los, e após toda a cena de desespero, Tiestes suplica para ter acesso aos corpos, quer dar aos seus filhos as exéquias necessárias e como pai, gozar o consolo miserável dos ritos funerários. Do alto do seu prazer obsceno, do satânico orgasmo da vingança consumada, Atreu lhe responde com ares enigmáticos:
_ O cadáver que você encontrar, é aquilo que você jogou fora (os ossos do banquete); o que você não encontrar é o que você já possui!
Tentei verter essa frase para o latim, mas a náusea não permitiu.
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No final dos Evangelhos, nas aparições de Jesus aos seus discípulos, após a ressurreição, há uma cena na praia da Galiléia, onde o Senhor aparece perto de uma fogueira, assando peixes. Os apóstolos Simão Pedro, Tiago, João e outros se aproximam sem o reconhecer. O Senhor pede que Pedro jogue os peixes milagrosamente pescados na fogueira, ceia com eles e ministra-lhes ensinamentos e instruções. Esta é, verdadeiramente, a Última Ceia do Senhor e não a que foi retratada por Da Vinci e apregoada por dois milênios na Igreja como sendo a última, na sexta-feira da Paixão. Incrível como esse erro perdurou por tanto tempo. Estou hoje informando ao mundo que corrijam esse pequeno deslize. Talvez isso não tenha importância nenhuma para a Teologia, para a Fé, mas o gostinho de dar um corretivo em um gênio como o Da Vinci, admoestá-lo, tipo: "Aí, Leonardo! Prestenção, Brô! Vumbora ler com rigor!!!" Não tem Credicard que pague!
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