Parece
 hoje um lugar comum no meio científico a convicção de que os animais 
não possuem linguagem! Muito contribuiu para isso o trabalho de 
linguistas (Oswald Ducrot é um deles), ao definir a linguagem como a 
capacidade de um ser vivo interpretar um sinal emitido por um semelhante
 e o retransmitir. Em outras palavras, a linguagem seria uma função que 
iria do dito ao dito, e não apenas do 
visto ao dito. O exemplo de Ducrot é antológico e se reporta ao estudo 
das abelhas. Uma abelha batedeira, ao encontrar um campo florido, 
imediatamente volta para a colmeia a avisar as outras da sua descoberta.
 Ao chegar no seu destino, zumbe e convoca as outras abelhas para fora, 
em seguida, realiza uma dança circular cujo ângulo dos círculos em 
relação à posição do sol irá indicar o ângulo em relação à colméia onde a
 fonte de alimento se encontra! Acontece porém, deste sinal não ser 
passível de retransmissão, isto é, se uma abelha chegar atrasada na 
colméia e perder a cena da dança, uma outra abelha que viu não pode 
repetir a dança e repassar  a retardatária sobre a localização das 
flores! Existe apenas o vetor VISTO - DITO, mas não o DITO - DITO que 
caracteriza a linguagem (apesar do zum zum zum, as abelhas não fazem 
fofoca!). Me parece que essa tese dos linguistas seja bastante 
ultrapassada. Penso ser inumeráveis os exemplos de pensamentos por parte
 dos animais e vou me ater a um, por mim próprio experimentado ao 
conviver com os cães de caça do meu finado pai. entre eles havia um cão 
perdigueiro, de nome Corneta, muito bom também em rastrear lebres. E era
 uma lebre que perseguíamos, com os dois cães batedores guiados por 
Corneta que farejava a lebre desesperada. Em certo momento, a trilha 
adentrou um terreno pedregoso e se dividiu em um trívio entre os blocos 
de pedra nua e elevadas. Corneta então começou a farejar cada uma das 
três opções da trifurcação: avançou pela primeira, alguns metros apenas,
 cheirando a terra para logo voltar ao ponto de origem e entrar na 
segunda opção em busca do rastro perdido. Também não demorou muito aí; 
mas, o curioso, é que, ao avistar Corneta voltando da segunda trilha, um
 dos outros cães, cujo nome esqueço agora, imediatamente se dirigiu para
 a última trilha adotando a posição típica de quem aponta para os outros
 cães e para o caçador a presença da presa: o rabo reto, uma pata 
erguida e o focinho apontado. Imediatamente o terceiro, junto com 
Corneta, entraram em disparada pela última opção e a caçada continuou. 
Este segundo cão, ao ver Corneta retornando de suas olfativas 
perquirições, raciocinou que, se o coelho não estava na primeira nem na 
segunda trilha, logicamente só poderia ter tomado a última trilha. E 
também fora capaz de comunicar aos seus semelhantes a dedução produzida 
ao apontar o novo caminho e ser seguido por eles. Ele raciocinou de 
forma impecavelmente lógica e sendo capaz também de transmitir o 
pensamento, indo do "dito para o dito". Na minha filosofia pessoal, 
acredito com muita convicção que o pensamento seja realmente uma faceta 
da linguagem. O cérebro de nenhum outro animal na terra é capaz de 
funcionar de modo linguístico. O fato desse cão citado no exemplo 
pensar, e de muitos outros casos de pensamento entre animais, me leva a 
crer que o pensamento é algo que esteja muito além de uma simples função
 cerebral, é algo que existe ativamente para além do plano da matéria 
correlata (algo muito parecido com o  "Pensamento" como definido na 
filosofia espinozista, uma outra dimensão tão real como a matéria dos 
nossos corpos). O cérebro serve para realizar fabulosos movimentos e 
operações envolvendo o corpo extraordinário que temos e que exige para 
tal um cérebro também extraordinário, mas pensar é coisa muito distinta!
 É metafísico! 
 
@ Cassiano Ribeiro Santos
@ Cassiano Ribeiro Santos
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
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