Conheci vagamente um monge budista nos meus anos de alfândega, no porto de Salvador-Ba. Ele era então um contramestre, um velho marinheiro chinês desertor do mosteiro. Minha função era passar a noite a bordo de um navio mercante onde havia fortes suspeitas de contrabando. Sobre o mar ondulante a lua apascentava milhões de reflexos dourados. Meu crônico mal de amor, contudo, impedia-me a contemplação de tão doce espetáculo pois, na intermitência das ondas, a todo instante emergia das águas o rosto gigante da minha amada e esta alucinação convidava-me a um mergulho sem redenção. Sentei-me então, de costas para o mar, ao lado do velho marinheiro. Com a cumplicidade que existe entre homens desafortunados aceitei um trago do seu cachimbo sem que uma palavra fosse trocada. Em breve ele contaria-me cenas da sua infância nas montanhas Wu-Mei, no vale conhecido como “Estrada de Seda”. Li Ping, seu nome, trabalhava quando criança nos bosques guiando viajantes por atalhos velozes e desconhecidos dos assaltantes. Ele e dois outros meninos moravam com o monge Zao Zao no templo do dragão de jade. Zao Zao zelava pelo fogo sagrado que ardia na pira no centro do pátio. Ali o garoto acendia a sua tocha e descia entre o bambual até a estrada à espera de algum viajante assustado. Muitas vezes durante a noite a tocha se apagava e Li Ping voltava desolado até o templo guiado somente pelas estrelas longínquas sobre o bambual. Acendia outra vez a tocha e corria temendo pelo viajante abandonado, arriscando mais ainda o fogo que o iluminava. Zao Zao não era indiferente a todo esse transtorno e um dia chamou o futuro marinheiro aos aposentos do templo. Havia pensado muito naquele caso e havia inventado para Li Ping um artifício inspirado pelos deuses do fogo. Com esse pequeno artifício dentro da bolsa Li ping estaria seguro de nunca lhe faltar a chama que o guiava no bosque de caminhos bifurcados. Com emoção na voz e nos olhos o marinheiro disse-me ter ainda consigo o presente do seu mestre. Por detrás da sua retina parecia bailar as cenas da infância como os reflexos da lua sobre a água. Tive então uma iluminação e comentei-lhe no espanhol rudimentar que comungávamos:
- Entendi tudo, meu amigo! O fogo sagrado era na verdade os ensinamentos do seu mestre e você guiava os homens perdidos na estrada da vida transmitindo-lhes as palavras inflamadas daquele sábio. Às vezes, porém, esquecia algum detalhe e voltava ao mestre - a chama ainda não ateada nas verdes achas da sua alma. O artifício por ele inventado certamente fora um livro, um pequeno manual com as sentenças preclaras a iluminar os paladinos da verdade!
Eu também estava inflamado. Conteve-me a expressão esquisita no rosto do velho marinheiro. Parecia não ter ouvido-me e fitava o cais com olhos perdidos em terras antigas e distantes que são as formas enfáticas do tempo e do espaço. Suas mãos abriram um embrulho retirado do bolso no casaco. Dentro dele havia uma pequena caixa de fósforos que ainda guardava, quem sabe, o calor das mãos que a talhara!
* TRADUÇÃO PARA O FRANCÊS
J'ai aussi rencontré un moine bouddhiste dans mes
années de douane au port de Salvador. Il était alors un contremaître,
un transfuge vieux marin chinois du monastère. Mon travail consistait à passer
la nuit à bord d'un navire marchand où il y avait une forte suspicion de la
contrebande. La mer vallonné, la lune augumentait la paix et un million de
reflects d’or. Mes malades chroniques de l'amour, cependant, m'ont empêché de
la contemplation si doux de la vue à cause des vagues sans arret, émergeant des
eaux le visage géant de mon bien-aimé et cette hallucination m'a invité à une
plongée sans rédemption. Puis
je me suis assis à côté de l'ancien matelot. Avec la complicité qui existe entre
les hommes malheureux j’ai accepté un fumme de sa pipe, sans un mot entre nous
échangé. Bientôt, il me racontait des scènes de son enfance dans les montagnes
Wu-Mei, la vallée connue sous le nom "Route de la Soie". Li
Ping, son nom, a travaillé comme un enfant dans les bois des directeurs et
voyageurs pour raccourcis inconnues, rapides des assaillants. Lui et deux
autres enfants vivaient avec le moine dans le temple du dragon de jade Zao Zao.
Zao Zao surveillait le feu sacré qui blessait dans le centre de la cour. Le
garçon a allumé sa torche et vers le bas entre obambual la route d'attente pour
certains voyageurs peur. Beaucoup nuit vezesdurante la torche a été éteinte et
Li Ping a retourné à la désolation du temple uniquement
guidé par les étoiles lointaines sur le bosquet de bambous. La torche allumé à nouveau
et il a couru craignant que le voyageur abandonné, risquant en outre la fogoque
l'éclairé. Zao Zao
n'était pas indifférent à tout ce mal, et une fois appelé l'avenir marin a la
câmera du temple. On a beaucoup pensé à cette affaire et avait inventé un
dispositif de Liping inspiré par les dieux du feu. Avec ce petit
truc dans le sac serait sûre Ping Li ne manquerez plus jamais la flamme de
cette forêt qui guidait les chemins fourchus. Avec émotion dans sa voix et les
yeux du marinil m'a dit vous que j’ai aurai et lui aussi toujours le don de son
maître. Derrière la
rétine semblaient danser des scènes de l'enfance comme les reflets de la lune
sur l'eau. J'ai ensuite eu une lumière et je lui ai dit en
espagnol dans une communion rudimentaire:
- J'ai tout
compris, mon ami! Le feu sacré était effectivement les enseignements de son
maître et que vous avez conduit les hommes ont perdu sur la route de la vie en
leur donnant les paroles de ce sage enflammé. Parfois, cependant, oublié
quelques détails, et renvoyés au maître - la flamme allumée sur le vert ne
pense pas que de son âme. Le dispositif qu'il a inventé certainement un livre, une brochure avec
des phrases preclaras pour éclairer les champions de la vérité! - J'ai
également été enflammée. Figurant en moi l'expression étrange
sur son visage le vieux marin. Il semblait avoir entendu parler de moi et regarda le quai, les yeux
perdus dans des contrées lointaines et des formes anciennes qui sont emphatique
espace et de temps. Dans ses mains ouvertes il a retiree une parcelle retirée
de la poche de manteau. A l'intérieur était une petite boîte d'allumettes qu'il
avait encore, peut-être, la chaleur des mains qui les sculptés.
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Sabemos, graças ao filósofo Espinosa, que os afetos são pertinentes aos corpos e que, principalmente, são exteriores a eles, isto é, relacionais. Todo afeto sendo afeto de um corpo sobre outro que lhe é, por definição, distinto. Calhou-me hoje pensar em um tipo muito singular de afeto. O afeto por si mesmo, cujo exemplo mais prosaico e fácil de experimentar seria a autoestima. Vamos mais longe e pensemos o amor que temos pela criança que fomos, pelo idoso que seremos. Quando perseguimos um sonho apenas por ele ter embalado nossa dourada juventude, quando nos emocionamos com a inocência da nossa infância, quando nos prevenimos para garantir o conforto e os cuidados necessários na velhice... Em todas essas atitudes, demonstramos um sentimento quase espiritual pelo nosso próprio eu. Diferente da autoestima - quando me afeto pelo indivíduo que sou, bien entendu, esse corpo que tenho agora -, nos outros casos, eu me afeto por algo que não existe mais ( a criança que eu fui) ou que não existe ainda (o idoso que serei). Não se trata, portanto de afeto entre corpos, mas entre meu corpo e outra coisa incorporal que subsume a totalidade da minha vida para além do tempo dos corpos, o presente. Essa outra coisa é a minha alma. Para usar uma expressão cara ao Fernando Pessoa, “Alma Profunda de Origem Divina”! É a minha alma que se comove com os sonhos do passado e que se inquieta com os males do futuro! Tais afetos incorporais, aos quais um dia pretendo dedicar um estudo meticuloso, é a prova irrefutável de que temos sim, uma alma substancial e eterna! Que essa compreensão dela seja para vocês como um “cogito cassiânico” e que uma nova filosofia espiritual possa ser construída a partir dessa pedra fundamental.
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